sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Vida essa Puta

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Era uma farsa coberta de adágios,
Vestindo uma sedutora nudez descarada,
Disfarçava-se no limite persuadido dos contágios,
Que salgava a carne na cruz de pervertidos sufrágios,
Legitimando a sede aos utentes de putas sufragadas,
Em votos possuídos de cúmplices traições aprovadas,
Nos rumores impotentes de encornados plágios!...

As cabras pastavam na psicologia dos presságios,
E moldavam as tetas com o cio social de falso putedo,
Docência sujeitada pela necessidade de gratuitos estágios,
A seduzir bodes alienados envelhecidos em lautos naufrágios,
Outrora nautas reais que navegavam na juventude do folguedo,
Águas azuis do deus-dará que as putas guardavam em segredo,
Escondendo filhos sem pai afogados em deserdados apanágios!...

Oferecia-se vestida de fascínio a todos quantos a queriam,
 Abria seu peito nu aos beijos em suas mamas fartas, a astuta,
Propunha fazer valer cada momento aos que não lhe resistiam,
Induzindo-lhes vestes nuas aos seus ávidos olhos que a despiam,
Enquanto vestia os olhos dela com a periferia da certeza absoluta,
Daqueles olhos vivos dedicados ao cuidado de uma vida arguta,
Vivaços olhares que aquela vida amava nos vivos que a fodiam,
Os mesmos que davam sua vida pelo amor à Vida, essa puta!...

Os oceanos são agora parte de um desespero mais extenso,
Há necessidades obrigatórias que se escondem no rosto,
Talvez vergonha descarada que navega no desgosto,
De ser obrigada a afogar seu orgulho imenso,
Na necessidade de salvar um futuro suspenso,
Ao qual foi o perdido bom senso da vida imposto!...

Ainda que a morte seja uma puta que nos fode,
É uma puta anónima que na vida nos consome,
Não deixa de ser uma viva puta sem nome,
Que só na Vida é fodida por quem pode!...

Se achas que a podes foder,
O mais certo é estares a ser fodido sem o saber!... 
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4 comentários:

  1. Caro amigo Poeta;
    Excelente poema, onde a metáfora é rainha.
    Bocage na sua tumba, decerto que gostou tanto como eu deste magnífico exercício poético.
    Parabéns.
    Abraço.

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  2. o
    poema
    como uma
    vagina aberta
    descobre
    poesia
    e
    ...
    verte a verve
    (o poeta
    recolhe-a
    na língua)
    Abç

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  3. O poema “Vida essa Puta” não se trata de um olhar crítico que a sociedade tem sobre os excluídos, os marginalizados, os estigmatizados, incluindo as prostitutas, mas de uma visão depreciativa, e necessária, sobre a vida sexual quando deixa de ser de origem íntima para ser coletiva, ou partilhada. Atribuindo complexidade e atualidade à poesia, e privilegiando, através da transgressão contemporânea, uma reflexão sobre os relacionamentos interpessoais mantidos à distância, bem como a contextualização da ética e dos valores morais.

    Como parte da dinâmica poética, a sequência dos versos sugere um ambiente de degradação humana, onde o que deveria ser invisível, ou oculto, emerge numa realidade [“Era uma farsa coberta de adágios, / Vestindo uma sedutora nudez descarada,”] hipócrita e conveniente [“As cabras pastavam na psicologia dos presságios, / E moldavam as tetas com o cio social de falso putedo,”].

    Se a pornografia diverge da tradição erótica por consciência dos limites [“A seduzir bodes alienados envelhecidos em lautos naufrágios, / Outrora nautas reais que navegavam na juventude do folguedo,”], o mau uso da sedução desconsidera deveres éticos e morais [“Escondendo filhos sem pai afogados em deserdados apanágios!...”]. A vida, à disposição da principal manifestação poética [“Oferecia-se vestida de fascínio a todos quantos a queriam, / Abria seu peito nu aos beijos em suas mamas fartas, a astuta,”], revelada em sua vulnerabilidade [“Vivaços olhares que aquela vida amava nos vivos que a fodiam, / Os mesmos que davam sua vida pelo amor à Vida, essa puta!...”], contabiliza o prejuízo: “Os oceanos são agora parte de um desespero mais extenso, / Há necessidades obrigatórias que se escondem no rosto,”.

    Apurado o senso crítico [“Ainda que a morte seja uma puta que nos fode, / É uma puta anónima que na vida nos consome,”], o verso é de militância artística a favor da razão. Não é o poema que está para a poesia de cunho pornográfico, é a vida que, sem poesia é pornográfica [“Se achas que a podes foder, / O mais certo é estares a ser fodido sem o saber!...”].


    ¬

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