domingo, 27 de novembro de 2011

Que se Fado... (2ª farpada)


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Dai-lhe sardinha,
Ao fado,
Mal assada e gordinha,
Dai-lhe broa de milho quentinha,
Ao pobre vadio mal cantado,
Dai-lhe um velho tinto alienado,
E a voz do povo que ele tinha,
Antes de lha terem roubado!...

Devolvam-lhe a dignidade,
Ao fado,
Cantem a Alma do desalmado,
Sem essa produzida falsidade,
Ao silêncio do fadista calado,
Devolvam-lhe a sua humildade,
De cantar as lágrimas do pecado,
Com a voz de quem foi roubado,
Pelo capital da falsa saudade!...

De que raio é este fado feito,
Cantado por ricas divas sem voz,
Se quando cantam ao pé de nós,
Fazem-no sem qualquer respeito,
Pensando apenas no proveito,
Que a herança de seus avós,
Lhes legou sem haver direito?!...

Se a Alma se canta por legado,
Fazendo de conta que o riso chora,
Então está mais do que na hora,
De acabar com este atentado,
Ao fado,
Tirar o pio ao choro mal chorado,
E tocar a guitarra onde ele mora,
Desabrigo de quem geme lá fora,
O Destino que lhe foi roubado!...

Se só os ricos protegidos chegam ao coliseu,
Pagos a preço d’ouro pelo fado que não é seu,
E o sofrimento de um Povo não é declarado,
Por ser um popular sentimento disfarçado,
Então vos canto eu:
-Que se foda essa treta do vosso fado!...
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2 comentários:

  1. …tudo isto existe, tudo isto é triste tudo isto é fado!
    Pois é!.. Engane-se quem disser ou pensar o contrário. …lá porque o fado se faça ou se preste a um bom candidato “Financeiro-ó-Mundial”, não quer dizer, que nos traga capital… ao invés… lá se vai na Capital, tasca do Xico Zé, aonde por entre - Vivas ao Fado, com o pedaço de broa “na boa”,aparentando que o povo sabe o que quer e o povo sabe o que diz - se batiam alegres palmas à “fortuna” do país...

    E agora o que é que vai ser do [seu] destino?
    Nem o Xico Zé diz!...

    T'Abraço
    de
    novo...

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  2. O que tem o fado de nostálgico, “Que se Fado... (2ª farpada)” oscila entre a alegria, sem ser divertido, e, a tensão, sem ser dramático. Se, por um lado, o fado pode ser considerado como ‘expressão do destino’, voltado à felicidade e à esperança, o poema não admite essa possibilidade, mas mesmo assim não é do drama o ritmo poético. É da sátira que discursa poeticamente dentro da memória e se projeta para fora dela, posicionando-se contra uma realidade atual que se situa no centro de uma descontinuidade, mediante a tradição que sucumbe de um passado glorioso, e que deveria ser, além de lembrado, preservado, reconhecido e cultuado.

    Mas, se é do desfecho o grito de alerta, a poesia é do debate intelectual que d’Alma provoca, e de encontro à temporalidade fixa por ser histórica, critica a elite reivindicando ações culturais e elegendo os símbolos que caracterizam sua defesa.

    Uma ação pedagógica que somente d’Alma é capaz de realizar com tamanha beleza.


    ¬
    [Aplausos]

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