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Estranho este estranho despertar sem norte,
Sul invertido de uma estranha projecção forte,
Enigma do olhar fitado na cópia do avesso,
Fitando quem a hipnose fita em visão torpe,
Confusa visão essa de convexa cicatriz de corte,
Rasgando o mundo de esvaído sangue espesso,
Tua expiação de meu leve sorriso que entristeço,
Vida contrária reflectida no contrário da morte,
Reflexo ausente da imagem ausente de sorte,
Cópia clara da perfeita luz que escureço!
Tocamos nossas mãos que não se tocam,
Aproximam-se meus etéreos lábios dos teus,
Beijo volátil em anestesiados lábios meus,
Amor proibido que os teus olhos evocam,
Íris de meus medos que teus medos focam,
Transparente reflexo sem Alma nem Deus!
Na concha lisa onde abraço o eixo de luz fulgente,
Deslizo entre danças sedutoras de brilho cintilante,
Sigo teu passo, passo de meu passo, teu amante,
Dimensão fugidia de tão igual miragem diferente,
Fugindo de mim, procura teu encontro incessante,
Côncavo de teu efémero abandono indulgente,
Teu convexo corpo escravo de meu sangue quente,
E repouso em ti, que em mim repousas expectante,
Equilíbrio sobre esfera em descontrolo iminente,
Do espanto duvidoso de uma certeza hesitante!
Um feixe de Luz disparado em trajectória angular,
Investe suave no reflector contrário que diverge,
Desvanecendo uma hipnose de fixação crepuscular,
Raio de Sol sem reflexo que do Amor emerge,
Infinitas partículas de espelho em interdito mirar,
Desvanecido Narciso que no crepúsculo submerge,
Feitiço meu que só eu, de mim tu podias quebrar!
Somos agora um reflexo frio do sangue que temos,
Estátuas frias de vidro que do outro lado vemos,
Frio Amor cúmplice de nosso igual pensamento,
Bizarra imagem fascinante pela qual morremos,
Vislumbre culpado de espelhado momento!
Estavas tu tão perto, atrás de mim, do outro lado,
Espelho de mim no meu reflexo espelhado!
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A algum tempo atrás gostaria de ter escrito este trecho:
ResponderEliminar"Tocamos nossas mãos que não se tocam,
Aproximam-se meus etéreos lábios dos teus,
Beijo volátil em anestesiados lábios meus,
Amor proibido que os teus olhos evocam,
Íris de meus medos que teus medos focam,
Transparente reflexo sem Alma nem Deus!"
abraço.
Gostei do seu poema. Abraço.
ResponderEliminarMeu caro POETA;
ResponderEliminarQue poema soberbo; magnífico.
Gostei imenso.
Um forte abraço.
Apreciei a maneira hábil
ResponderEliminarcomo joga com palavras e sons!
Saudações poéticas
O espelho. E os reflexos. Os sonhos e a imaginação. A realidade. E a fidelidade. Dos espelhos.
ResponderEliminar“Espelho” reflete a tela diVersa no poema que é de sonho e imaginação, sem transfigurar a realidade, reafirma-a e nos conduz ao descobrimento dos contornos bem definidos. Dos versos.
Escritor e A.lma encontram-se e miram-se nos personagens que habitam cada leitor, ora imagem, ora reflexo, “Estranho este estranho despertar sem norte”, tornando os espelhos, mágicos e os reflexos, beneméritos, porque o que parece ser duplicado, é na verdade um ‘outro’, diferente dele e mesmo assim, ainda ele, “Vida contrária reflectida no contrário da morte” e se os versos propõem a antítese, “Tua expiação de meu leve sorriso que ‘entristeço”, as rimas unem-se à ideia anterior [“Cópia clara da perfeita luz que ‘escureço!”] revelando o outro a si mesmo, nos opostos que não se atraem, mas se encontram.
Coadunando sentido com a linguagem poética, na possibilidade de prever o impossível mundo do espelho revirado [imaginação] e o que a poesia nos sugere como sendo ‘avesso imaginário’ [“Dimensão fugidia de tão igual miragem diferente”] constrói-se um mundo que não pode ser senão, visualizado.
Consciência. Inconsciência. O côncavo e o convexo. E as imagens. O inconsciente nasce como linguagem, ao contrário do sujeito, que é reflexo, aflora lacunas “Fugindo de mim, procura teu encontro incessante, / Côncavo de teu efêmero abandono indulgente” e mirando-se na criação artística, o espelho é d’alma de sua autoria e de seu tempo, no aconchego do poema que hAbita a alma.
No mergulho, o uniVerso poético-existencial interioriza-se. Buscar significados à poesia não é o suficiente à elucidação do drama que envolve imagem-reflexo. É preciso olhar verticalmente e horizontalmente.
A luz que simboliza conhecimento e inspiração é a mesma que ilumina o poema, cobrindo de sensações ‘pele-espírito’ e transcendendo tempo-espaço nas memórias: “Um feixe de Luz disparado em trajectória angular”.
Mas é no mito, que duplica a ‘alma’ [“Desvanecido Narciso que no crepúsculo submerge, / Feitiço meu que só eu, de mim tu podias quebrar!”], que o verso compõe sua principal estrutura, não como lenda, mas como ‘homem-objeto’.
Desfaz-se o mistério e a magia. E o encontro.
A fidelidade do espelho prevalece. Na imagem que não se sustenta como imagem de si mesma e na realidade que volta-se contra a imaginação: “Somos agora um reflexo frio do sangue que temos, / Estátuas frias de vidro que do outro lado vemos]. Diante do espelho há uma imagem a se conquistar, mas há igualmente um preço a se pagar, “Vislumbre culpado de espelhado momento!”.
O “Espelho” jamais seria no palco de DiVerso apenas uma imagem refletida. Há os olhos, d’Alma, e esses, a refletir a razão que cega os reflexos: “Espelho de mim no meu reflexo espelhado!”.
Porque há os cristais. E outros Krystais. E a poesia é KRYSTALina.
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Bom fim de semana.
Soberbo, fabuloso poema.
ResponderEliminarExcelência por palavras, reflexos e sons.
«Tocamos nossas mãos que não se tocam,
Aproximam-se meus etéreos lábios dos teus,
Beijo volátil em anestesiados lábios meus,
Amor proibido que os teus olhos evocam,
Íris de meus medos que teus medos focam,
Transparente reflexo sem Alma nem Deus!».
Divino.Gostei!
Abraço amigo
olhamos o espelho, vimos os reflexos e pensamos serem reais, acreditamos poder toca-los, mas um dia acabamos por descobrir que afinal são pontos ilusórios, como ilusória é a vida que vivemos sem viver
ResponderEliminarbjs
Isto é o que se chama um poema de merda.
ResponderEliminarEstou contigo João A.
ResponderEliminar“Clarividência
ResponderEliminarO poema é uma bola de cristal. Se apenas enxergares nele o teu nariz, não culpes o mágico.” Mario Quintana
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‘Espelho’ é a nossa imagem refletida no espelho do outro.
Não basta a compreensão à leitura, é preciso reconhecer a reflexão que ele, o poema, na poesia, ou na linguagem poética, nos propõe.
Aqui a poesia transcende. Há o conteúdo. Sua origem se dá através da serenidade com os versos que nascem da emoção.
Mas há quem se limite a ler, apenas. Ou porque não sabe fazer outra coisa senão ler, ou porque esquece, ou não aprendeu, que para deixar a poesia acontecer, é preciso experimentar outros sentidos que aqueles, os elementares. Ou... pela falta de sensibilidade.
Lamentável, mas acontece.