terça-feira, 5 de março de 2013

Nabos.3 (Nabo que é nabo...)

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Os nabos são muito estimados,
São raízes lisas que votam de cruz,
Basta muita água para serem cultivados,
Já redondinhos são muito apreciados,
Por quem lhes promete muita luz,
Há quem goste deles bem crus,
Mas gostam de ser cozidos,
Cortados,
Fervidos,
Esmagados…
 Por quem os vai comer,
Depois de muito os cozer;
Sempre nabos agradecidos,
Muito fáceis de convencer,
  Sempre desiludidos…
Os nabos,
    Que são nabos!...
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segunda-feira, 4 de março de 2013

Nabos.2 (Nabos Zarelhos)

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...e lá foram os nabos,
A caminho do nabal,
Bravos como diabos,
   Sinais de algum sinal!..

Partiram com grande alarde,
Decididos e sempre prontos,
De peito feito aos confrontos,
Barriguinha cheia e lá pela tarde,
Chegaram quentes como quem arde,
     Entre lume no olho de zarelhos tontos!...

A imaginação quer-se muito bem regada,
Como as abundantes chuvas nos nabais,
Manifestaram-se fotos entre os rurais,
E alguma graça que se manifestava,
Contra a igualdade que não dava,
      O muito do que fora demais!...

E lá se juntaram muitos magotes,
Fortes palavras de nabos fracotes,
Abertos a sorrisos sempre apostos,
Aos criativos lemas bem propostos,
Nas mamas dos descarados decotes;
Com lindas canções sobre impostos,
Desfilaram poemas e muitos motes,
    Regressaram todos bem dispostos!...

...e lá regressaram os nabos,
Ao quente sol do seu nabal,
Macios como ternos diabos,
    Nabos muito nabos por sinal!...
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sexta-feira, 1 de março de 2013

Nabos


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Um nabo já sem terra nos dentes,
Enterrou os olhos no seu pequeno quintal,
Quando outro nabo divulgou pequenas sementes,
Entre as pequenas mentes do seu nabal,
Choveram promessas;
Entrementes,
Na superfície lisa dos crentes,
E submersão das eiras,
Expostas a um sol desigual,
Que aquecia círculos de peneiras,
      Outro sol cozia nabos de Portugal!...

Ninguém viu os ventos,
Nas sementes prescritas,
Nem invernos violentos,
Antes dos frios cinzentos,
     Das primaveras malditas!...

Fizeram-se bonecos de neve,
Para morrerem de frio,
Há um desaparecido no nevoeiro,
Á procura da morte pelo que não deve,
Sem encontrar a cor do dinheiro;
Derretem bonecos e sorrio,
Vejo um desaguar leve,
    Nas lágrimas do pranto…
                                                          E rio…!

Que deus me perdoe!...

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Atacadores


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Depois do sonho que o atacava,
Abeirava-se da velha cama sonolenta,
E deparava-se com o que sempre sonhava;
Ali estavam eles sobre a bota que descansava,
Estendidos no sono de mais uma volta truculenta,
Mal desatados por mais uma noite de tormenta,
     Nas voltas solitárias que na noite o sobressaltava!...

Sentado à beira do abismo de estrito uso pessoal,
De braços atados pelo nó cego da cegueira da sorte,
Contemplava seus pés de um despido branco forte,   
Pendentes de uma crua indiferença quase vegetal,
A crescer no olhar vazio de um pálido vazio mental,
   Já sem as lembranças vivas da vida nem da morte!...

Escolheu vinte dias em que ficou descalço no frio,
Entrou em dezanove abismos e saiu por cada ilhó,
Passou por todos eles como atacador de ponta só,
Até encontrar seu par atacador em igual desvario,
Uniram-se pelas botas num abraço de amorfo nó,
   Fazendo-se ímpar atacador de fatal nó corredio!...

Haurido pelo olho trespassado dos velhos ilhós,
Debruava buracos abertos ao silêncio das dores,
Cegos nós na garganta estrangulavam-lhe a voz,
Como quem ata olhos de solidão de homens sós,
      Ao silêncio de uma bota desatada por atacadores!...

Vinte ilhós e outros tantos longos dias depois,
Puxou tenazmente as pontas dos fortes atacadores,
Cada um apertou sua bota cheia de vidas anteriores,
 …e partiram os dois!...
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