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Há um cerco apertado a Portugal,
Em pescas de cerco dos tubarões,
Afogam-nos numa dívida colossal,
Amargamos o mar salgado e o sal,
Dos pescadores iguais a mexilhões,
Vendidos aos polvos, seus patrões,
Enlatados em subsídios de quintal!...
Ajoelha-se o coração do pescador,
Perante o ómega-3 da sua rainha,
Jamais se atrevera pescá-la à linha,
Dedica-lhe todo o respeito e amor,
Pela boa maré do mar, seu senhor,
Grato a Deus que vele sua vizinha,
Reza por ela à espera de seu sabor!...
As lágrimas desaguam em alto mar,
Resta o sal dessas marcas salgadas,
Em cada olhar há lágrimas pescadas,
Barcos em terra dispostos a navegar,
Afundaram-se entre redes enterradas!...
Bem gorda e tesa como um carapau,
Desfila na voz de uma linda mocinha,
Faz-se o oceano na boca, pela rainha,
Cede e desce do trono o rei bacalhau,
É
junho que chega e reina a sardinha!...
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Mesmo fazendo parte de uma iguaria muito apreciada pelos portugueses, mas longe de ser uma receita culinária, “Sardinha” estabelece uma relação entre história e poema. Em defesa dos oprimidos e dos esfomeados, como na denúncia da alienação da sociedade de consumo, e nas leis que são criadas para dificultar o comércio da pesca. Uma viagem à gastronomia sociocultural e à prática de sua pesca e consumo.
ResponderEliminarAs imagens que se constroem logo na apresentação do poema têm uma característica especial. Apesar de todo o sofrimento, a clareza sobre a apatia da sociedade é desestimuladora: “Dos pescadores iguais a mexilhões, / Vendidos aos polvos, seus patrões,”. Os versos não são eleitos pelo seu conteúdo filosófico, não menos poético, mas pela imagem constrangedora da realidade.
[E quantas vezes essa realidade não é amarga, ou dolorosa. Muitas vezes, mesmo com um pequeno número de versos, d’Alma constrói um mundo imenso de luta, e conta histórias que fazem histórias. Não importa a margem, ou o lado do oceano. Elas existem, e a sua voz ressoa para lá de um amontoado de palavras. Versos. Poemas e Poesias.]
À mesa, síntese do poema, plebe e a nobreza têm seus lugares invertidos. Um ideal político sem ser ideologia, mas como apologia à verdadeira democracia.
E a Poesia como Esperança para além da fome, ou da submersão.
Não por acaso, aliás, a alusão aos pescadores que se ajoelham em reverência à ‘rainha’. Há uma transparente referência à luta, no aproveitamento do sacrifício [respeito pelo defeso], ou da pesca, para fazer emergir, o alimento transformado.
Poesia!
Poeta
ResponderEliminarHoje passando para dizer que estou voltando (ainda devagar), mas com muita saudade e agradecendo as palavras de carinho deixadas durante a minha ausência.
Um beijinho com carinho
Sonhadora