quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Carnaz

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Do avesso que a pele trespassava,
A carne viva comia a pele que pelava,
Da carne era insaciável o pútrido apego,
Prurigem viscosa de duplo desassossego,
Que gemendo da podre carnaça execrava,
Gordurenta infecção de náusea sem relego,
Induzindo ao vómito engolido que agoniava,
As próprias entranhas que vomitava!...

No outro lado da gemebunda pele voraz,
Sentes um voraz verme lamber teu interior carnaz!...

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3 comentários:

  1. ... e assim se fez herético

    no sentido do voo

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  2. ...lamurias d'uma carne que ninguém ousaria induzir num verso livre, voraz, viscoso e branco..

    Firmeza d'ânimo ante o perigo dos reveses do Poeta..

    Beijinho da Assiria
    e
    Bom fim de semana

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  3. Enquanto pensamos na morte como alívio para um mal que consome a carne, o poema “Carnaz” sobrepõe-se à vida com um tema que transpassa a carne, e, potencializando a expressividade de decomposição da matéria, possibilita a realização de um pensamento reflexivo, apresentando-nos um acentuado valor de sentido.

    Assim, no tecido decomposto, mais pungência [“Do avesso que a pele trespassava, / A carne viva comia a pele que pelava,”]; na carne pútrida, mais putrefação [“Da carne era insaciável o pútrido apego,”]; na prurigem, mais prurido [“Prurigem viscosa de duplo desassossego”]; na dor, mais dilacerante [“Que gemendo da podre carnaça execrava,”]; na náusea, mais repugnância [“Gordurenta infecção de náusea sem relego, / Induzindo ao vómito engolido que agoniava,”]; no gemebundo, mais lamúria [“No outro lado da gemebunda pele voraz”]; e para a cura, ou o conforto, a impossibilidade.

    O risco, antes de morte desejada, é certeza poética à vida, e, senão à aprendizagem seguida de dor, à sua administração no alívio de mazelas interiores [“Sentes um voraz verme lamber teu interior carnaz!...”], no desejo de transcender a própria ferida.


    ¬

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