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Um nabo já sem terra nos dentes,
Enterrou os olhos no seu pequeno quintal,
Quando outro nabo divulgou pequenas
sementes,
Entre as pequenas mentes do seu nabal,
Choveram promessas;
Entrementes,
Na superfície lisa dos crentes,
E submersão das eiras,
Expostas a um sol desigual,
Que aquecia círculos de peneiras,
Outro sol cozia nabos de Portugal!...
Ninguém viu os ventos,
Nas sementes prescritas,
Nem invernos violentos,
Antes dos frios cinzentos,
Das primaveras malditas!...
Fizeram-se bonecos de neve,
Para morrerem de frio,
Há um desaparecido no nevoeiro,
Á procura da morte pelo que não deve,
Sem encontrar a cor do dinheiro;
Derretem bonecos e sorrio,
Vejo um desaguar leve,
Nas lágrimas do pranto…
E rio…!
Que deus me perdoe!...
E rio…!
Que deus me perdoe!...
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Uma sátira bem construída, à infeliz situação politica e económica do nosso País. A associação da imagem, por demais caricata, denuncia aqueles que persistem na nossa destruição, bem como a das gerações vindouras.
ResponderEliminarSeja a Poesia também uma forma de luta! Faça o Poeta ouvir a sua voz!
Abraço e bom fim de semana António Pina!
Tão actual. Ser poeta é também dar voz à indignação e usar a palavra como arma de luta; e aqui, ela, foi tão eloquentemente utilizada. Belo poema, meu prezado poeta. Abraço.
ResponderEliminarNum tempo de silêncio, embora de contestação vigente, o poema é a voz da denúncia, da crítica social, a que grita, provoca e convoca uma insurreição coletiva, a que não nega suas origens, sua terra e sua gente, aquela que não se caracterizou em fantasmas ou fantasias, ficção ou sensacionalismo, mas à própria realidade em que seu país se encontra.
ResponderEliminard’Alma nos fala de plantio e de sementes. Fala de dentro, do seu lugar, de Portugal, para escrever ao mundo, não apenas a sua indignação, mas para apontar, e pontuar os responsáveis por uma terra fecunda de ‘nabos’. Com a arte de plantar e colher, no tempo de aguardar cada estação à semente, a poesia é mais de colheita. É legume temperado e servido pronto para o consumo. Não basta o objeto inspirador, é necessário que seja preparado, ou processado. Fundamental que interprete um sentimento, e que este, instigue a reflexão. Nunca a digestão.
E assim, há alguns dias havia concluído minha leitura. Ou meu movimento, como gosto de nomear. Mas ainda faltava alguma coisa, ou muita coisa. Um verso em branco me tomava em desespero [“Nas lágrimas do pranto… / E rio…! / Que deus me perdoe!...”]. O pedido de perdão, também.
O riso, não o sorriso aberto e ingênuo, liberta o medo. Um medo que nem o maior de todos os homens deixa de temer, mesmo àqueles que dominam sua arte, ou sua sensibilidade. Principalmente a esses.
Agora sim. Bom domingo A.