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Um bêbado deve ouvir-se duas vezes,
Uma, antes de ser ouvido,
Outra, antes de ter caído;
Um bêbado sem dizer nada tem muito a
dizer,
Abre a boca duas vezes:
Uma para dizer a verdade e outra para
beber,
Enquanto bebe nada diz,
Só em seu copo mete o nariz,
E todos à sua volta bebem,
São todos o espelho do país,
Mas só os bêbados pagam o que devem,
Pagam até o que não bebem,
Pagam o que muitos bebem sem pagar,
Só ao bêbado ninguém paga para se
embebedar;
Paga a conta quando cai,
Quem não paga solta um ai,
Levanta-se o bêbado a cambalear,
Segue por onde o vinho vai,
Entre trambolhões e sem ninguém para o
ajudar,
Lá chega a casa quando a mulher sai,
Sem nada dizer, muito diz sem falar,
E não há chaves que abram o raio daquela
porta!...
A chave está torta,
A fechadura está torta,
E aquela mulher que saiu,
Não parece ser a mesma que a sogra pariu,
Ou a vida está muito torta,
Ou não foi a sua mulher que viu,
Mas, não importa,
Uma porta é uma porta,
As
chaves já antes esta porta abriu,
Só não se lembra daquela horta,
E o rolo da massa sumiu!!!!!!!...
-Que se lixe, fico mesmo aqui,
Já não me lembro do que bebi,
Mas, ao pé desta porta até que se está bem,
A porta de minha casa que nunca vi,
Casa minha e de mais alguém,
Com quem nunca vivi!...
“Alô, Maria...
O meu Manel está à tua porta a
dormir?!!...
E disse ele que ontem não se embebedaria,
Por isso aproveitei para sair com quem
queria,
E passei a noite com o Zé que não parou
de se rir;
A propósito, obrigado pela tua casa, mas
é muito fria,
Vi o meu Manel chegar a tua casa quando
eu saía,
Mas ele não me conheceu quando estava a saír!...”
Um bêbado deve ouvir-se duas vezes antes de beber,
Uma, antes de, por todas as razões, ser fodido,
Outra, antes de alguém, por causa do vinho, o foder!...
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