sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Caligrafia

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As letras do alfabeto brincavam divertidas,
Com a arte das canetas que as escreviam,
O metal da pena era quem primeiro as liam,
E elas vestidas de nanquim para serem lidas,
De mãos dadas com restantes letras amigas,
Faziam-se palavras que da tinta escorriam!...

Agora que os analfabetos já sabem ler,
A personalidade é uma indistinta caligrafia,
Dos professores que pouco sabem escrever,
Confundem-se com ignaros erros na ortografia,
Absorvidos pelo mata-borrão de triste dislexia,
Manchado na mancha que mancha o saber!...

As letras são agora abatidas,
Por um acordo mal reciclado,
Juntam-se as palavras corrigidas,
Ao desconhecimento de ter errado,
E aqui temos mais um erro ignorado,
Pelo carácter de culturas perdidas!...

As canetas tristes secaram nas escolas,
Já não brincam com as letras empobrecidas,
Que com as pobres palavras vivem de esmolas!...
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2 comentários:

  1. As letras

    hoje sem cobertura

    já não se desenham

    Bom texto

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  2. O poema "Caligrafia" destaca-se pela importância da comunicação na interação de complementaridade dos relacionamentos, bem como pelas diferenças de linguagem, culturas, valores e conhecimentos que geram conflitos e prejudicam a mensagem de ser decodificada corretamente.

    Como numa brincadeira de criança [“As letras do alfabeto brincavam divertidas, / Com a arte das canetas que as escreviam,”], em que a inocência revela a expressão da verdade e da pureza, as letras, estimuladas pela amizade e pela proximidade de um leitor especial [“O metal da pena era quem primeiro as liam, / E elas vestidas de nanquim para serem lidas, / De mãos dadas com restantes letras amigas, Faziam-se palavras que da tinta escorriam!...”], unem-se na criação de palavras e favorecem o diálogo.

    Mas, assim como os brinquedos se desgastam, as palavras, após serem assimiladas [“Agora que os analfabetos já sabem ler, / A personalidade é uma indistinta caligrafia,”], perdem sua dinâmica de essência e passam a ser moldadas a partir da linguagem que, cada um, através da sua vivência e de acordo com sua cultura, constrói sua identidade [“Dos professores que pouco sabem escrever, / Confundem-se com ignaros erros na ortografia,”]. E, nem sempre, por mais próximo que se chegue de uma compreensão adequada, se consegue estabelecer uma comunicação que expresse claramente seu significado [“Absorvidos pelo mata-borrão de triste dislexia, / Manchado na mancha que mancha o saber!...”], da obstrução de conceitos à adsorção de sentimentos, o ruído na comunicação, e consequentemente, o prejuízo nos relacionamentos.

    Um acordo [“As letras são agora abatidas, / Por um acordo mal reciclado,”], previamente estabelecido entre os interessados, foi aprovado com a intenção de unificar a ortografia e minimizar as diferenças [“Juntam-se as palavras corrigidas, / Ao desconhecimento de ter errado,”]. Há controvérsias [“E aqui temos mais um erro ignorado,”]. É difícil chegar a um consenso em relação às regras ortográficas [“Pelo carácter de culturas perdidas!...”].

    E quando pensamos que não havia nada mais para deteriorar a caligrafia [“As canetas tristes secaram nas escolas,”], a surpresa [“Já não brincam com as letras empobrecidas,”]: Imprescindível não subestimar a poesia [“Que com as pobres palavras vivem de esmolas!...”].


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