quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A Porta (Ruínas da Esperança e da Virtude)


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O que mais as revoltavam,
Era o prazer de tanto gostarem,
De suas culpas que lhes apontavam,
Simulando a denúncia que lamentavam,
Não se sabe se por não se envergonharem,
     Ou por mais rumores que sobre elas faltavam!...

Sentadas no último banco da Igreja em ruinas,
De mãos unidas num entrelaçado de fingimento,
Faziam ondular uma sequência de invisíveis cortinas,
Até ao velho padre que aos olhos das sagradas doutrinas,
Vestia transluzimentos de Deus, cobrindo-se de fundamento,
Da brisa dos rumores iam caindo cortinas de pensamento,
     Até só restarem a porta fechada e quatro esquinas,
       E o rumor invisível de um divino lamento!...

Com os rumores do tempo,
Rumores em invisível abatimento,
Cada esquina ruiu envolta em solitude,
As cortinas ainda ondulam naquela quietude,
Inquietas com os rumores que batem à porta,
Dizem que fora de portas há uma igreja morta,
    Envolvida em cortinas desprendidas da virtude!...

Atrás da porta fechada, ondula a solidão do vazio,
Não há ventos de paz e a meiga brisa do amor ruiu,
A boa-fé na plenitude de Deus entrou em desvario,
Um mensageiro sem saída perdeu-se num desvio,
Vazio de Humanidade aproximou-se cheio de frio,
Ajoelhou-se em frente da velha porta que se abriu,
Orações vazias jaziam sob o pó do futuro sombrio,
    Já dentro de si, olhou para fora e com a porta caiu!...

Com o Amor a perder-se num caminho tão incerto,
    E com Jesus a nascer, nascia o Amor ali tão perto!...


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1 comentário:

  1. Muitos são os caminhos, e os caminhantes. Há o reconhecimento em Jesus Cristo como filho de Deus Pai e, por piedade a nós, pecadores, Salvador. E há os ateus e os agnósticos. Quem viva de acordo com seus princípios religiosos, seguindo e respeitando os preceitos de cada uma, ou não. Mas, a bem da verdade, só há dois caminhos: o tormento do inferno solitário da ‘não’ Fé de um lado; do outro lado, numa ação religiosa e organizada em “A Porta (Ruínas da Esperança e da Virtude)”, a Fé.

    Entre as duas opções, um lugar que me fornece a porta, a fechadura e a chave, e por assim dizer, para um comentário com a experiência de me envolver num complexo poético que tanto encanta como causa espanto, pela sensível diferença da Poesia, essa ‘coisa’ d’Alma, conseguir estar do lado de dentro da porta, dos dois lados, ao mesmo tempo, sem por um momento se afastar de suas convicções e do dom, como atividade espontânea, mas sem a demanda com a adaptação às circunstâncias, dado ao caráter espiritual que se manifesta de forma natural.

    O Poema, natalino, referenciando o ‘nascer’, preconiza o tempo presente na recorrente busca pelas Virtudes Teologais (Fé, Esperança e Caridade), e convive também com a materialidade do pecado, na oposição de uma vida espiritual. A Igreja, como cenário de Fé e Esperança, tem no movimento historiado, uma revelação de progressão ascendente: o confessionário, a remissão da culpa e o encontro com Jesus, e com tudo aquilo que Ele representa.

    Mas é a Porta, que aberta, ou tombada, representa a contradição que todos nós, incompletos, inadimplentes e tão errôneos humanos, apresentamos em nossa constituição: ser do bem e do mal, e não saber o quê fazer para romper com os motivos materiais que a Poesia, a sua Poesia, combate.


    Feliz Natal, A.

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