sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Hipocrisia - (Sopinha de Cebola com Lágrimas de Crocodilo)



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Mais do que serem meus Poemas também,
São os Poemas revelações de verdades krystalinas,
Envoltas algumas na conveniência de densas neblinas,
Que escondem as biografias inconvenientes de alguém,
Tão capazes da personagem que mostram, ficar aquém,
Achando que mais vale ser uma ilusão atrás da cortina,
A mostrar-se nada do muito que é ser ninguém!...

É asfixiante a hipocrisia de um Natal decomposto,
Para quem os dias são natais abortados todo ano,
Filhos de iguais natais e de um outro natal germano,
Puros descendentes de si mesmos e seu oposto,
Pais de quem não são e iguais mães sem rosto,
Assexuados hermafroditas de calor ufano,
Escritos na infernal frigidez do desgosto!...

Aqui está mais um mês de Natal,
Dezembro como só ele sabe ser,
Sendo Dezembro imparcial,
De um espaço ancestral,
Onde a luz do anoitecer,
Começa um claro tecer,
De uma fímbria bestial,
Em bestas de fraco suster,
Tão erróneos em seu limite natural,
Tenazmente apegados a um ridículo pascer,
Só ao alcance dos néscios com predestino original,
Apoiados por iguais meios que igualam um parvo literal,
E assim se constrói uma nada de nada no desconjugar do verbo encher!...

Estando com desejo de uma sopinha,
Mas não uma qualquer,
Carla, minha esposa e Mulher,
Sabendo meu gosto por qualquer hipócrita mesquinho,
Comoveu minha vontade pedindo-me com todo o carinho:
-Amor, faz uma sopinha de cebola para esta que tanto te quer!...
Pensando eu nos coitadinhos da vida chorei como um rapazinho,
Lágrimas de cebola, é certo, que eu guardo para dar a quem vier,
Mas venham só os ricos porque, para dar, eu tenho poucochinho,
Sobraram as lágrimas da cebola que com a sopa chorei sozinho,
Guardando, para quem não precisar, delas, o sal numa colher!...

São estas vossas lágrimas sem causa,
Que alimentais com vossa hipócrita solidariedade,
Secando em úteros de vossa hipócrita menopausa,
E do tesão genital que se foi sem dó nem piedade,
Restando o sal das lágrimas de vossa falsidade?!...

Quem dá mais pelo Menino Jesus?...
É dos pés à inocência de ouro maciço,
Prenda para quem aprenda a fazer jus,
De sua viva hipocrisia assinada de cruz;
Não há quem queira dar-lhe o sumiço?...
Bate forte o bater no peito na porta...
                                                               trus trus...
    Apresenta-se o hipócrita para todo o serviço!...

 Há tanto arroz solidário deitado às pombas,
E tanta fome a pagar Natais cheios de bombas!...

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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Hipocrisia.(I)

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Dos anos de hipocrisia,
Abeirava-se a luz de antigamente,
Debilmente!...
Tímida luz que há muito não se via,
Ofuscada por electrões em demasia,
Intermitente!...
A fé iluminada por pagã ironia,
Abria-se a mais um Natal de presente,
Escarnecido ironicamente,
Pelo verde do pinheiro que caía...
Da solitude iluminava-se a poesia,
Hipocritamente!...
Uma estrela cadente,
Atravessou uma lágrima que caía,
Luzente!...
Daqueles olhos era Luz que escorria,
Cheios de toda a fé ausente...
Hipocrisia!...
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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Êxtase

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Quando estocada pelo beijo mais forte,
Em seu recatado “G” que só ela conhecia,
Entregava-se àquela dor que não doía,
Sentindo florescer tão plena de sorte,
Da tediante sensação da morte,
Num interminável espasmo que a possuía;
...era como... se... depois do torpor,
De um entorpecido amor,
Fosse possuída por todos os prazeres em plena harmonia...
Desflorada mil vezes pelo desejo da dor...
E gemia...
                       Gemia...
                                            Gemia...
Até ao êxtase numa silenciosa melodia!!...

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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Covardia


Se não houver orgulho que mate,
Esta covardia que nos anda a matar,
Seremos cúmplices deste terrível dislate,
Aqui nos deixamos morrer sem combate,
Enquanto vemos  nossos filhos suplicar,
E tudo que sabemos é definhar,
Neste estado de abate!...

Somos o que dizemos não ser,
Lesmas pálidas coladas aos ossos,
Somos retratos moles dos olhos vossos,
Nos rostos impávidos que fingimos não ver,
E tudo que fazemos é deixarmo-nos morrer,
Abraçados a filhos que já foram nossos!...

Há um brilho intenso,
Esquecido bem no fundo de ti,
Tua Alma é prisioneira do consenso,
Consensual cárcere do teu medo imenso,
Há uma chave de ouro fechada em si,
Que abriu as portas ao contra-senso,
No carcheio de um Judeu que ri!...

Porque tens medo,
De apontar o dedo,
À tua imprópria vida,
Se já a sabes perdida,
Restando o degredo,
De tua honra ferida?!...

Não chores caro tíbio amigo,
São teus filhos que te vão enterrar,
Herdeiros sem força para gritar...
-Acredita na bofetada que te digo-
Poupa-te à visão de um mendigo,
Que por tua covardia ficará a chorar,
Tão triste é saber um filho mendigar,
Preferindo ele ser enterrado contigo,
Por não ter vanglória onde se abrigar!...

Se essa terra sobre teus olhos fechados,
Te deixasse ver o fruto de teu ser tão inerve,
Saberias para o que a covardia serve!...

... e não voltarias a morrer...
Não antes de combater!...
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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Rogatória

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Trás contigo,
Um leve travo adocicado,
Não tragas teu mel antigo,
Perdição desse doce castigo,
Tão amargamente castigado,
Pelo beijo que não foi provado,
E entre os lábios ficou perdido!...

Por tudo que não me deves,
Tendo-te por minha dívida tão leve,
Não rogo a quem muito de ti me deve,
E ante teus insistentes pedidos breves,
Finco-me no fazer-me de rogado breve,
Rezando para que não me leves!...

Ardem tuas plumas angelicais,
Na lavra das labaredas rogatórias,
Descaradas línguas de fogo infernais,
Sobrevoando teimosas trajectórias,
Indecisos purgatórios de histórias,
Limbo de tuas súplicas celestiais!...

Consumida levas-te contigo,
Em tuas extintas chamas serviçais,
Desistindo do meu lume que arde comigo!...

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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Arrepio...


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Passou pela unha um olhar cortante,
Insinuou-se ao sabugo com olhar frio,
Deu-lhe a lamber a lâmina deslizante,
E possuiu-o num meigo corte adiante,
Provocando um rente e gélido arrepio,
Na pele de um inciso lábio arrepiante!...

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sábado, 3 de dezembro de 2011

Brinde...

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...Sabe-me bem beber à Amizade,
Saborear um suave travo de afeto,
Apontar um copo alegremente inquieto,
Na direcção de outro copo com a mesma vontade,
Encho o brinde com o melhor da sinceridade,
E bebo à saúde de um saciar completo,
À distância de meio copo discreto,
Que enche a outra metade,
Com sabor de Saudade!...
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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Restauração

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...depois da euforia do fado alegre desumanizado,
Oferecido às mudas vozes do mundo em degradação,
Fecha-se a voz de Portugal num apodrecido caixão,
Que por um Abril coveiro ao país foi emprestado,
Com usurários juros sem margem de perdão,
E lá vem o Povo por políticos crucificado,
Por cada empréstimo mais curvado,
Até já não poder sentir o chão,
Sem saber se vai ser enterrado,
No mesmo lugar do coração,
Deste Povo desorientado!...

Definha a voz traída,
Rendida à ditadura da coerência,
Morreu a restaurada independência,
De todo um orgulho histórico esvaída,
Atraiçoada Alma que foi vendida,
Sem precaução nem advertência,
Deixando que fosse permitida,
A censura à memória colectiva!...

Permitam-me uma lágrima independente,
Não se importem com a página que de nossa História foi arrancada,
Deixem-me comigo mesmo ser todo por mim coerente,
Ainda que a Alma nobre deste Povo e Nação valente,
Tenha sido por vis bestas de Abril profanada,
Pressentindo-se um desalmar iminente!...

Mais páginas cairão,
Do livro onde o sangue há-de escorrer,
Muitas páginas ensanguentadas irão morrer,
Para que um dia seja lavrada no coração,
A restauração do sempre povo no poder,
Grito de independência desta Nação!...

Entretanto...
Neste frio Outono,
Cresce lento um triste manto,
Sobre o lamento de um lento canto,
Abrigado na tua voz sem dono!...

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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Trapos...


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Velhas...
Muito envelhecidas por tanta cultura,
Palavras à condição sob tortura...
Velhas...
Sombras de palavras com muita ternura,
Luz emanada de seu viçoso epicentro,
Carne viçosa dos jovens corpos velhacos,
Muito jovens por fora de seus interiores fracos...
Velhas...
Por dentro,
Onde se rasga um coração de trapos,
Resto que de resto se mistura,
Com a graxa que tece desejos opacos,
Brilhando por fora...
Velhas...
Jovens palavras de outrora,
Tecidos intactos os cacos,
Partidos na chegada do medo da hora,
Que se vai rasgando na demora...
Velhas...
Pesadas nos estilos antigos da figura,
Figura de estilo na metáfora de quem atura,
O declínio da sapiência,
O saber das palavras de boa aparência...
Velhas...
Com amargura,
No atrito do discurso em decadência,
O amargo sabor da velha doçura,
O regresso revoltado à inocência,
De difusos vultos...
Velhas...
Palavras vestidas com andrajos consternados,
Farrapos caídos do tecido dos corpos cultos,
Tenros corações que restam...
                                                                       esfarrapados!...

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domingo, 27 de novembro de 2011

Que se Fado... (2ª farpada)


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Dai-lhe sardinha,
Ao fado,
Mal assada e gordinha,
Dai-lhe broa de milho quentinha,
Ao pobre vadio mal cantado,
Dai-lhe um velho tinto alienado,
E a voz do povo que ele tinha,
Antes de lha terem roubado!...

Devolvam-lhe a dignidade,
Ao fado,
Cantem a Alma do desalmado,
Sem essa produzida falsidade,
Ao silêncio do fadista calado,
Devolvam-lhe a sua humildade,
De cantar as lágrimas do pecado,
Com a voz de quem foi roubado,
Pelo capital da falsa saudade!...

De que raio é este fado feito,
Cantado por ricas divas sem voz,
Se quando cantam ao pé de nós,
Fazem-no sem qualquer respeito,
Pensando apenas no proveito,
Que a herança de seus avós,
Lhes legou sem haver direito?!...

Se a Alma se canta por legado,
Fazendo de conta que o riso chora,
Então está mais do que na hora,
De acabar com este atentado,
Ao fado,
Tirar o pio ao choro mal chorado,
E tocar a guitarra onde ele mora,
Desabrigo de quem geme lá fora,
O Destino que lhe foi roubado!...

Se só os ricos protegidos chegam ao coliseu,
Pagos a preço d’ouro pelo fado que não é seu,
E o sofrimento de um Povo não é declarado,
Por ser um popular sentimento disfarçado,
Então vos canto eu:
-Que se foda essa treta do vosso fado!...
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