domingo, 2 de janeiro de 2011

Ampulheta




Uma ampulheta,
Reflexo de espelhos,
Uma cinta estrangulada,
Dois irreflectidos conselhos,
Pó nas asas de uma borboleta,
Condão sem tempo de uma fada,
Caída no sono de uma madrugada,
Roubada à cartola de dois coelhos,
Escorridos da ponta de uma caneta,
Sem sangue azul perdido na gaveta,
Que no caruncho do tempo se acaba,
Levando uma primavera de violetas,
Sob a súplica de inocentes joelhos,
Carregados dos secos folhelhos,
De espigadas cançonetas!

E o tempo que cai e não se estanca,
É o mesmo que do mesmo tempo se levanta!


2 comentários:

  1. Ano Novo!

    “Ampulheta” inaugura a poesia na atualidade e pulsa rítmica entre o processo criativo e a compreensão que diverge da experiência do tempo para cada leitor [ouvinte], oportunizando em seus diferentes estágios, o exercício da contemplação.

    A plateia, inquieta aos versos de A. de Jesus e sempre em busca de coordenadas que orientem seus caminhos, descentraliza a ação poética e questiona a possibilidade de que o sentido se divide entre ‘efeito e recepção’. Onde o efeito é o tempo condicionado pela fluidificação da poesia e recepção o tempo condicionado por nossas próprias experiências e é na união desses dois momentos, que o desassossego se desfaz: “Dois irreflectidos conselhos”.

    Acelerados, atravessamos a vida desordenados, e a sensação que temos é que ela nos escapa entre os dedos. O tempo voa como "Pó nas asas de uma borboleta" onde o passado e o presente, por onde escorrem experiências e expectativas de vida, se confrontam e determinam o futuro, na linguagem que se estrutura e define nossas atitudes.

    Mas que também impõe eternos recomeços: “E o tempo que cai e não se estanca”.




    ¬
    Bem-vindo aos novos tempos de poesia!

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