.
.
.
Esqueletos com medo da morte,
Tão preocupados em não morrer,
Sabiam que algo os estava a roer,
Atroz dor até ao tutano consorte,
De tão pressentida dentada forte,
Do remorso incapaz de esquecer,
A carne que fora dada a comer!...
Quem se fartou da carne bem viva,
Digere fome no caminho contrário,
Ossada em travessia num calvário,
Onde velhos ossos sem alternativa,
São uma reminiscente vã tentativa,
De esqueleto fechado no armário!...
Na vontade do remorso,
Está bem vivo o apetite da fome,
Que até aos ossos tudo come!...
.
.
.
um poema demolidor.
ResponderEliminarboa semana!
Um convite à construção de um conceito e ao raciocínio, e “Remorso” tortura, instigando-nos a reviver experiências degradantes através de um processo de conscientização. Um tema que desorienta mais que acalma. A poesia d’Alma tem dessas coisas. Coisas que mudam de lugar e que, entretanto permanecem no mesmo lugar de origem. Sem contradição. Sua lucidez nos induz a uma reflexão que acusa a falta de nitidez interior, contrária à clareza de percepção de nossos armários, que são estimulados a serem revisitados. Melhor não ter consciência à consciência de não assumir nossos erros só cogitando os acertos. Lamentável, mas infelizmente acontece com mais frequência do que podemos supor.
ResponderEliminarFácil falar sobre remorso quando não temos o que temer, fácil ler também. Difícil é sair imune à poesia e no caminho inverso, transformar versos em verdadeiras lições... morais.
¬
E quanto mais leio, mas me convenço de que seus poemas, d'Alma, muito têm a nos ensinar. Obrigada.