quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ai Aguenta, aguenta...

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Impiedosamente curvado,
Sob as borboletas desiguais,
Ai, aguenta, aguenta…
As asas em abatimento calado,
Estilhaçadas pelas canduras fatais,
Dos fragmentos sedutores por sinais,
Pousando de futuro em futuro dourado,
Que, agora, lhe revolve o ânimo estilhaçado,
   O bater diferente das asas de borboletas iguais;
Por cada bater das asas que o eleva e sustenta,
Cai em si e tanto pesa que quase se rebenta,
E vêm-lhe aqueles esmagamentos mortais,
De quem não aguenta,
Ai não aguenta, não aguenta,
Pese embora a fantasia da igualdade,
É esmagador o pesadume da realidade,
Intenso o ardor esvoaçante que o alimenta,
E o estômago que ainda arde em humildade,
Descobre-se então de um forte bater novo,
Que renasce dessa tenebrosa tormenta,
Nas asas indestrutíveis de um povo,
Que quase tudo aguenta,
Ai aguenta, aguenta!...

As borboletas tomaram um atalho,
No estômago insurge-se uma gástrica canseira,
Da inconstância da dúvida renasce a certeza sobranceira,
   Vende-se inteiro à alma e ás borboletas, a retalho,
Quanto ao resto que de si se lamenta,
 Senta-se no que de si sobra e se tenta,
Engole as cores aguentadas de sua bandeira,
E ai que aguenta, aguenta…
Já fora pólen de flor e orgulhoso carvalho,
Ai, as borboletas que o pensamento aguenta,
     Sentindo o voo sem descanso nem trabalho!...
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2 comentários:

  1. Olá A.
    Palavras também podem dar a cara pelo rosto :)
    Estas mostram-me a espreitar d'Alma ;)
    Deixando uns "smiles", porque não!
    Só comento algo marginal :)))
    Sobre borboletas ou novas aventuras da Nau Catrineta, tem cabimento sempre a Poesia, pois claro.
    Abraço.

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  2. O tempo e o espaço históricos ultrapassam o transcendental, ou seja, o tempo e o espaço em que se situam experiências, ou a configuração de uma realidade, confirmam a fluência em interesse da criatividade, sobretudo no que se refere à capacidade da recriação de uma cena real em linguagem poética.

    Num equilíbrio desigual, mas harmônico, e completamente divergente do título, a arte do poema inaugura uma nova forma de poder, onde o tempo imensurável da poesia é crítica e denúncia das diferenças, das violências do poder institucionalizado e dos espaços com fronteiras, dando visibilidade às contradições de um regime político. A dimensão social é de grande complexidade. O tom irônico, mas libertador, faz do poema um compasso entre a dor e a hipótese de cura, no principal movimento do bater das asas, ora em pouso, ora não, pela esperança que se deseja como deflagradora do voo.

    E a poesia voa na eleição de um dia como este. Ou aquele. Ou como todos os dias em que as mãos se unem à construção de dias melhores, ou pelas minorias vitimadas pela opressão, no respeito à manutenção de uma profissão, ou de um estado profissional, na preservação da dignidade humana.

    E o nome disso também é luta. Ainda que em pouso, e que não seja de calos, mas da tinta que amortece a queda, que não do voo... as mãos.


    Já sem tempo para desejar um Feliz Dia do Trabalhador, bom fim de semana A.

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