sábado, 23 de julho de 2011

...à Deriva

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Um barquinho feito de sonhos,
Zarpara na tempestade do olhar,
Navegou entre pesadelos medonhos,
E toda a água que os olhos viram no mar,
Lhe salgaram as lágrimas que o fizeram chorar!...

Barquinhos de papel,
Feitos de cartas que não receberam,
Derivam nas palavras que não escreveram,
Endereçadas ao Amar azul do céu sempre fiel,
Confissões escondidas na mensagem cruel,
Que os olhos dos barquitos não leram!...

Barquitos que à deriva transportam amor,
Essa carga excessiva divagada em Alto Amar,
Naufragam nos olhos de um profundo estupor!!...

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2 comentários:

  1. Gosto quando leio algo que me vejo, e por me ver me emociono, e por me emocionar o que leio fica mais bonito, superando a beleza do bonito que o autor tenha escrito, sentido...só porque me vejo.

    E acho que no fundo queria ter escrito.

    Comecei a me emocionar desde a imagem, o olhar, o mar, e o barquinho, tão pequeno. Porque (no meu sentir) o olhar aumentou tanto o mar que o barquinho se perdia em emoções-mar.

    abraço

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  2. Entre a despedida e o encontro com “Sereias de Areia”, um passeio em alto mar e o poema “...à Deriva” complementa a série poética com semelhança temática que deu início com o poema “...navegar”.

    Semelhanças à parte, diferenças também, o palco é lembrança à “Linha e Horizonte”. O que antes era guardado pelos olhos [“Zarpara na tempestade do olhar,”], agora é de indiferença [“Lhe salgaram as lágrimas que o fizeram chorar!...”] e solidão.

    A fragilidade das palavras escritas reflete na própria fragilidade do meio de transporte [“Barquinhos de papel, / Feitos de cartas que não receberam,”], mas ainda que sujeito a tempestades, a fidelidade de seu remetente não o fazia desistir [“Endereçadas ao azul do céu sempre ao mar fiel,”]. Quantas palavras, quanto amor e até desamor, quanta alegria, quanta dor, quanta vida vivida e imaginada dividida “Que os olhos dos barquitos não leram!...”. A linearidade do poema, se antes esperava pela poesia, desfaz-se meio a ponte em sua travessia.

    A sensibilidade não é apenas um recurso poético àqueles que sabem como usufruir dela, é uma resposta a quem não sabe qual é o seu lugar no mundo. Ou no mar. Ou ainda no oceano. Bem como a falta dela. O porto, nesse caso, deve ser um lugar seguro. Mas como saber sem antes navegar, ainda que sob o risco de naufragar? Não basta adivinhar as embarcações ou consultar a meteorologia, é preciso ler “...à Deriva”.


    ¬

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