quarta-feira, 19 de junho de 2013

Gargalhadas...


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Como saber,
Como sentir e entender,
As gargalhadas que ouvimos,
Tão silenciosas do que sentimos,
Oposto sentir oposto ao contradizer,
Se nos damos às lágrimas quando rimos,
     E nos entregamos ao riso sem nos apetecer?!...

Todas as gargalhadas vão rindo por oposição,
Opõem-se ao louco do riso que ri de tanto rir,
Riem-se ao contrário do contrário de mentir,
Gargalhadas loucas formadas sem expressão,
Em feiras despidas de siso,
Vestidas de tão louco riso,
Trinam-se esganiçadas em riso que as vai despir,
Deliram com o delírio que delira com a opressão,
Gargalham na esperança da gargalhada as vestir,
 Aí vão estridentes e loucas à procura de servidão,
Servem-se de suas gargalhadas com sofreguidão,
  Para gargalhar da loucura que louca as vai servir,
e…
São bem servidas de improviso,
Gargalhadas de corpo presente,
Ecoam em loucura e sem aviso,
Esvoaçando num voo impreciso,
     A voar numa sanidade aparente!...

Cai um silêncio triste sobre a gargalhada calada,
Silencia-se cabisbaixa a sapiência com amargura,
Exala um último suspiro numa revolta amalucada
Desvanece-se culta a voz numa última gargalhada,
Sente-se na pele o arrepio da realidade mais dura,
Rasgam-se seus velhos lábios sábios numa risada,
    Gargalha-se de si a gargalhada louca sem cultura!...
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quarta-feira, 12 de junho de 2013

A Sorte...




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Perguntaram a todos que a viam,
Sobre a vida que só alguns conheciam:
-Nasceu velha como a morte,
Dela diziam,
-Quem a teve, teve essa sorte!...

Vivia-se viva por ela abençoada,
Destinada a ser tudo perto de nada,
Campo livre aberto ao desejo mais forte,
E à impaciência da vereda mais apressada,
Nasceu já atalhada com mágico recorte,
Pensam-na em abraço e abraçada,
E por ela existem na passada,
       -Quem a tem, tem essa sorte!...
Diziam dela,
Com alguma cautela,
   Alguns já perto da morte!...

Enrolou-se já velha à velha mortalha,
Da vela feita da mais branca espuma,
Esmorece o seu pavio que se esfuma,
Há uma luz a perguntar a quem calha,
Se sabem da velha Luz que lhe valha,
Cinzas a sul dizem ter sorte nenhuma,
Dizem que os ventos a viram a norte,
Dizem que sua voz dissipava a bruma,
Dizem que era uma voz de despedida,
E disse uma vida sem sorte alguma:
-Procurei-te por toda a vida,
      E só encontrei a minha sorte!...
-Eu sou a Vida,
Dizem que disse,
-Sou mais velha do que a morte!...


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quarta-feira, 5 de junho de 2013

Cancro


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Meu cancro e eu,
Inseparável inimigo,
Em mim e só meu,
  Aconteceu!...
Sempre comigo,
Leva-me consigo,
Sou alimento que é seu,
Sou seu abrigo,
Alento que arrefeceu,
Quase jazigo,
Quase morreu,
   Meu cancro amigo!...

Quase morri,
Quase vivi,
Medo de viver,
Vida que não vi,
Medo de morrer,
Inesperado castigo,
Medo de ver,
Descuido sentido,
Fizeste a vida crescer,
    Meu cancro amigo!...

Vive cem anos em mim,
Teu escravo eu serei,
Serei teu bondoso rei,
Para que não sejas ruim,
E contigo viverei,
   Nossa vida sem fim!...

Um cancro achou-se indigno,
Não merecia alimentar-se da maldade,
Sabia ser um destino demasiado benigno,
Para corações tão ausentes de bondade,
Sua força crescia na doente verdade,
     Morreu triste o cancro maligno!... 
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