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Entre o gume da espada,
E a parede dentro dela erguida,
Quedou-se em estátua encurralada,
Quase derrotada por um golpe da Vida,
Mas pronta para uma derrota empedernida,
Aceitou ser exemplo de Alma trespassada,
Pela corrosão de uma injustiça afiada,
Agravo pela Justiça vencida!...
O tempo vai cobrindo de liberdade,
Vivos passados prisioneiros das horas,
O coração ainda transborda saudade,
Como se ainda não sentisse a verdade,
De ser livre para escolher as auroras,
Nascer da Luz nas pacientes demoras,
Das espadas de pedra sem idade!...
Há símbolos de justiça em evidência,
Gravados entre paredes inocentes,
E espadas polidas pela inocência!...
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..há símbolos da justiça cravadas na "estória" d'alma...
ResponderEliminar"Tarda iustitia non est iustitia, sed indicata et clara iniustitia"
deixo..
beijinho
da
Assiria
p.s bom fim de semana com muita inspiração Poeta
O mérito da poesia d’Alma está na sua sensibilidade frente à possibilidade de fazer poemas sobre uma realidade que nunca é suficiente, reinventando-a e moldando-a na história da história, ou na história da imaginação, sempre deixando margem para a reflexão.
ResponderEliminarAssim, nesta noite do mês de agosto, sento-me aqui, como espectadora e como protagonista, e leio o poema “Inocente”, tentando, não decifrar o poema, porque esta é uma tarefa impossível, mas refletir acerca de um tema que é cárcere na minha própria experiência de vida.
Nem entrada, nem saída. Num lugar de clausura [“Entre o gume da espada,/ E a parede dentro dela erguida, / Quedou-se em estátua encurralada,”] a lâmina corta a cicatriz e faz jorrar o sangue. A iminência da morte em contraste permanente com a vida [“Quase vencida por um golpe da Vida, / Pronta para uma derrota empedernida,”] tem seu efeito de causa conhecida [“Aceitou ser exemplo de Alma trespassada,”], desconhecida, porém, às razões que de uma equidade à punição desmerecida [“Pela corrosão de uma injustiça afiada, / Injustiça, pela Justiça vencida!...”], e no tempo devido, reconhecida.
A conquista da independência diverge do mundo e da vida, à distância respectiva entre a razão e a emoção [“O tempo vai cobrindo de liberdade, / Vivos passados prisioneiros das horas, / O coração ainda transborda saudade,”].
Como uma estátua petrificada, faço pausa ao poema e deixo o sentimento seguir seu ritmo, e descubro que há um silêncio instransponível entre o que é escrito do que é vivido, mas não me atrevo a negá-lo [“Como se ainda não sentisse a verdade, / De ser livre para escolher as auroras,”].
As rimas, propositais aos versos [‘verdade / idade’ e ‘demoras / auroras’], configuram mais que um processo cumulativo de articulação poética, elas reforçam a expectativa do futuro a ser inscrito no presente sobrepondo-se à fatalidade do passado, mesmo quando a realidade se apresenta de maneira adversa, porque é preciso resistir em nome da VIDA [“Nascer da Luz nas pacientes demoras, / Das espadas de pedra sem idade!...”].
De pedras [“Há símbolos de justiça em evidência,”], também há corações, ainda que imóveis pelo poema, móveis pela poesia, porque nem todo poema é poesia, assim como nem toda espada fere e nem todo corte sangra [“Gravados entre paredes inocentes,”]. Ainda que não seja fatal, a defesa [“E espadas afiadas pela inocência!...”] também é uma arma e não sendo capaz de ferir, que possa ser moldada à carne de modo que seja possível aprender a conviver com ela harmoniosamente.
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E deixo uma lágrima, não de tristeza, mas de enternecimento ao reconhecimento pela poesia d’Alma que é, ao mesmo tempo, cicatriz e sangue, ferida e cura, e sem danos ao corpo, ou à moral, é, sobretudo aprendizagem.
Maravilhosas suas palavras.
ResponderEliminar"Há símbolos de justiça em evidência,
Gravados entre paredes inocentes,
E espadas polidas pela inocência!..."
Um beijo.