quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Terrorista

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Nalguns estados em estado de riqueza,
Governam-se hábitos de mansa pequenez,
Ossadas de quadris revelam estados de pobreza,
Aos salários mensais já foi roubado o final do mês,
Uma criança abandonada chora sem saber o que fez,
Começou a servir-se a fome em estado de crueza!...

O branco foi abatido entre a cinza da velha pomba,
Asas de fome estrangulam a cor da última pena de paz,
Há alguém a cismar que entre morrer e o morrer, tanto faz,
Vestem sacrifícios dos cordeiros com a explosão duma bomba,
De uma ranhosa lágrima inocente escorre brilho de ideias más,
Um bebé ainda nas raízes do berço é acusado de Satanás,
Na Humanidade abate-se a verdade que tomba!...

Na aterrorizante crise de valores incalculáveis,
Todos defendem suas consciências tranquilas,
Ao serviço de imorais dinheiros abomináveis!...

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1 comentário:

  1. “Terrorista” é um poema de expressão crítica e denúncia, com temática na realidade social e política e dialeticamente essencial à manifestação da consciência social.

    A conquista dos direitos humanos e políticos não garantem os direitos sociais mais elementares à grande maioria da população [“Nalguns estados em estado de riqueza, / Governam-se hábitos de mansa pequenez,”], e a cada dia esses direitos são desrespeitados [“Ossadas de quadris revelam estados de pobreza, / Aos salários mensais já foi roubado o final do mês,”], gerando atos de violência de natureza física e moral [“Uma criança abandonada chora sem saber o que fez, / Começou a servir-se a fome em estado de crueza!...”].

    A credibilidade com o mundo real demanda uma série de questões sobre o nível de conscientização que devemos atingir [“O branco foi abatido entre a cinza da velha pomba, / Asas de fome estrangulam a cor da última pena de paz,”], o poder imaginativo do poema confluiu diretamente com o caráter desumano, e, consequentemente, altera nossa percepção sobre o mundo [“Há alguém a cismar que entre morrer e o morrer, tanto faz, / Vestem sacrifícios dos cordeiros com a explosão duma bomba, / De uma ranhosa lágrima inocente escorre brilho de ideias más,”], incitando-nos a repensar o verdadeiro sentido da democracia, da liberdade e até da tolerância [“Um bebé ainda nas raízes do berço é acusado de Satanás, / Na Humanidade abate-se a verdade que tomba!...”] e, principalmente, também do poder ao qual estamos subjugados.

    Todo e qualquer ato terrorista [“Na aterrorizante crise de valores incalculáveis,”] resulta numa miséria degradante e tem o poder de esmagar uma cultura inteira com um único golpe. O poema sabe, mas é da poesia o mérito de descrever, historiando, a preocupação social, atingindo seu desfecho além da beleza estética, mas à necessidade urgente da [re]humanização da sociedade que precisa ser reformulada [“Todos defendem suas consciências tranquilas, / Ao serviço de imorais dinheiros abomináveis!...”], bem como seus valores e seus critérios de percepção.


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