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Como saber,
Como sentir e entender,
As gargalhadas que ouvimos,
Tão silenciosas do que sentimos,
Oposto sentir oposto ao contradizer,
Se nos damos às lágrimas quando rimos,
E nos entregamos ao riso sem nos apetecer?!...
Todas as gargalhadas vão rindo por
oposição,
Opõem-se ao louco do riso que ri de tanto
rir,
Riem-se ao contrário do contrário de
mentir,
Gargalhadas loucas formadas sem
expressão,
Em feiras despidas de siso,
Vestidas de tão louco riso,
Trinam-se esganiçadas em riso que as vai
despir,
Deliram com o delírio que delira com a
opressão,
Gargalham na esperança da gargalhada as
vestir,
Aí
vão estridentes e loucas à procura de servidão,
Servem-se de suas gargalhadas com
sofreguidão,
Para gargalhar da loucura que louca as vai
servir,
e…
São bem servidas de improviso,
Gargalhadas de corpo presente,
Ecoam em loucura e sem aviso,
Esvoaçando num voo impreciso,
A voar numa sanidade aparente!...
Cai um silêncio triste sobre a gargalhada
calada,
Silencia-se cabisbaixa a sapiência com
amargura,
Exala um último suspiro numa revolta
amalucada
Desvanece-se culta a voz numa última gargalhada,
Sente-se na pele o arrepio da realidade
mais dura,
Rasgam-se seus velhos lábios sábios numa
risada,
Gargalha-se de si a gargalhada louca sem cultura!...
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Na verdade improvável
ResponderEliminarnem todos os espelhos
são os melhores
para nos rirmos
de nós próprios
mas de quando em vez
qualquer um serve
para acordar os silêncios
estilhaçar as palavras
Como máscara e como arma de defesa contra os modelos socioculturais, “Gargalhadas...”, longe de uma fantasia, e mais trágico que cômico, manifesta-se através da crítica e oposição às hipocrisias e às mentiras que favorecem e estimulam os relacionamentos convencionais. Do outro lado, ou no oposto, o Poema coloca pelo avesso o que é instituído como verdade, absoluta ou natural, e questionando sua originalidade, desperta à reflexão, e a poesia assume, nessa dimensão, uma posição social privilegiada.
ResponderEliminarA nudez, precedida pela solidão do verso [“e...”], e que mais parece um jogo de sedução, onde as palavras ‘vestem-se e despem-se’ sem nenhum pudor, pode ser vista como um conjunto de recursos que têm como objetivo definir a gargalhada, não como reflexo de alegria ou felicidade, mas como representação e encenação.
O que garante ao desfecho uma decepção, aparente, acentuada pela responsabilidade da denúncia, nunca da confissão, no riso, ainda que solitário, como meio de comunicação na capacidade crítica de contrariar a hipocrisia. Onde, o Olfato [“Exala um último suspiro numa revolta amalucada”], o Tato [“Sente-se na pele o arrepio da realidade mais dura,”], o Paladar “[Rasgam-se seus velhos lábios sábios numa risada,”] e a Audição [“Gargalha-se de si a gargalhada louca sem cultura!...”] se ampliam numa Visão serena, e feliz, de uma inesquecível... “gargalhada”!
Bom fim de semana.