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Hábitos de caminhos abrasados,
Empecidos por mais um dia quente,
Derrete-se o passo que se fica
lentamente,
Debaixo dos pés crepitam insectos
queimados,
Haverá sombra de melhores dias mais à frente?!...
“Este Sol corrompe os dias e torna-os
sombrios…”
Hábitos de caminhos fechados abrem-se ao
suor,
Há fosfatos a escorrer em sulcos de
transpiração,
Há pequenas escrivaninhas d’água e outra
maior,
Sento-me na fresca cadeira d’água e vejo
melhor,
Descrevo as miragens num assomo de
inspiração,
Os adjetivos evaporam-se na escrivaninha
menor,
Quase tudo é nada e é do nada que caio na
razão,
Caio no hábito de procurar-me no caminho pior!...
Este Sol corrompe os dias e torna-os
sombrios,
Vende a sombra a quem lhe comprou a
ilusão,
O Sol que queima os pobres nos dias mais frios!...
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Reveladora, e de caráter iluminador, a Arte. Suas convicções, suas dúvidas e suas visões. Olhares e paisagens. Onde a natureza é tanto plenitude quanto carência. Complementar. E d’Alma enfrenta o espelho. Sua luz e seus reflexos.
ResponderEliminar“Haverá sombra de melhores dias mais à frente?!...”, e dessa inquietação, com os elementos que possui [suor, fosfato, água e fresca] faz Poesia [inspiração]. Ao refletir sobre a realidade, funde a visão, ou a paisagem, à racionalidade. Apenas a compreensão do mundo, refletida numa nova imagem, é capaz de iluminar o caminho [“Caio no hábito de procurar-me no caminho pior!...”].
Em busca de sombra, a luz não se apaga. Ver no Sol e na sombra o mundo, e o tempo que prossegue indiferente a ele, faz parte do itinerário poético. No entorno, o encontro consigo mesmo. E com todo o desassossego que advém desse encontro, na preocupação com o ‘outro’ que ‘compra a ilusão como sombra’: miragem.
Uma chama a ser preservada como cristal. E não conheço Poesia mais iluminada. Plena de luz e sombra, é abençoada de sol e calor humano.
Bom dia.