segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Dar Pérolas...

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Emprestava à educada adulação que dava,
Toda a beleza celestial que dos anjos adultos não tinha,
Redigia aroma a alfazema por cada palavra que perfumava,
Oferecendo vigor ao deleite das flores em Primavera de rainha,
Que levitava em volta do nascer dos sóis que seu reino mantinha,
E deixava despedidas ternas ao fiel súbdito que por elas se cultivava,
Rodeando-se do servil infinito que às doces palavras adulações dedicava,
Por cada sol posto que deixava em misteriosos perfumes de uma adivinha,
Guardada na cor de frasquinhos invisíveis das essências que não adivinhava,
    Fechando todas as palavras num livro onde sua palavra não estava sozinha!...

Oferecia às palavras uma outra versão da verdade que lhe ia na Alma,
Escrevendo lisonjas amorosas no branco dos olhos escancarados ao Sol,
Com que aquecia o engodo iluminado da estimas douradas do dócil anzol,
Na certeza de pescar os amores que nadavam nas repescagens da calma,
Confiantes nos senhores de si e das senhoras erguidas da luz de um farol,
     Para ambos flutuarem na rede das correntes brilhantes vivas em seu prol!...

Enfiadas na dupla transparência das linhas escondidas,
As mais lindas pérolas que no cerne das palavras se formaram,
Mostravam todo o Amor dedicado ao infinito das conchas perdidas,
Sempre abertas de amores às contas de vidro e outras pérolas prometidas,
Anunciadas pelo carinho ilustrado dos colares que aos mimos recebidos colaram,
Espalhando graças reluzentes na sombra grata do desassossego que as alteraram,
Com o sossego das passadas promessas ensombradas por pérolas esquecidas,
Apagadas da memória na folha que em suas páginas separadas voaram,
Poisando entre as costas voltadas do segredo ao abrigo das intrigas,
Onde dormiam sossegadas no espelho das entre costas amigas,
   Reflectindo adulações educadas das palavras que amaram!...

Às vezes pressente-se uma agitação consentida próxima do naufrágio,
E os porcos inocentes que se debatem entre a culpa das conchas antigas,
   Emergem lustrosos em quadros das tão lustrosas pérolas coladas ao adágio,
       Ofertas doces em elásticas lâminas de facas escondidas na doçura das ligas!...

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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Porém...

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O fim do Amor,
Acaba com o perfume das flores,
É como se...
Ao cortar uma flor,
Caísse no coração uma semente de dor,
      E se colhessem todas as dores!...

Porém...
É no jardim da Alma que refloresce,
   O Amor que por ela mesma, flor se merece!...
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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Entre...

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Deixou-se poisar onde o chão se acaba,
Entre serenos beijos onde o Céu começa,
Hesitante é o corpo fremente que tropeça,
Nos purgatórios que a desejam libertada,
Entre um pouco do fogo que se propaga,
Pelo sangue de uma abrasadora promessa,
Inferno desejado que por ela não se apaga,
   Antes que a perda do seu desejo a impeça!...

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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Veredito:Velho

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Ergueram-se fronteiras à última caminhada,
Do percurso em que toda a felicidade partilhou,
Sua juventude,
Plena de saúde,
Foi por todo o consumo estimada,
Ao cair nos braços do abismo que restou,
Lembrou-se de todos os filhos que criou,
Algures entre a fímbia que a abraçava,
À beira das trevas da memória futura,
E o infinito da profunda amargura,
Que lhe beijava a face enrugada;
Pareceu-lhe ver um Amor que nunca a beijou,
Desejou tanto ser abraçada,
Por mais um pouco da vida que fora desperdiçada,
Mas apenas o abismo a abraçou!...
Os anjos dizem que procurou
Um rosto algures no fim do fundo,
Dizem que por momentos o encontrou,
Ao sentir nas costas a mão que a empurrou,
Para o passo em frente onde começava o fim do mundo!...

Soltam-se ecos silenciosos no abismo,
O paradigma da meia idade reza em silêncio,
Pelo renascimento do velho Humanismo!...

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Asas do Pensamento

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Nem sempre as asas acompanham o voo do pensamento,
Pássaros que já não sabem porque se esqueceram de voar,
  Esvoaçam sobre o silêncio do céu sem o azul encantamento...
Há nuvens dispersas desvanecidas por não saberem chorar,
 O retrospecto infinito dos olhos onde o Sol deixou de brilhar,
 Voa com as penas fragmentadas no voo do deslumbramento,
Transparece de fascínio a liberdade que seca no afastamento,
Das asas e dos leves corpos livres sem força para desanuviar,
O mistério que paira entre o desejo de voar e o voo cinzento,
  Asas etéreas que do mistério da Alma não se sabem afastar!... 


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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Luvas

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São tão insustentáveis as luvas do pugilista!...
Os ossos do povo entram no pequeno quadrado,
O primeiro directo é certeiro e fica sem uma vista,
Vê as sombras por cordas que o deixam encurralado,
Ameaças dos “segundos fora” ordenam que não desista,
E muito antes que o milagroso toque do gongo o assista,
Um golpe traiçoeiro nas partes baixas deixa-o capado;
A toalha branca limpa restos de caviar derramado,
Espumantes traidores celebram a conquista!...

1, 2, 3, 4... e antes que se ouvisse a voz do dez,
Todo feito num oito, levantou-se aos nove sobre os pés,
Ainda mal refeito dos tremeliques nos seus pobres joelhos,
Um par de uppercuts muito baixos fizeram-lhe cair os pintelhos,
A imagem desfocada do seu canto abandonado era um duro revés,
Ondulavam  grogues risos convexos como em divertidos côncavos espelhos,
Embora as dores nos esmagados testículos matassem,  não caiu e, ao invés,
Fustigado pelo murros do adversário atravessou o ringue de lés a lés!...

Um espartilho de cordas deixou-o imóvel a um canto,
Entre a saraivada de jabs e outros golpes mal encaixados,
As costelas acusavam os castigos e da direita caiam cruzados,
Os impactantes maus tratos de esquerda levantavam o espanto,
Que não deixavam cair aquele Povo para qualquer um dos lados,
Porque é assim, de pé, que os Povos sem nada são massacrados,
Depois de combinadas as garantidas apostas com todo o encanto,
Victórias arranjadas pela traição do dono dos derrotados!...

Do gongo chegou-lhe a muito custo um toque fraquinho,
Caiu em si, como se não bastassem os golpes que lhe caíam,
Percebeu a toalha desaparecida entre o espumante fresquinho,
E o desaparecido banco,
No seu solitário canto,
Onde...
Com o seu sangue e todas as partes que lhe doíam,
  Ali estava ele, um saco de pancadas com ele mesmo sozinho!...
Sentado sobre a dura realidade do verdadeiro caminho,
Levantou-se a custo até onde suas pernas podiam,
Entre cortinas de sangue avançou devagarinho...
Silêncio que vai...
Devagarinho...
Silêncio que vem...
Devagarinho...
Coragem era a única força que todos viam,
À volta do ringue os velhos cravos morriam,
A última rosa deixou cair a última pétala...
                                                                                        E o último espinho!...

E caiu!...




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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Gambozinos


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Rodeou-se o imaculado gestor de S. Bento,
De excelsos sábios e protectores génios divinos,
Hábeis decifradores de todos os enigmas dos destinos,
Que haviam enfrentado tempestades liderados pelo vento,
Lendas contam que cegaram o mais ambíguo olho agoirento,
E expurgaram o veneno do mau olhado entrelaçado nos hinos,
Canto das bandeiras envenenadas pelo mais ardiloso intento,
     Mas não há Povo que resista aos guardiões de gambozinos!...

É por demais evidente a imagem da realidade,
São gambozinos que o inquilino do palácio não vê,
Cresce a fome que alimenta fantasmas da tempestade,
Nas costas reais de um génio já careca de tanta vaidade,
     E as pedras de S. Bento não querem perceber porquê!!...
É estranho o analfabetismo do sábio que não lê,
As bizarrices geniais dos analfabetos mais finos,
Carecas que deixam o cheque do Povo à mercê,
     Da negação existencial de milagrosos gambozinos!...

Lá para os lados de Belém,
Outro investidor rodeou-se também,
De outros investidos génios e sábios iguais,
Venerados economistas de públicas falências reais,
Protegidos pela  careca Justiça deste Povo refém,
   Dos invisíveis Gambozinos e outros que tais!...

A realidade perdeu o tino da imagem,
Só os promovidos gambozinos são imagem real,
Acreditar na genialidade destes sábios é ser o aval,
    De todos os cheques carecas deste pelado Portugal!...
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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Azul


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Para lá de todo o céu azul do olhar,
Na imensidão azul onde se coloria a loucura,
Perdiam-se sonhos imensos em azul d’Amar,
Azul em despedida reflectido nos azuis do ar,
Vistos partir no coração azul de uma aventura,
Veleiro azulado que um desejo azul procura,
     Azul que antes do adeus vê seu azul voltar!...

Vai-se desvanecendo o azul no fim do dia,
Olhos guardam imensos azuis enternecidos,
Uma lágrima azul voa sobre azuis da maresia,
Beija o distante horizonte azul com nostalgia,
E sente suaves azuis de sentires indefinidos,
Tornarem-se a brisa de sua azul companhia,
   Até amanhecerem seus azuis agradecidos!...

No alto das falésias azuis e no azul dos cais,
Olhos de todas as cores esperam o azul eleito,
Com a azul Esperança de quem espera demais,
Azul que não basta ao azul que se cansa jamais,
Contemplação que tonaliza de azuis o conceito,
Dos seus azuis afectos matizados de azuis sinais,
    Que do outro lado contemplam o azul perfeito!...

Há azuis assim,
Azuis que palpitam no peito,
    Numa azul admiração sem fim!...
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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Vinho Botado

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Este vinho está botado!...
Vinho de baga bebido,
Memórias com meio sentido,
Enganos de um mundo pintado,
Quadro falso de um pintor falhado,
Que nunca pintou um Amigo!...

Este não sou esse pintor,
Sou quem dispensa tamanho Amor!...

E tu, não sendo quem deverias ser,
Sendo ninguém e pouco mais de nada,
Tal amizade é tua concepção deturpada,
Da verdade que os teus ohos deviam ver,
Mas a tua visão doentiamente errada,
Enterrará teu sóbrio viver!...

Este não sou esse pintor,
Sou quem dispensa tamanho amor!...

No copo mais vinho botado,
Vinho agre de esforçado fingimento,
Fingindo ser um bom vinho confiado,
Á confiança da memória no tempo,
Que desconfiando do pensamento,
Bebe amizade em vinho desquebrado,
Como quem bebe copo de nada botado,
Amigo perdido num definhar sedento!...

Este não sou esse pintor,
Sou quem dispensa tamanho amor,
Neste derradeiro vinho que está botado,
Cheiinho do transbordante nada que resta,
Tinto de tanta tinta sem cor,
Pintando tingida nódoa de dor,
Na ilusão de uma tela que não presta,
Pintado lamento de um pobre pintor,
Quadro pobre de origem modesta!...

Desbotado vinho botado,
Em pacto de sangue desfeito,
Baga pelas falsas castas adoptado,
     É vinagre botado ardendo no peito!...

Talvez seja eu esse botado Pintor,
     Quem dispensa tamanho amor!...
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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sabor

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O acre do doce poema com hortelã e pimenta,
Não chega à porcelana do fino poeta breviário,
Quão breve é o sal nas vagas do seu dicionário,
E o vinagre que dos fortes vinhos dão à ementa,
Preferindo temperar os versos com água-benta,
E a poesia fidalga com um insípido vocabulário,
   Dietético pé-de-salsa de tão débil alma sedenta...
Como é generosa a poética da branca fidalguia,
Uma aguada canja de galinha escrita no aviário,
Dada à prova desgostosa da língua que lamenta ,
O sabor de todos os bons sabores da sabedoria,
Saber que não se perde no sabor da especiaria,
Condimento atrevido de um doce verso solitário,
E mais versos salgados com igual doce ousadia,
    Acepipes inelutáveis de um poético glossário!...
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