terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Calendário



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Os ídolos colados na cal apodrecida,
Apagavam a memória dos calendários,
Entre as sumptuosas coxas e seios de diva,
Arregalavam-se os batidos dos olhos solitários,
Gastos orgasmos marcados nos desgostos diários,
Dos sonhos que se guiavam pelas estrelas da vida,
Talvez sonhos encantados, talvez estrela prometida,
Brilhando sob doze marcas dos prazeres ordinários,
Dias de cal viva queimados na esperança perdida!...
Foram caindo as folhas nuas dos velhos calendários,
Dos olhos precipitaram-se as despidas vendas,
Amontoam-se os dias na folha desiludida,
Dos meses nus deitados às calendas!

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7 comentários:

  1. Uma poesia envolta numa desesperança de vida,,,de sonhos e até de amor...belissimo e triste,,,abraços de bom dia pra ti amigo.

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  2. Existe um toque especial nas suas palavras!
    Gosto de ler!

    Bjs dos Alpes

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  3. Muitas são as imagens. Míticas ou não.

    O mês é fevereiro. O ano, bissexto. A mulher é sedução e prazer. E o poema ecoa no tempo passado das calendas, entre esse mesmo passado e o outro passado, o imemoriável.

    “Calendário” desnuda a alma, permeia nossas fantasias e molda o imaginário da vida sexual, natural e inerente a todos os seres humanos.

    Na poesia d’Alma, o toque é d’Alma.

    Não se lê o amor. Não se ouve o amor. Não é uma história de amor. Mas é um poema de amor pelo caráter romanesco, porque o ‘poesista’¹ é d’Alma e mesmo que o amor não seja produto de sua sensibilidade, na autoria que é DiVersa e que para tanto, é a razão que comanda essa sensibilidade, é um poema romântico.

    É preciso estar atento aos seus significados e às suas significações, transpor barreiras de conceitos e PRÉ-conceitos, elevar a alma, ousar a ler, RE-ler e RE-escrever o poema pelas bordas de suas rimas, projetando uma terceira margem para abrigar o corpo e este, o desejo: “Os ídolos colados na cal apodrecida, / Apagavam a memória dos calendários...”].

    Prazer por prazer, ainda que resulte em prazer, nem sempre é prazer. “Gastos orgasmos marcados nos desgostos diários”, neste verso a propriedade da linguagem convenciona-se perfeitamente a todos os outros elementos que compõe o poema, sem dividir emoção, ou sensação. Ainda à margem, à beira do abismo, sabemos que os sonhos estão sujeitos à experiência. E à queda: “Dos sonhos que se guiavam pelas estrelas da vida”.

    Muitos advérbios [talvez] possibilitam a urgência das formas em se representar o lugar [prazer] como uma realidade plural, porque diVersas são as suas paisagens e diVersas são as almas, portanto, passíveis de rejeição à temporalidade e às fronteiras que delimitam o tempo. Aquele.
    “Talvez sonhos encantados, talvez estrela prometida”: o mais encantador de todos os versos. O talento poético não abrange simplesmente a inspiração, mas o cuidado com a beleza estética e a suavidade, a considerar um tema que ainda é tabu.

    No contar dos dias, os meses, “Brilhando sob doze marcas dos prazeres ordinários”. A pausa, necessária. E quando pensamos que o ‘martírio’ do prazer se desfez, ele se refaz na virgindade que arde na “esperança perdida!...”.

    Outra pausa.

    Calendários continuarão enfeitando paredes e fantasias. Homens e mulheres continuarão se desencontrando. E se encontrando. E o onanismo, como fuga, ou como alternativa única ou não, continuará a existir num universo que mais justifica que explica, ou convence.

    Mas a maturidade há de desnudar a alma do corpo e vislumbrando-se desnudada, refletir sobre novas possibilidades, sem se importar com dias, ou meses, ou anos bissextos. Nem com as calendas.




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    Admiro-o sem reservas. Na força das expressões e na arte poética, tanto visual, quanto escrita, mas, sobretudo, na muitas ilações que seus poemas nos proporcionam.


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    ¹ Termo designado ao autor de poesias em: http://krystaldiverso.blogspot.com -
    https://www.blogger.com/comment.g?blogID=5033868950357799170&postID=7447284209090589638.

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  4. Desculpe entrar assim, mas passei e gostei do que li...estou seguindo para voltar.
    Abraço
    Sonhadora

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  5. Muito inteligente o poema. Mas aqui não é novidade.
    Já li algumas coisas falando deste tipo de calendârio,mas nunca assim.

    E eu não sei dizer mais nada. Avaliar a sua escrita está muito acima da minha capacidade. rsrs

    É ler, apreciar, aplaudir.

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  6. A parede! E as folhinhas! A contar dias... e a fazer fantasias... loucas!

    Belo poema!

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  7. Meu caro amigo POETA;
    Brilhante exercício poético num poema de enorme qualidade.
    Um forte abraço.

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