terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Família Sem Impressão Digital


.
.
.
“Ao rir-me da postura de seriedade,
Rasgo-me de riso com vontade,
Do meu produto mais sério,
Embrulho-o em mistério,
Ato-o com verdade,
Ajo com critério,
      E sobriedade!...”

*

Vendem-se Natais,
Compram-se os pais do Natal,
Apagam-se as impressões digitais,
Surdem com apelativas aparências divinais,
Mãos lisas que tentam alisar a Marca ancestral,
Sem deixar marcas, apagando a Santa Marca imaterial,
Do Fruto da árvore Mãe com as suas raízes mais naturais,
Árvore que com seus ramos cobertos por cada folha celestial,
Com sua árvore companheira, são raízes essenciais,
Do humano valor natural,
Em (e)terna vigília,
Amor universal,
     Família!...

      Família!...
Essa qualidade de valor eterno,
Valor incalculável a perder-se no valor moderno,
Templo invertido que desaba de filhos para pais,
Abrigo em construção do desamor fraterno,
Construído sem impressões digitais,
Por seres lisos de todos os Natais,
Sem marcas nem aderência,
Sem humana clemência,
Lisos por vis metais,
Triste demência,
    E pouco mais!..

*

“Anseio estar tão só,
Com minhas lágrimas sós,
Ato o riso com cegos nós,
Embrulho critérios em pó,
Dou-me à piedade sem dó,
      E choro por mim e por vós!...”

    
.
.
.


1 comentário:

  1. “Família Sem Impressão Digital”, diferente de outros Poemas d’Alma, apresenta uma estrutura arquitetônica inovadora. Os asteriscos que separam o Poema servem de elemento agregador. A primeira estrofe e a última comunicam-se com as outras como partes de um teorema, e podem ser lidas independentes, mas a sequência é um apontamento que conduz a um único itinerário, como um raciocínio em desenvolvimento, ou a Arte em sua dinâmica, provocando uma fusão provocante: a aflição, ou a consequência da realidade em ruínas, que só à Poesia é permitida. E ao Poeta.

    Na clareza do aliciamento comercial, a convicção sobre seu efeito devastador [“Apagam-se as impressões digitais,”], onde a lisura da Poesia opõe-se, magnificamente, ao movimento poético: “Sem deixar marcas, apagando a Santa Marca imaterial,”.

    Mas é com “Em (e)terna vigília,” que o tema se sobressai dos demais versos, na junção de duas palavras (eterna e terna) ao sentimento que, independente de uma época do ano, prevalece através das ‘marcas’, como condição essencial e relevante, não apenas à superfície, ou à qualidade poética. Como uma palavra escrita em alto-relevo... e se pudesse ser tocada, seria sentida. O que não subestima em nada o poder que a Poesia d’Alma exerce, porque somos todos tocados, e movidos, e quase que empurrados, abismo abaixo [“Templo invertido que desaba de filhos para pais, / Abrigo em construção do desamor fraterno,”], quando o seguimento chama a atenção sobre a importância do exemplo, ou da conduta pessoal, enquanto Herança Familiar, na formação do caráter [“Com sua árvore companheira, são raízes essenciais,”].

    Fim do trajeto. Mas a Poesia segue na imagem que tem no centro da aparência, quase invisível, o cenário familiar que se destaca na celebração do Nascimento, um momento que inaugura a Paternidade, a Maternidade e toda a história da evolução da Humanidade.


    Abraço.

    ResponderEliminar