terça-feira, 2 de abril de 2013

Contas

.
.
.


Não contava encontrar,
O velho contador;
Em tempos,
Contava estórias de encantar,
Contas de rico teor,
Sobre contas de rico senhor,
     Contas que dele sabia contar!...

-Olá, amigo contador,
Que contas,
Amigo sonhador?...
Que contas,
Sobre tuas ideias tontas,
    Com que foste sonhando?...

Com uma triste desilusão,
Baixou a cabeça e acenou que não,
Há anos que deixara de sonhar,
 E foi contando:
.
.
.
 -Conto que já nada tenho para contar,
Já não conto os anos que passam,
Não conto os que estão por passar,
Faço de conta que conto,
E conto que conto,
E volto a contar,
Conto as horas que deixei de contar,
     Conto que parei de sonhar;
Já ninguém me tem em conta,
Dão-me um desconto,
E volto a contar,
Só não conto,
Nem desconto,
As contas que ficaram por pagar!...
E conto mais:
Conto que olho,
E volto a olhar,
Conto que vejo um pote,
Cheio do frio que ficou,
Sobre cinzas que a fome não levou,
E volto a contar,
Conto que raspo-lhe o fundo,
Todo raspado pelos donos do mundo,
E volto a raspar,
Conto que conto e volto a contar,
Conto que os olhos de um filhote,
Raspados no fundo do pote,
Me contam ser olhos de fome,
E volto a contar  a tristeza no olhar,
De quem já nada come,
Conto que vejo olhos que choram,
 E voltam a chorar,
Conto que já pouco conto,
E nada mais quero contar,
E conto que conto,
  E volto a contar!...
Conto com quem não me conta,
Que ainda conta comigo para contar,
Conto com quem não me paga a conta,
Essa conta que não conta,
Para as contas que não posso pagar,
 E continuo a contar,
Conto que conto,
Que não ter que contar,
   É um conto que me vai matar!...

E conto e volto a contar,
Conto que não contem comigo,
Porque nem comigo eu conto,
   Para as minhas contas pagar!...

E conto que conto,
  E volto a contar…
 .
.
.
 

1 comentário:

  1. Um poema como conto, ou como uma narrativa de um evento, ou de uma crise, ou uma conta, que a cada dia que passa soma pobreza e miséria ao país, e subtrai dignidade humana. E como em qualquer narrativa, d’Alma, através de seu olhar crítico, organiza, seleciona e simplifica com “Contas”, mostra como pode um poema contar numa página a história de uma economia à beira da falência e desmitifica a ideia de uma profissão, ou de um profissional, que deveria ‘construir, ampliar e preservar o patrimônio e solucionar problemas financeiros ou econômicos’, entre outros.

    Matemática, Razão e Proporção fundem-se como objetos poéticos e juntos, confirmam que a verdade histórica nem é relativa, nem ficcional, nem inacessível. Mais que um ângulo de observação, um registro político e social, liberdade de explicar os conflitos e, ao moldá-los de acordo com sua visão, a possibilidade, a partir da transferência de conhecimento, de REcriar um novo mundo.

    E nem a poesia escapa da matemática, numa conta, e neste caso, que soma propriedade intelectual, criatividade e sensibilidade.


    Boa noite.

    ResponderEliminar