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Ao terceiro mês, os fetos afogaram-se no
charco,
A inocência das águas amnióticas foi
envenenada,
Inavegável o vazio da barriga esvaída do
seu arco,
As mãos deslizam pela áspera liberdade
abortada,
Um barco à vela perde-se na ventania
apavorada,
Caruncho come a quilha perplexa do último
barco,
Não resta mais nada!...
Queimam velas aos pés de corações de
madeira,
No sangue corre a água de uma vida
naufragada,
Cera fria escorre da memória de uma vida
inteira,
As
labaredas congelaram no calor de sua fogueira,
E
fecharam-se em pontes de água e fé congelada,
Os olhos de Deus ficaram censurados na fronteira,
Não resta mais nada!...
Do pinhal à beira mar, cortaram o último
pinheiro,
Dos roseirais do mar arrancaram as
últimas rosas,
Orações, de mãos atadas, rezaram a um
madeiro,
Uma entrada e um sinal sem saída e sem
dinheiro,
As preces apagaram-se entre lágrimas
silenciosas,
Árvores boas foram crucificadas no mundo
inteiro,
Madeira dos santos ainda verte lágrimas resinosas!...
Um mar de perdição em dois desertos sem
moral,
Deserto e o sacrifício humano que se
empesta,
Águas
apodrecidas à deriva no juízo final,
E do respeito pela justiça divinal,
Já pouco
mais de nada resta!...
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