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Perto do sol que arrefecia,
Esgueirando-se do pôr do olhar,
Pelo desencanto dos olhos escorria,
Uma pequena lágrima que de tanto
cintilar,
Teimava em fazer olhos apagados brilhar,
Escondidos na noite triste que sentia,
Algum amor que neles se erguia,
Longe do desejo de amar!...
E ali ficava um corpo a arrefecer,
Gelando a esperança nas veias
entristecidas,
Esvaziado de sua longínqua vontade de
desejar,
Sem a vontade de encher-se com o desejo de viver,
Ali nos braços das más recordações consentidas,
Ao abandono das horas felizes esquecidas,
Que amor algum deixaria esquecer!...
E ali se punha o sol sem aquecer,
Lançando raios de uma sedução cintilante,
Sobre a pequena lágrima em deslize
periclitante,
Já muito perto de cílios vencidos pela
indiferença;
E o raio dos raios sedutores,
Sementes de tão ofuscada descrença,
Na certeza de terem desferido a
derradeira sentença,
Afastaram-se em suas vestes de sombra
triunfante,
Alheios à sombra da mais silenciosa das
dores,
E do grito sem destino engolido à
nascença,
Para ser grito de gritos libertadores,
Mas sempre tristes!...
E ali ficaram os olhos caídos,
Entregues à Vida de uma lágrima resistente,
Tão lágrima de uma vida desistente,
Ingénua de puros sentidos,
E do sentimento doente,
Que
não chora pelos vencidos!...
E
venceu!!!...
Quando se deixou cair,
Nos lábios já do beijo esquecidos,
Foi beijada por desejos sequiosos,
E outros desejos a reluzir,
Reanimados e luminosos,
Um novo olhar posto no porvir,
que graças à graça de intenso sentir,
Um novo olhar posto no porvir,
que graças à graça de intenso sentir,
Por uma pequena lágrima foram renascidos!...
Peço a Deus,
Que perdoe pecados meus,
Que te seja lágrima de olhos em mim,
Perdão me concedido aos olhos teus,
E que para sempre nos olhe assim,
Com a Esperança até ao fim,
No perdão em olhos Seus!...
Com a Esperança até ao fim,
No perdão em olhos Seus!...
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Quando a heroína da história é uma pequena lágrima que,subtilmente,passa de objecto a sujeito do sentir,a expectativa cresce,em relação à continuidade do enredo que se quer Verdade...
ResponderEliminarImagem de vida,a ultrapassar a ficção...
Preciso parar de ler os poemas d’Alma. Ou ler sem movimento, e sem sentimento.
ResponderEliminarMas não sei como.
Não como deixar de ler, isso é fácil. Não sei como, ou não me imagino, ler sem entrar no Poema. Sem o movimento da leitura, e do arrepio da pele. Sem sensação. Sem emoção. Ler por ler. Sem interesse, e se tiver de comentar, se achar necessário que diga qualquer coisa como ‘lindo’, ou ‘gostei muito’. O que não seria nenhuma mentira, porque gosto de todos os Poemas, e os considero, de fato, lindos.
Mas é pouco. À intensidade de como são escritos, e do que eles me provocam, não podem e nem devem ser resumidos apenas a uma ou outra palavra. É preciso mais. Muito mais.
Num mundo onde predomina a frieza, a insensibilidade, a distância, a não importância, o desprezo, a não observância dos valores pessoais, a diluição do caráter, os Poemas d’Alma, ao mesmo que é reflexo dessa sociedade, é também chama e chamamento, atenção, lição e exercício de inteligência, sensibilidade controlada, razão e afeto, crítica e oposição, resistência, e consciência da liberdade e da responsabilidade adquirida através do conhecimento. Revelação. Desmitificação. E Desmistificação.
Não é pouco. É muito.
E neste mais... ou nesta ânsia de devolver o que senti, e o que eles significam para mim, a certeza de que há poemas que não deviam ser lidos. Porque às vezes, e tenho pensado seriamente nesta hipótese, ler alguns de seus Poemas é um castigo, ou uma punição para a qual não tenho consciência da culpa. Ou do merecimento. Abre feridas. Faz doer. Sangra.
“Lágrima!...” não sangra para fora. A leitura interior acusa o recebimento da mensagem como dor, e me sinto bloqueada para comentar. Não por falta de sentimento. Mas por excesso. A luz ofusca minha visão. O brilho que reluz não é chama. É incêndio. Ao mesmo tempo em que opacidade. E umidade. A progressão de sadio à insanidade, [“E do sentimento doente, / Que não chora pelos vencidos!...”], supõe uma vida em morte, ou uma morte em vida.
Impossível segurar as minhas próprias lágrimas, e onde não existe nenhum lirismo para sustentá-las. Nem um colo macio e confortável.
E concluo, não ler é fuga. Não comentar, outra fuga. E não assumir o que este Poema representa na minha vida seria um grande erro. Nunca foi tão difícil sair de um Poema, ou me desvencilhar desta leitura, pela compreensão que somente a poesia, a d'alma, é capaz me mostrar.
É preciso deixar que cada lágrima realize uma lavagem no coração. Depois, limpar os olhos e acreditar que pode existir um final diferente para o Poema. E também para mim. Ou para todos aqueles que se reconheçam nele.
Bom fim de semana, A.
Já li várias vezes,em dias e horários diferente, mas não consigo comentar algo ao nível do seu poema.
ResponderEliminarEsta frase me chama a atenção:
Pelo desencanto dos olhos escorria.
Porque consegui ler.
Pelo canto dos olhos escorria. Fácil escrever assim, mas você fez e sempre faz diferente.
E consegui ler. Pelo encanto dos olhos escorria.
Desde que li “Lágrima!...” pela primeira vez tenho minha vida suspensa. Como se ela estivesse ficado ali, parada, entre aquela lágrima e aquele colo. Congelada. Não cai. Não molha. Não lava.
ResponderEliminarAquilo que questiono pela hipótese de não ser lido, continua a ser lido, e o que me seduz é sensação de continuar dentro do Poema. A manutenção da palavra nos poemas d’Alma, ou do dedo em riste, tem a mesma responsabilidade poética e humanística quanto o efeito da transformação através da reflexão.
Nenhum verso é modificado. Nenhum dedo é levantado em suspeição. Mesmo assim, o Poema evoluiu. E a cada nova evolução, uma leitura diferente para as mesmas sensações. Nada muda de lugar. Nem o sentimento se acomoda. Como um imã a me atrair para um castigo, embora o desconforto, ou o medo, pela suspeita da punição, ser menor que a curiosidade da leitura.
Fraqueza para alguns. Coragem para mim. Ainda procuro um final diferente para o Poema. Também para mim. Se não enfrento meus fantasmas estou condenada a ter pesadelos com eles para o resto da minha vida. Então leio. E releio. Sem pressa. Sem medo. Sem fuga.
E penso naquelas lições que sempre se sucedem à dor. Qualquer dor.
Há dias, aqui mesmo, durante algum comentário tive a certeza de que a intensidade da poesia d’Alma é tanta que nenhum chão é limite o bastante para acomodá-lo. Ser d’Alma requer seriedade e muita responsabilidade, mas é a sua sensibilidade ao amor à humanidade que o torna especial. E diferente. Quanto mais vida, mais poesia. Quanto mais poesia, mais vida. E mesmo de longe, ou tão profundo, a poesia se faz ouvida, e sentida! Enquanto algumas pessoas se esforçam para ser intensas, criativas e originais, d’Alma vem à superfície de cada um de nós e cala-nos a voz. Também os sentidos. Não os sentimentos. Esses ficam ali, à mostra, evidenciados pelo silêncio, e marcados para sempre na essência de cada um.
E é nesta essência que concluo meu comentário. Com o perfume das flores e do jardim. Nos versos abençoados, porque onde há Deus, há perdão e há Esperança. Sorrisos. E lágrimas. Suspensas ou não. Congeladas ou não.
E desisto de aprender a ler os poemas d’Alma sem movimento.
Boa semana.
Passei, li, e gostei da vida desta lágrima que se quer viva. Ela ilumina o poema e dá luz ao olhar do poeta.
ResponderEliminarHá quem diga que os homens não devem chorar...aqui prova-se; ao contrário da regra, que uma lágrima pode ser um símbolo de força, de renascimento e de esperança. Em cada olhar, onde impera a sensibilidade...
Deixo o meu abraço poético a A. Pina!