sábado, 12 de março de 2011

Paleta




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Deitou-a na paleta,
Onde seu sonho se quis deitar,
Misturou-a com duas pétalas de violeta,
Sobre o traço suave de uma borboleta,
E pigmentou o celeste céu azul no ar,
Dando asas à imaginação a voar,
Cor de fantástica faceta,
Prestes a sonhar,
Com a cor,
Que o amor,
Uma flor,
Quis pintar!...

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quarta-feira, 9 de março de 2011

Vizinho do Judeu



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Um vizinho de um pobre Judeu,
Que pelo martírio já havia enriquecido,
Comprou a patente de todo o sofrimento conhecido,
E um grato passe em branco que ficou como seu,
Justo monopólio que o sofrimento lhe deu,
Sacrificado ouro do vizinho esquecido!...

Há um dentista por dentes de ouro urdido,
Que arrancou o ouro das dores a sangue frio,
Confundindo seu ouro com o ouro do bandido!

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(in)Gratidão...




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… Tão ingrata a gratidão,
Que impõe a lei de seu trato,
Antes da obrigação de ser grato,
Obrigando o ingrato por indução,
A ser tão grato por ingratidão;
E assim vai cumprindo o contrato,
Contrafeito por obrigação!...


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segunda-feira, 7 de março de 2011

Máscara


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Sumptuosa árvore, poderosas raízes,
Sustentando a força que o povo agradece,
Gigante imponente de silenciosa dialéctica,
Beneplácito crente de atitude patética,
Sem as benesses das horas felizes,
Horas insensatas de que o povo padece,
O povo público… a Pobreza!...
Sempre à volta do pau, gravando mensagens,
Talhando a eito,
Atalhos,
Com firmeza,
Sem derrapagens,
Aposta do peito que fortalece,
O poder fraco da palavra,
Fraqueza imponente das imagens!...
Atalhos,
Talhados nos rosto, gravados na vergonha,
Risos e sorrisos fechados, amarelados,
De todas as cores,
E favores,
Abertos, sempre, a mais um baptismo,
A mais uma cegonha,
Desacreditada por esses abutres,
 Donos da verdade;
Espertos,
Despertos,
Adormecidos,
Possuídos,
Sempre à volta do pau,
Nada mau!...
Moldando mais uma máscara conveniente,
À ocasião sempre presente,
De adivinhar uma simpática verdade,
Num qualquer incapaz,
Vestido de insuspeita bondade!...
Horas insensatas de que o povo padece,
O povo público…
Que todo o castigo merece!...
Um prémio, mais uma benesse,
O melhor lugar no espectáculo lúdico,
E, quem sabe, uma máscara ainda melhor,
Mais um favor, nada pior,
Chegar onde nunca chegou,
Nem nunca o sonho ousou chegar!...
É uma nova máscara a talhar,
Bem trabalhada na ideia,
Concebida à catanada,
Ajustada a pontapé,
Nos ventos de quem semeia,
Campos de marretada!...

Atalhos bem talhados?!...
Entre o talho e o atalho,
Há qualquer coisa que cheira mal,
Um descuido malcheiroso, coisa e tal,
E lá cai a coisa revelando a “cara”;
 É que entre a latrina do passado,
E a sanita interactiva do futuro,
Vagueia muito mijo disfarçado,
 De cagalhão bem duro,
Mas não é de todo seguro,
Porque em tanta porcaria misturado,
Ficou-lhe o cheiro alterado,
Não passando despercebido,
Passando por ser o que não é,
Sendo confundido até,
Com aquilo que havia sido!...
Mas mesmo isso foi derretido,
Na temperatura do sol quente,
E enquanto se ia evaporando,
Impõe-se uma questão pertinente:
-Que seria aquele mijo,
Se em vez de mijo fosse gente?!...

Arbusto de raiz insegura,
Ao sol, de sombra despido,
Apeadeiro de território canino marcado,
Denuncia um cheiro infectado,
Naquele rosto abandonado,
Talhado a coices de cavalgadura!...
Máscara caída que ninguém viu,
Talhada da sumptuosa árvore que caiu!...
Ainda assim, nisto de árvores caídas,
É preciso tomar caldinhos de cautela,
Pois há sempre calculadas investidas,
Daquele que talhou uma gamela;
Fitou-a, fez-se a ela,
E cismou fazer dela,
 A máscara mais bela!...
Tirou-lhe as medidas,
Deitou-se nela,
E nela tomou o gosto,
 De nela comer!...
Pois!
Mãos à obra e toca a serrar,
Esculpir,
Talhar,
Suas medidas há que ajustar,
Medidas incertas, não há porque errar!...
Pois!

A coisa ficou pronta,
E do que parecia uma ideia tonta,
Pior coisa não podia sair;
Com as folhas a cair,
A madeira arreganhava,
Fustigada pelo sol quente,
Enquanto o fogo se aproximava,
Impunha-se uma questão pertinente:
-que seria aquela gamela,
Se em vez de gamela fosse gente?!...

Máscaras caídas que ninguém viu,
Talhadas da árvore que nunca existiu!


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quarta-feira, 2 de março de 2011

Vento de Esperança

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Não foi o vento frio de Esperança,
Que da Esperança, minha Esperança voou,
Não foi a liberdade de minha asa que ficou,
Na quietude da outra asa silenciosa e mansa
Adormecida num translúcido olhar que amuou,
Cansado olhar alcalino que já não cansa!...


Fixado em quatro paredes de morte,
Avançam pesados sobre mim,
Sombrios epitáfios de negro recorte,
Jazigo íntimo de minha fadada sorte,
Depois do calvário curto e lento,
Longo caminho de tormento,
Tardando o vislumbre do fim,
Sem sobrepor a negação ao sim,
Chaga a luz da consciência já torpe,
Que consome a esvaída convicção forte!...

O derradeiro voo, feliz de saudade,
Do sorriso feliz de quem conseguiu voar,
É passarito frágil com asas de liberdade,
Cruzando os oceanos, cálidos de prazer,
Montanha de céu onde respiro viver,
Nuvens dispersas a desfragmentar,
Na providência da tenra idade,
Reverso químico da felicidade,
Cópia matriz de genético Ser!...

Não foi o vento da Esperança,
Que da Esperança, minha Esperança voou,
Quando meu cabelo levou!...

Anjos brancos que por mim voam,
Velocidade da Luz que por mim passa,
Trompetas floridas que boas novas entoam,
Notas vivas que as melodias da vida enlaça,
Abraço do Milagre germinado da desgraça,
Como despedidas doentes que magoam,
Nas falsas partidas que a vida graça!...

Não foi o vento da Esperança,
Que da Esperança, minha Esperança voou,
Quando meus sedosos cabelos levou,
O mesmo vento de quem alcança,
A felicidade de trabalhar a longa trança,
Do longo cabelo que voltou!...

Foi esse vento de Esperança,
Que minha Esperança renovou!...

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Mimosa

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Pousa na verdura… nu,
Faz Amor com ela,
Masturba-se!...
Sente a sensível brisa chegar,
Agita-se o fogo na delicada Mimosa,
Refrescando a verde e amarela voz que diz:
-Feliz?!...
Vem-se daquela amante,
Acaricia-se sobre ela,
A mimosa atrevida e radiante,
De mim se despede,
A meiga e verde voz amarela!...

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Espelho

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Estranho este estranho despertar sem norte,
Sul invertido de uma estranha projecção forte,
Enigma do olhar fitado na cópia do avesso,
Fitando quem a hipnose fita em visão torpe,
Confusa visão essa de convexa cicatriz de corte,
Rasgando o mundo de esvaído sangue espesso,
Tua expiação de meu leve sorriso que entristeço,
Vida contrária reflectida no contrário da morte,
Reflexo ausente da imagem ausente de sorte,
Cópia clara da perfeita luz que escureço!

Tocamos nossas mãos que não se tocam,
Aproximam-se meus etéreos lábios dos teus,
Beijo volátil em anestesiados lábios meus,
Amor proibido que os teus olhos evocam,
Íris de meus medos que teus medos focam,
Transparente reflexo sem Alma nem Deus!

Na concha lisa onde abraço o eixo de luz fulgente,
Deslizo entre danças sedutoras de brilho cintilante,
Sigo teu passo, passo de meu passo, teu amante,
Dimensão fugidia de tão igual miragem diferente,
Fugindo de mim, procura teu encontro incessante,
Côncavo de teu efémero abandono indulgente,
Teu convexo corpo escravo de meu sangue quente,
E repouso em ti, que em mim repousas expectante,
Equilíbrio sobre esfera em descontrolo iminente,
Do espanto duvidoso de uma certeza hesitante!

Um feixe de Luz disparado em trajectória angular,
Investe suave no reflector contrário que diverge,
Desvanecendo uma hipnose de fixação crepuscular,
Raio de Sol sem reflexo que do Amor emerge,
Infinitas partículas de espelho em interdito mirar,
Desvanecido Narciso que no crepúsculo submerge,
Feitiço meu que só eu, de mim tu podias quebrar!

Somos agora um reflexo frio do sangue que temos,
Estátuas frias de vidro que do outro lado vemos,
Frio Amor cúmplice de nosso igual pensamento,
Bizarra imagem fascinante pela qual morremos,
Vislumbre culpado de espelhado momento!

Estavas tu tão perto, atrás de mim, do outro lado,
Espelho de mim no meu reflexo espelhado!



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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

…!?...Lágrimas…?!...





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Porque a lágrima sorridente,
Só é triste,
Na tristeza que assiste,
Á tristeza da própria mente?!...
Será uma felicidade diferente,
Da felicidade que resiste,
Á felicidade de muita gente?!...
Talvez…

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tatuagem na Queda







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…E com a dor da cicatriz,
Tatuam-se na memória,
Com as agulhas da história,
Dívidas de uma história infeliz,
Como  a árvore de fruto… sem raiz,
Vergada pelo fruto na queda inglória!...


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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

...Vontade Amorfa



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Nos queixumes de um olhar sem vontade,
Ainda ressoam as promessas dos meliantes,
Ecos sem abrigo que morrerão sem a saudade,
Do pão de cinza que lhes alimentava a verdade,
Fogo sublime dado à vida que ardia por instantes,
Entre lampejos das horas verdes e fustigantes,
A palidez amorfa de espelhos sem vaidade!...

Dezoito Virgens darão à costa,
Geradas no útero da Terra violentada,
Mãe, tão Mãe, por demais desventrada,
Por tão ingénuas perguntas sem resposta,
Solução do pobre espírito que tanto gosta,
Silêncio vazio de um grito cheio de nada!...

Dos vómitos de Homens fracos,
Crescerão Crianças entre a carne rasgada,
Cicatrizando feridas de Vidas desfeitas em cacos!...


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