quarta-feira, 5 de junho de 2013

Cancro


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Meu cancro e eu,
Inseparável inimigo,
Em mim e só meu,
  Aconteceu!...
Sempre comigo,
Leva-me consigo,
Sou alimento que é seu,
Sou seu abrigo,
Alento que arrefeceu,
Quase jazigo,
Quase morreu,
   Meu cancro amigo!...

Quase morri,
Quase vivi,
Medo de viver,
Vida que não vi,
Medo de morrer,
Inesperado castigo,
Medo de ver,
Descuido sentido,
Fizeste a vida crescer,
    Meu cancro amigo!...

Vive cem anos em mim,
Teu escravo eu serei,
Serei teu bondoso rei,
Para que não sejas ruim,
E contigo viverei,
   Nossa vida sem fim!...

Um cancro achou-se indigno,
Não merecia alimentar-se da maldade,
Sabia ser um destino demasiado benigno,
Para corações tão ausentes de bondade,
Sua força crescia na doente verdade,
     Morreu triste o cancro maligno!... 
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1 comentário:

  1. Da minha janela experimento o poema d’Alma. E um céu de outrora se estende sobre minha varanda. Em minhas lembranças cantam os pássaros, ainda que aprisionados em seu viveiro, e uma fina camada de emoções e sensações cresce para mim acima desse poema. Acima, não ao lado, nem abaixo, não em uma experiência inovadora, ou que não vivi, não como a criação do devaneio poético, ou tema de eleição do poema. Acima, e bem maior. E se julgo que há semelhanças, na verdade são imensas as diferenças. Entre mim e todos aqueles sentimentos que acreditava estar sob meu domínio: medo, ansiedade, ao mesmo tempo que coragem e esperança. E aí a poesia existe e me diz que acima do devaneio está a realidade. Sem importar qual a realidade, se da imaginação ou fantasia, ou da dor que corrói células e proezas.

    E junto com a realidade, a oportunidade de refletir, e de procurar, não respostas, ou perguntas que até agora não foram feitas, mas a compreensão que tem a obrigação de me encaminhar para outro percurso. Senão à aceitação, ou à resignação, e muito menos como solução de um problema, mas à poesia que subestima uma doença, ou um processo doentio, em detrimento da aprendizagem em harmonia com sua convivência.

    A poesia vive. E vive no sossego do dia. No intervalo entre um verso e outro. E nesse sentido, da reflexão à realização da poesia, o poema congrega toda a fantasia, e por ela, graças à intervenção da palavra que se faz verso, restauro a confiança perdida na vida. Então, assim como a enfermagem é a ‘Arte do Cuidar’, o poema “Cancro” é a mais pura expressão de acolhimento, sensibilidade e vínculo.


    Cumprimentos d’Alma.

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