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Encontrei uma Quem-me-Dera debaixo da Esperança,
Quem me dera o que dela por mim se perdeu,
E quem por ela se perderia fora eu;
Sou Quem-me-Dera da Quem-me-Dera que não alcança,
Dera por ela em Quem-me-Deras de despeitada vingança,
Por Quem-me-Deras que em Quem-me-Deras se desvanesceu!...
Foram semeadas Quem-me-Deras entristecidas,
Em jardins de Quem-me-Deras sem cor,
Falam em Quem-me-Deras de Amor,
Quem-me-Deras por todos apetecidas,
Arranjos desflorados de Quem-me-Deras floridas,
Floristas tristes em Quem-me-Deras de dor!...
Pudera eu dar alento a Quem-me-Dera,
Não me dando a quem eu não quisera,
Querer de mim quem de ti soubera,
Quem de ti, por mim, sempre soubera Amar,
Soubera eu que partes de mim dar,
Dando múltiplos do que não me deste,
Quem-me-Deras de tua indiferença agreste,
Asfixia transbordante de quem me dera o ar,
Oxigénio vivo que de alguém fizeste,
Respirando Quem-me-Deras do que disseste,
Quem-me-Deras confessadas de teu pensar!...
Quem-me-Deras,
São como quimeras,
Quimeras de Quem-me-Deras,
Primitiva cobiça prenhe de ilusões,
Gestação traída por prometidas esperas,
Quem-me-Deras de traídas traições!...
Esquecem as Quem-me-Deras de regar o Amor,
Com o Amor de Quem-me-Deras arrependidas,
Quem-me-Deras desejadas por qualquer estupor,
Sem Quem-me-Deras no jardim de suas vidas!...
Ainda que sejas quem Quem-me-Deras não tem,
Serás Quem-me-Dera de quem a ti mesmo te dera,
Ou Terás Quem-me-Deras cobiçadas por alguém!...
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Um poema DiVerso para uma poesia d'Alma.
ResponderEliminarNo caminho da leitura o solo é fértil à criatividade e à imaginação, e o poema “Quem-me-Deras” floresce num jardim onde um pretérito mais-que-perfeito reflete uma poesia de hipótese, desejo e aspiração, destacando-se pela harmonia e serenidade, pelos aromas que exala e pela paz que, apesar de revolver um passado presente de desencontros, conforta.
O tempo passou. Um perfume exótico, um cheiro à memória [“Quem me dera o que dela por mim se perdeu, / E quem por ela se perderia fora eu;”] e somos despertados pela semente poética, mérito do ritmo crescente dos versos que brincam de aparecer e de desaparecer, florescendo um sentimento de desamparo e solidão [“Arranjos desflorados de Quem-me-Deras floridas, / Floristas tristes em Quem-me-Deras de dor!...”].
Uma hipótese [“Pudera eu dar alento a Quem-me-Dera,”] e um jardineiro. E se não for para salvar o jardim, ou a flor, para salvar a poesia [“Não me dando a quem eu não quisera”], contribuindo com elementos necessários ao cuidado, na aspiração de ser, senão correspondido, pelo menos compreendido [“Respirando Quem-me-Deras do que disseste, / Quem-me-Deras confessadas de teu pensar!...”].
Do sonho, construído na ‘espera’ [“Encontrei uma Quem-me-Dera debaixo da Esperança,”] à utopia [“Quem-me-Deras, / São como quimeras,”], um passo, ou a próxima estrofe, confirmada pelo primeiro verso e desvelada pela falta de amor próprio [“Esquecem as Quem-me-Deras de regar o Amor,”]. Por melhor que seja, enquanto sonho, apenas um sonho [“Quem-me-Deras desejadas por qualquer estupor, / Sem Quem-me-Deras no jardim de suas vidas!...”] para acordar a realidade que frutifica, ou floresce em cada leitor, e a cada um de acordo com as suas vivências.
Não concretizado [“Ainda que sejas quem Quem-me-Deras não tem,”], o desejo, ou a cobiça, resta o lamento [“Serás Quem-me-Dera de quem a ti mesmo te dera,”]. Ou a alternativa [“Ou Terás Quem-me-Deras cobiçadas por alguém!...”]. Um recurso cruel para um desfecho doloroso, pelo solo, esse terreno fértil, mas também infértil, quando, sobre expectativas ilusórias. Exceto pela poesia d’Alma, que, favorecendo a colheita da reflexão, faz crescer a produtividade.
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