quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Esplim (Melancolia Existencial)








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Talvez sim,
O princípio esteja na existência,
Talvez na primeira impressão da aparência,
Ou na aparente impressão de princípios assim,
E nada exista!...
A fantasia e o olhar a florir entre flores de jardim,
As cores, cada perfume e a sua fantástica essência,
Os regatos de cristal e as fontes incríveis de marfim,
A sorte longínqua e lenta dos elefantes, pesada e ruim,
O vapor das lágrimas transparentes em evidência...
Talvez sim,
    E nada exista...
Tudo gire num bailado harmonioso de inocência,
E um ou outro sublime estado de abstrato esplim,
Talvez a razão do fim do mundo, afinal não exista,
    E só para todos nós e todas as coisas haja um fim!...


Talvez tudo que existe seja irreal,
Talvez a melancólica realidade não resista,
A esta melancolia existencial,
   E nada exista!...

   
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1 comentário:

  1. Esplim (Melancolia Existencial) contém no advérbio de dúvida, não a hipótese, mas a convicção no caráter de desenvolvimento da literatura e no valor da Arte ao encontro com a avaliação crítica, ampliação da sensibilidade, compreensão e reconhecimento do meio/espaço onde o ser humano está inserido, desde um simples círculo social à intensidade de sua própria consciência.

    No primeiro momento, na leitura casual, o contato visual com a ilustração do Poema me propõe a caminhar sobre temas como: Universo/Força/Ser. E os primeiros versos me conduzem a uma Poesia que busca uma espécie de efeito reconciliador com o pensamento.

    Sussurrar a primeira estrofe é a mesma coisa que formar, baseada na imagem que tenho retida na minha memória [wallpaper], uma paisagem que me permite prosseguir no meu comentário. A dinâmica dos versos contidos nesta imagem acrescenta à Poesia um clima em temperatura ambiente confortável o bastante para me assegurar de que minha visão é fiel à sensível semelhança que se estabelece entre as palavras: perfume/essência; cristal/marfim/vida longa; lágrimas/opacidade. Tudo isto para aperfeiçoar os versos seguintes que corroboram com a pureza na liberdade de tornar uma hipótese uma certeza [“Talvez a razão do fim do mundo, afinal não exista, / E só para todos nós e todas as coisas haja um fim!...”].

    Neste instante, silencio. O medo de errar em meu trajeto/sentimento me acovarda, e resulta num medo ainda maior: no pânico de ser banida deste espaço.

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    O sistema estético adotado no Poema se diferencia dos demais, e me indica o caminho. Tal qual como as rochas que corroem ou são quebradas pelo vento ou pela água, e os cristais, expostos à superfície, são arrastados e transportados para os rios ou riachos, passíveis de formar novos depósitos secundários; na força encontrada na longevidade dos elefantes que não temem o futuro; na defesa do marfim, o perfume dos jardins de minhas lembranças!

    Assumo a responsabilidade do diálogo, não com o administrador de d’Alma ou com o autor dos Poemas d’Alma, mas com a minha própria consciência, numa ânsia de, durante o percurso de minha leitura, encontrar uma margem que me restaure a confiança ao monólogo.

    Afinal, o autor que eu julgava originalmente acessível tem um profundo, e complexo, compromisso programático. Ss encruzilhadas podem ser muitas, mas nunca o suficiente para confundir, ou não manter bem definida sua intenção poética: Um pensamento, ou um momento de intimidade, que tem o dever de instrumentar a consciência.

    Resplendorosamente, através do embaciamento, surge a transparência da Luz e da Poesia. Teoria e prática, agora, convivem harmoniosamente no mesmo UniVerso [“Talvez a melancólica realidade não resista, / A esta melancolia existencial,”]. Não há explicação para o Poema, nem à Poesia. Há a leitura, interessada, da busca e do encontro com o melhor que posso retirar de cada aprendizagem. Ou da viagem que me permito fazer a cada paisagem que desvendo. Mesmo quando sei, ou não, que não seja do agrado de muitos. Ou todos.


    Bom fim de semana, António Pina.

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