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"…Sou mais uma porca perdida,
Abandonada no ferro velho da vida,
Porca de velho e solto parafuso perdido,
Eu sou mais uma solitária porca carcomida,
Volta de luz aberta à vida que se abria contigo,
E ao lubrificado parafuso que se enroscava comigo,
Dentro da minha jovial rosca de porca possuída!..."
Um corroído parafuso desenroscado,
Solta-se numa última volta ferrugenta,
Perde-se no desuso da velha ferramenta,
Ferro velho à porca da vida abandonado!...
A corrosão dos parafusos,
Corrói o amplexo das porcas,
Que perdem seus brilhos difusos!...
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Na maioria das vezes não sei comentar, mas aprecio a sua forma de escrever, abrange vários temas, sempre com criatividade.
ResponderEliminarabraço
Na mecânica da vida, a poesia é de engrenagem, e, à complexidade da máquina, em que peças diferenciadas, mantendo suas funções específicas, complementam-se entre si, o poema “Porca” é a história dos gêneros no processo biológico de desgastes progressivos [envelhecimento].
ResponderEliminarNão há como fugir, não há dignidade alguma em ser testemunha de histórias e experiências, a nostalgia do abandono motivado pela velhice assusta, e seus sinônimos mais ainda: solidão e exclusão.
A dinâmica.
Mulher: Envelhecer é deixar de ser desejada no modelo de estética cultural que preconiza a juventude como fonte de prazer e felicidade [“Em lubrificadas espirais que enroscavam comigo, / Dentro da minha jovial atarraxa de porca possuída!..."”].
Homem: Foco de preconceito, na velhice representa o trabalhador que se tornou improdutivo e obsoleto [“Perde-se no desuso da velha ferramenta, / Ferro velho à porca da vida abandonado!...”].
Entre porcas e parafusos e o que está implícito na arte de poetizar, situa-se a poesia que é d’Alma. Na matéria, ou nos materiais, protagonistas de tensão, a estrutura cíclica do tempo em seus opostos revela-se no desfecho. Subservientes com as políticas da jovialidade, não aceitamos que a cada dia perdemos um pouco do nosso brilho. Envelhecer faz parte de um processo do qual não queremos ser excluídos, por mais cruel que seja a corrosão. A ambos.
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O tempo passa...indiferente às camadas de ferrugem que fiacm em nós...
ResponderEliminarMuito obrigado pelo comentário que deixou no meu blogue! Existem palavras que nos sabem tão bem!
Bjs dos Alpes
E dói, a alma... Também nós enferrujamos... e somos abandonados em qualquer ferro, velho, da vida.
ResponderEliminarBom fim de semana.