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Cultivado na intenção caiu um grão de
milho,
E logo alertou a fome duma pomba
sorrateira,
Silenciosa caminhou ao longo da calada
caleira,
Sob as telhas expostas à sombra da fome do
filho,
As penas que escondiam o esfomeado empecilho,
Alimentavam os olhos de uma ocasião
matreira,
Conforme revela um ladrão, incendeia o
rastilho
Caiu a pomba infiel aos pés duma fisga
certeira!...
Os pombos solitários andam por aí desorientados,
Enjeitando sujas pombas brancas
desempregadas,
Negras nuvens de negros abutres voam
carregadas,
Trazem as sombras vorazes dos apetites insaciados,
Chuva vermelha cobre a fome de pássaros
apeados,
Pombos desarmados abandonam pombas armadas,
Esquecidas das brancas penas de seus voos
amados,
Caídas em cinzas negras de velhas searas
queimadas!...
Se por ocasião das colheitas preciso for,
Virão corvos brancos e pacíficos falcões,
Flores vermelhas e os cravos de outra cor,
Cortar o pio medroso de outras ocasiões,
Com dois afiados gumes das expressões,
Sulcadas na cegueira da fome com fervor!...
Deixaram-se esguiar as asas da liberdade,
Sucumbiram as pombas proibidas de voar,
É tão diferente o céu no inferno da realidade,
Reais diferenças entre a diferente
igualdade,
De ver livres pombas deixarem-se arrastar!...
E é nos ninhos abandonados de filhos sem
nome,
Que leio cortes nas asas daqueles que não
sabem amar,
Apenas porque lá no alto voam os que não
ensinam a lutar,
E toda a coragem das penas foi caindo na inconsciência da fome!...
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