Uma ampulheta,
Reflexo de espelhos,
Uma cinta estrangulada,
Dois irreflectidos conselhos,
Pó nas asas de uma borboleta,
Condão sem tempo de uma fada,
Caída no sono de uma madrugada,
Roubada à cartola de dois coelhos,
Escorridos da ponta de uma caneta,
Sem sangue azul perdido na gaveta,
Que no caruncho do tempo se acaba,
Levando uma primavera de violetas,
Sob a súplica de inocentes joelhos,
Carregados dos secos folhelhos,
De espigadas cançonetas!
E o tempo que cai e não se estanca,
É o mesmo que do mesmo tempo se levanta!
Ano Novo!
ResponderEliminar“Ampulheta” inaugura a poesia na atualidade e pulsa rítmica entre o processo criativo e a compreensão que diverge da experiência do tempo para cada leitor [ouvinte], oportunizando em seus diferentes estágios, o exercício da contemplação.
A plateia, inquieta aos versos de A. de Jesus e sempre em busca de coordenadas que orientem seus caminhos, descentraliza a ação poética e questiona a possibilidade de que o sentido se divide entre ‘efeito e recepção’. Onde o efeito é o tempo condicionado pela fluidificação da poesia e recepção o tempo condicionado por nossas próprias experiências e é na união desses dois momentos, que o desassossego se desfaz: “Dois irreflectidos conselhos”.
Acelerados, atravessamos a vida desordenados, e a sensação que temos é que ela nos escapa entre os dedos. O tempo voa como "Pó nas asas de uma borboleta" onde o passado e o presente, por onde escorrem experiências e expectativas de vida, se confrontam e determinam o futuro, na linguagem que se estrutura e define nossas atitudes.
Mas que também impõe eternos recomeços: “E o tempo que cai e não se estanca”.
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Bem-vindo aos novos tempos de poesia!
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ResponderEliminartempos por,
ampulhetar !
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saudações,
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