sábado, 30 de abril de 2011

O Trabalhador


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Trabalhador no trabalho fincado,
Calos de insónia na noite perdida,
Amealhador ganancioso de riqueza,
Obsessão que o passa ao lado da vida,
Febril medo de ignorância incontida,
Avarento de miserável pobreza!...

Trabalhou com afinco viciado,
Em toda uma vida sem descanso,
Não adivinhando seu leito de corno manso,
Agonia insensível de um homem enganado,
Por causa de seu escravo corpo tão cansado,
Não arrefece a cama de marido atraiçoado!...

Segou mil searas infecundas,
Por cada seara fez mil vencilhos,
Com que atou a fome dos seus filhos,
Míngua de pão em cicatrizes profundas!...

Trabalhou o louco com a loucura do medo,
Promessa de ouro e de escravo prometido,
Trabalhador à morte para sempre agradecido,
Propriedade da morte que lhe aponta o dedo,
Julgando o condenado a um alienado degredo,
Escravo culpado por ele mesmo vencido!...

Nas suplicias despedidas frementes,
Brama o vento das searas revoltadas,
Delírio febril por mil espigas roubadas,
Por mil negros corvos pertinentes!...

Em seara alguma ficou seu nome,
Nem ócio algum morreu de fome!...
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6 comentários:

  1. Excelente homenagem ao trabalhador, que do suor semeia e (a)colhe trágicos ventos!

    Amei!


    Um beijinho
    da
    Assiria

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  2. Grato pela "visita" ao Dr. Belarmino.
    Ainda sou do tempo em que os trabalhadores viviam ao ritmo do sol. Cavavam, lidavam nas casas e nos campos, sempre no mesmo género de vida desagradável e dura, com vagas compensações de longe em longe, mas sempre curvados para a terra ou nas tarefas ingratas das oficinas poeirentas.
    Bjs
    J

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  3. E há alguém que fique rico trabalhando?que seja lembrado porque foi competente?
    Como sempre certeiro e contundente.
    Beijo
    Sonhadora

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  4. O trabalhador,,,digno da sua existencia,,,da sua vida sofrida...mas vivida...abraços de boa semana...

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  5. Nem palco, nem cenário. Uma cena real e o poema “O Trabalhador” transporta-nos para um ambiente onde os versos não servem apenas de ilustração à sonoridade poética, mas ao espetáculo do corpo e d’alma entre poema e história.

    A força da poesia está na vida, ou na alma, experimentada ou não, sentida na relação entre a poesia e a realidade, d’Alma, nunca casual, mas diferenciada pela linguagem estética. A origem poética motivada pelo Dia do Trabalhador não se restringe à homenagem, ou à não homenagem, mas ao contexto social e histórico do trabalho, despertando o valor ético e político-social [“Trabalhador no trabalho fincado, / Calos de insónia na noite perdida,”] sobre a ação e reação, causa e efeito do trabalho versus trabalhador.

    O animal devora e destrói a natureza, enquanto o homem, antes de consumi-la, transforma-a. O ato de produção do homem, portanto, deveria ser de mérito, mas a dedicação não atinge seu reconhecimento [“Agonia insensível de um homem enganado,”] e o trabalho escravo, caracterizado pela produção de bens e serviços não consumíveis por eles, aflora nos versos [“Por causa de seu escravo corpo tão cansado, / Não arrefece a cama de marido atraiçoado!...”] demonstrando a desintegração familiar causada pelo afastamento permanente, bem como a ausência de sonhos, acordados ou dormidos.

    A necessidade. A honra. E a desonra. Não há prazer. Há obrigação [“Segou mil searas infecundas, / ...cicatrizes profundas!...”]. E marcas. Sem consciência, a alienação. Sem opção de escolha, a execução das tarefas é automática. Sem liberdade, a insatisfação. O trabalho não possibilita a integração social. Ao contrário. A insanidade [“Trabalhou o louco com a loucura do medo,”] tem origem na solidão e o condena a sua própria escravidão, sem culpa: “Julgando o condenado a um alienado degredo, / Escravo culpado por ele mesmo vencido!...”.

    A dinâmica da ação. O trabalhador não subiu no palco, mas foi história no uniVerso dos versos revolucionários que denunciaram a exploração do trabalho. Um espaço vazio preenchido por d’Alma. O respeito. E a consciência da poesia na urgência do questionamento, confirmando o comprometimento com a arte e com a realidade, nas atitudes, diVersas. Afinal... “Em seara alguma ficou seu nome, / Nem ócio algum morreu de fome!...”.


    ¬
    Boa semana, de maio, d’Alma.

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