segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Passar sem Vinho


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Não…
Não deixem entrar as rãs!...
Não…
Não afoguem as manhãs!...
Não…
Não me deixem afogar,
Quero acordar,
Há buracos nos divãs,
Não deixem mais água entrar,
É em água à minha volta que eu sei nadar,
Uma hidra de água alaga-me com suas irmãs,
 Dentro de mim, vomitam água, alguns hidrófilos titãs,
Absorvem-me a desesperada necessidade de respirar,
Entram-me pelos ouvidos os anfíbios verdes a coaxar,
Tento evadir-me de mim em aflitas tentativas vãs,
Fora de mim, sinto-me no interior a naufragar,
Alcanço o limiar do meu pesadelo sedento,
Com tanta água para me rebentar,
É de sede que eu rebento,
   E acordo a transpirar!.. 

Só Jesus Cristo me valeu,
O que já água alguma me valia,
Até Jesus agradeceu o vinho que Bebia,
A Deus que a beber de seu sangue Lhe deu,
Era sangue da Vida que em Vinho bem Lhe sabia,
   E em cálice sagrado que todo o Apóstolo bebeu!...

Há uma triste sede em nossa mágoa,
Quando a sede só nos permite um caminho,
Não conseguimos passar pela vida sem água,
  Mas é triste passar pela vida sem vinho!...
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2 comentários:

  1. Ai o vinho...melhor afogar nele do que morrer sem ele.... Bjs, Carli

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  2. Água e Vinho: Um brinde sólido à Poesia de António Pina!

    “Passar sem Vinho” é um Poema marcado por uma fonte em movimento, há ‘sede’ e ‘abnegação’ no mesmo processo de convocação ao conceito crítico, como se todos os versos, num ambiente de fluidez das águas, estivessem em estado permanente de umidade, não necessariamente aquático, favorável à vida, ao prazer e à Poesia.

    A serenidade que habita a diversidade temática, na sequência de imagens e revelações, apresenta na simbologia do vinho – representante da vida e da morte – um estímulo ao paladar, ou à sua degustação, com a finalidade de alcançar a sublimação e a purificação, e celebrar com alegria o milagre da comunhão espiritual com Deus.

    Da água à terra, [“Há uma triste sede em nossa mágoa,/ Quando a sede só nos permite um caminho”],ou ao terreno fértil em criatividade e sensibilidade, o rigor e a disciplina desse Poema podem ser vistos, ou entendidos, como um ‘caminho de mão única’, ou, ainda, como um ‘Poema-Semente’, considerando que a dinâmica contém todos os elementos necessários à fecundação, sendo ela própria um estado sólido: a imaginação.

    Um brinde sela o Poema. À Arte e à Vida, que não é só realidade, mas também sonho, fantasia e Poesia!


    Boa semana.

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