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Socorro!...
Quero de volta o rosto mil e tal,
Não é meu este carácter número um!...
Acudam-me!...
Acudam-me!...
Devolvam-me o efeito social,
Que acabe com este mal,
De ser ninguém,
No rosto de alguém,
Com sorriso leal,
Olhado com desdém,
Pela hipocrisia comum,
Que faz valer de nenhum,
O verdadeiro e original!...
Por favor!...
Deixa-me ser-te,
Ser-me vendaval,
Vento de todas as cores,
Máscara de teus amores,
Merecer-te…
Ser teus mil rostos interiores!...
Socorro!...
Onde está meu verdadeiro rosto?!...
Aliviem-me os elásticos desta vantajosa tara,
Procurem bem debaixo do meu desgosto,
Vejam atrás de meu lado mais exposto,
Para que possa por mim dar a cara!...
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Vivemos num mundo de hipocresias
ResponderEliminarEscondendo as taras e as fantasias
Vivemos moldados pela sociedade
Escondendo os sonhos
Acomodados em regras
Cheios de desejos a serem saciados
É a vida, é a vida!
(Gostei muito do poema)
O recurso à máscara como tema e fantasia, faz de “Atrás do Rosto” um poema que perpassa a forma e o sentido da propriedade de construção poética a liberdade dos duplos olhares sobre a realidade. O mundo exterior estimula a atividade imaginativa, mas não é de dentro para fora, nem do raso para o mais profundo. O processo é o oposto: de fora para dentro; e do profundo à superfície.
ResponderEliminarFazendo aquele percurso do ‘poema em mim’, ao qual nomeio de singularizar-me na coletividade, e do que ele pode me dizer, ou me provocar, sem fuga e sem saídas pela tangente, a face que habita a máscara surpreende. Não a minha, mas o do poema que ser livre de convenções. Um pedido de socorro pode ser tão assustador quanto revelador, pela fragilidade.
Mas a chama que ilumina a poesia d’Alma clareia e purifica.
Se máscara, é a da superfície: a própria pele habitada de sensibilidade física. A aflição do diálogo clama por ajuda. E autoajuda. E na união dos reversos, ou das imagens que se duplicam, d’Alma constrói uma poesia que ser quer perfeita, e livre, limpa e translúcida.
É isso que me encanta. É sentir a poesia d’Alma intensa em suas percepções, e não me perder. É a certeza de que ao submergir nada é indiferente, ou despercebido. Ou enfeite. Há sempre um propósito. E um verbo em comunhão com o mundo real e poético. E extremamente reflexivo.
Bom Carnaval, A.