quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Lancinante

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Fustigado sem dó pelo amargo do malho
O corte do sabugo chora ao sabor do alho,
A carne viva arde na fornalha que entorna,
Suor e sangue a ferver no infernal trabalho,
Mordido pelo corte lancetado na bigorna!...

Retesa-se o nervo por cada golpe forjado,
Distende-se o ferro até à fractura do osso,
Saltam limalhas vivas da dor em alvoroço,
Cravando de chagas um malho angustiado,
Que punge o silêncio do metal esmagado,
Entre as dores das margens de um fosso!...

Molda-se um osso entre a carne rasgada,
Osso lascado cravado na morte iminente,
Instinto vivo espetado no olhar pungente,
Que pulsa nos fogos da fornalha sufocada,
Privada de ar por uma traqueia esmagada,
Entre a velha bigorna e o malho doente!...

Dilacerado por uma incisiva dor angustiante,
O osso laminado é um sofrimento plangente,
Que corta cada lágrima com dor lancinante!...


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1 comentário:

  1. “Lancinante” é um poema de dor física, onde a capacidade artística, comum à profissão de ferreiro e à criatividade poética, se encontra com a poesia e serve de reverência ao profissional que está à margem do sistema, na história que começa e termina igual para todos os dias, sem ascensão social no padrão capitalista, porque a carne quando se mistura ao sangue e ao suor, como fruto do trabalho árduo, são irrelevantes como temáticas, exceto à poesia d’Alma.

    Uma oficina de dor num cenário que faz parte do cotidiano. Através de uma realização ordenada e sequencial, os versos descrevem a dinâmica de um acidente e todas as estrofes confluem para um sentimento de compaixão. Mas, a partir das imagens que vamos construindo à medida que progredimos na leitura, somos invadidos pelo desconforto de uma segunda visão que aponta para o limite da vida diante a morte. Ao esbarrarmos nela [“Dilacerado por uma incisiva dor angustiante,”] desejamos que a morte seja o mais rápido possível consumada, tamanha é a dor que sentimos.

    Até o próximo verso, no desfecho [“Que corta cada lágrima com dor lancinante!...”] que é de lição à lembrança de que a dor, por mais cruel que seja, não deve ser mais forte que a vontade viver e resistir, no corte que é fatal, senão à lágrima.


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    O wallpaper traduz a força física aliada à habilidade manual, características do profissional que é ferreiro. E concluo, sua poesia, A., é tanto artística quanto poética, mas essencialmente, lição que não devemos desperdiçar.

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