quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Lancinante

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Fustigado sem dó pelo amargo do malho
O corte do sabugo chora ao sabor do alho,
A carne viva arde na fornalha que entorna,
Suor e sangue a ferver no infernal trabalho,
Mordido pelo corte lancetado na bigorna!...

Retesa-se o nervo por cada golpe forjado,
Distende-se o ferro até à fractura do osso,
Saltam limalhas vivas da dor em alvoroço,
Cravando de chagas um malho angustiado,
Que punge o silêncio do metal esmagado,
Entre as dores das margens de um fosso!...

Molda-se um osso entre a carne rasgada,
Osso lascado cravado na morte iminente,
Instinto vivo espetado no olhar pungente,
Que pulsa nos fogos da fornalha sufocada,
Privada de ar por uma traqueia esmagada,
Entre a velha bigorna e o malho doente!...

Dilacerado por uma incisiva dor angustiante,
O osso laminado é um sofrimento plangente,
Que corta cada lágrima com dor lancinante!...


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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Vou-te Buscar...


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Fixara-se-nos na retina,
A descendente gradação da inocência,
O carinho atrevido e curioso do teu olhar,
Irresistível Amor que ainda ilumina,
Pecados abençoados pela consciência;
Despojas-te do profissionalismo que não ensina,
A entender a razão dos sorrisos saudáveis de menina,
Recuperas os guardados sentires de Amar,
E repetes meigos apelos: -Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...
Falo-te de minudências da razão,
Exponho nosso Amor em gradação,
E a razão de não se degradar,
Desenho cuidadosos traços de respeito,
Com o sangue firme de nossa paixão,
Confesso-te tristezas que me ardem no peito,
Assinas meus quadros onde pintei o perdoar,
Obras-primas são teus apelos: -Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...
Na despedida lenta de repetidos tomos,
Há palavras que podem não voltar a passar,
Há um rio de desculpas no decurso de teu olhar,
Que corre ao encontro do meu olhar que somos,
O mesmo rio da mesma margem que fomos,
Apelo silencioso que te deixei ficar,
Quando teu apelo chorou: -Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...
Vou-te buscar!...

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Inocente

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Entre o gume da espada,
E a parede dentro dela erguida,
Quedou-se em estátua encurralada,
Quase derrotada por um golpe da Vida,
Mas pronta para uma derrota empedernida,
Aceitou ser exemplo de Alma trespassada,
Pela corrosão de uma injustiça afiada,
Agravo pela Justiça vencida!...

O tempo vai cobrindo de liberdade,
Vivos passados prisioneiros das horas,
O coração ainda transborda saudade,
Como se ainda não sentisse a verdade,
De ser livre para escolher as auroras,
Nascer da Luz nas pacientes demoras,
Das espadas de pedra sem idade!...

Há símbolos de justiça em evidência,
Gravados entre paredes inocentes,
E espadas polidas pela inocência!...

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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Amora

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Amoras amadurecem,
Protegidas pelo verde silvado,
Morenas que não se esquecem,
 Irresistíveis que do desejo crescem,
Espinhos afiados a protegem do pecado,
Serão tão amadas sem nunca terem amado,
Por quem as ama sem nunca as ter provado!...

…Talvez os espinhos,
Sejam a provação dos caminhos,
Que na espinhosa silva demora,
O prazer de provar uma amora!...


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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sempre

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Ela sempre está,
Onde sempre estamos,
Sempre nos dá,
O que sempre lhe damos,
E quando sempre esperamos,
Que ela sempre se vá,
Pressentimo-la sempre por cá,
Sempre provando que nos enganamos,
Mas se sempre a pensamos,
Como ceifeira sempre má,
É sempre o pior do pior que há,
Ainda que sempre nos dê mais uns anos,
Nós sempre nos encarregamos,
De nunca esquecer a já gasta pá,
Com que sempre escavamos,
A cova onde sempre nos deitamos!...

Nem sempre nos ensinaram a viver,
Tudo que sempre aprendemos é morrer!...

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sábado, 6 de agosto de 2011

Classificados

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Ratinha Poética,
Procura Poema dourado,
Para futuro compromisso!...
Não interessa que seja casado,
Muito para além disso,
Não precisa ser um filho da ética,
Preferem-se estâncias de rica métrica,
Não se aceitam cheques de valor pelado,
Pode ser verso livre de viúvo ou divorciado,
E se não quiser que a ratinha dê o sumiço,
Não haverá poesia que quebre o feitiço,
De uma vingativa e ordinária dialética,
Incapaz de anular soneto denunciado!...

Poema forte, rico e sedutor,
Procura rica e moderna poesia,
Com ritmo da antiga trova vadia,
Para relação séria de futuro louvor,
Exigem-se elegantes rimas com fervor,
Sem preconceito pela falsa harmonia,
Entre a verdade e o cântico de amor,
Pronta para sustentar com alegria,
Seu novo poema e senhor!...


Procuram-se dois poéticos dilemas,
Cesurados por um par de iguais inversos,
Desavindos entre dois falsos poemas!...

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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

...tão Perto!...

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…Lá perto de tudo,
Tão longe de nada,
Nada resta do veludo,
Noite macia do dia mudo,
Que já não despe a madrugada!...

…Lá longe da pouca sorte,
Douradas tentações impingem,
A tentadora perfeição da beleza no porte,
Só o destino sabe que fingem,
São brancas as raízes dos limos que tingem,
Celebra-se a vida ao encontro da morte!...

…lá longe do deserto,
A Vida sucumbe à sede,
Com a água ali tão perto!...


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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ciúme


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Fixando meus olhos,
Teus olhos vi em meu olhar,
Vendo neles mil pecados meus,
Pecados cegos, não pecados teus,
Quais blasfémias que juras não olvidar,
Ciúme esparzido em lágrimas do pecar,
Desperdício perdido por entre escolhos,
Em searas salgadas de salgados restolhos,
Fome de nosso Pão sideral roubado a Deus,
Fermentado com doçura de paixão diletante,
Delirante tempero de impropério pungente,
Cozinhados em aromas de lume brando,
Poalha apimentada com Amor ardente,
Fidelidade minha que queimas e negas,
Na dança de teu bailado inquietante,
Passos de fogo dados às cegas!...

Tuas delicadas unhas afiadas,
Débeis armas de palavras malditas,
Desafiam as minhas palavras adiadas,
Palavras de silêncio que tu não imitas,
Aliando teimosas certezas apaixonadas,
À incerteza de tuas amantes imaginadas,
Desafias a falsa confissão que tu incitas,
Sensato silêncio meu de tua desdita!...

Minha submissão por ti serena,
Curva-se perante tua raiva pequena,
Que exalando odores de vórtice desejo,
Aguarda paciente a tempestade amena,
Tempestade adivinhada que eu almejo,
Vislumbre desejado num lampejo!..

Meu reflexo reflectindo teu cego Amor,
Impulso que tua investida vai contendo,
Cego ciúme e cegueira de teus tormentos,
No acto das tuas mãos que amaciam a dor,
Despontando sinestesia que vai crescendo,
Enlaças a fome de nossos corpos sedentos,
Olhos gulosos e tão virgens por momentos,
Nossa volúpia salgada de doce ávido sabor,
Fiéis amantes dos nossos pensamentos!...

A libido que de teu Amor vem,
Por mim, tua serena submissão,
Trai tua resistência subjugada,
Desconfiança por ti perdoada,
-E por mim também-
Não resistindo a incontrolável tentação,
De tocar teu corpo e sentir teu coração,
Saboreio teus lábios de veludo excitado,
Néctar sagrado de uma lasciva atracção,
Contagiando teu corpo ansioso e suado,
E penetro meigo em teu corpo sagrado!...

Gozando da cadência enlouquecida,
Por cada forte batida enlouquecendo,
Impiedosa possessão consentida,
Arrepio de alma gémea perdida,
Sublime êxtase de longo momento!...

Fixando teus olhos,
Meus olhos vês em teu olhar,
Olhando meus olhos de mil pecados teus,
Pecados cegos não pecados meus,
Os quais juramos olvidar!...

Olhos perdoados de sorriso alargado,
Adormecem em leito de cúmplice malícia,
Repousando no veludo de Amor renovado!...
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sábado, 30 de julho de 2011

Calor










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…Maldito incêndio que ateia a Alma,
Esconde-se em meu calor escondido,
Língua de fogo por beijos de fogo lambido,
Que nem me inquieta nem me acalma!...

Este calor que envolve meu corpo,
É desejo languinhento de animal suado,
Ardendo no olhar de um seboso pecado,
Porca sensação de sentir-me um porco!...

Derretem-se-te palavras sem alarde,
 Arde-me a alma nas línguas do inferno,
Trespassando-te pelo espeto que arde!...

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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Impotência

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Deitada na cama,
Sob lençóis brancos de linho,
Recebe seu marido que a Ama,
Abre suas pernas à falta de carinho,
Na certeza do prazer se perder no caminho,
E esconde dos olhos a lágrima que não engana!...

Vinha-se nos ais dos orgasmos sonoros que fingia,
Naquelas madrugadas casuais do frio tesão do mijo,
Aproveitados momentos tristes de um oportuno pau rijo,
Do carinhoso marido que a ele mesmo há muito tempo mentia;
A meio da função a verdade murchava dentro da esposa que sofria,
Restando o Amor que oferecia lágrimas fingidas de grato regozijo!...

Uma Mulher esmagada pelo submisso peso doméstico do drama,
Sente no nervoso corpo de fogo a necessidade de sentir alguém,
E ainda que não mostre sua necessidade de sentir-se também,
Teme compreender os desejos que o seu corpo proclama;
Na ausência dos orgasmos interrompidos com desdém,
Ajoelha-se ardendo de tesão aos pés de ninguém,
Suplicando o perdão pelo pecado que a reclama!...

Não sabia amaldiçoar o Amor prometido,
Jurara respeito sem desvios infiéis na sua ventura,
Mas tanto respeito dedicado e tão sufocante ternura,
No leito era um cativeiro de doloroso prazer oprimido,
A um coito frio, sem qualquer prazer feliz, resumido,
Transformando a cama numa mesa de tortura!...

Penetrada pelo vigoroso tesão da vida,
Inchado no órgão selvagem que a possuía,
Revolveu-se dentro de si uma força incontida,
Liderada por um anjo que entre demónios ardia,
Enlouquecendo de gozo o pudor que se subvertia,
Salivando lágrimas de arrastada virgem arrependida,
Domesticada na contenção de uma educação perdida,
Em desejo escondido entre as coxas que o fogo lambia,
Atiçando orgasmos infernais de uma Mulher agradecida!...

Há muitos orgasmos fingidos entre lençóis,
Há abundantes ejaculações de olhos que choram,
Há tesão em cantos presunçosos de mudos rouxinóis!...

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