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São tão insustentáveis as luvas do pugilista!...
Os ossos do povo entram no pequeno quadrado,
O primeiro directo é certeiro e fica sem uma vista,
Vê as sombras por cordas que o deixam encurralado,
Ameaças dos “segundos fora” ordenam que não desista,
E muito antes que o milagroso toque do gongo o assista,
Um golpe traiçoeiro nas partes baixas deixa-o capado;
A toalha branca limpa restos de caviar derramado,
Espumantes traidores celebram a conquista!...
1, 2, 3, 4... e antes que se ouvisse a voz do dez,
Todo feito num oito, levantou-se aos nove sobre os pés,
Ainda mal refeito dos tremeliques nos seus pobres joelhos,
Um par de uppercuts muito baixos fizeram-lhe cair os pintelhos,
A imagem desfocada do seu canto abandonado era um duro revés,
Ondulavam grogues risos convexos como em divertidos côncavos espelhos,
Embora as dores nos esmagados testículos matassem, não caiu e, ao invés,
Fustigado pelo murros do adversário atravessou o ringue de lés a lés!...
Um espartilho de cordas deixou-o imóvel a um canto,
Entre a saraivada de jabs e outros golpes mal encaixados,
As costelas acusavam os castigos e da direita caiam cruzados,
Os impactantes maus tratos de esquerda levantavam o espanto,
Que não deixavam cair aquele Povo para qualquer um dos lados,
Porque é assim, de pé, que os Povos sem nada são massacrados,
Depois de combinadas as garantidas apostas com todo o encanto,
Victórias arranjadas pela traição do dono dos derrotados!...
Do gongo chegou-lhe a muito custo um toque fraquinho,
Caiu em si, como se não bastassem os golpes que lhe caíam,
Percebeu a toalha desaparecida entre o espumante fresquinho,
E o desaparecido banco,
No seu solitário canto,
Onde...
Com o seu sangue e todas as partes que lhe doíam,
Ali estava ele, um saco de pancadas com ele mesmo sozinho!...
Sentado sobre a dura realidade do verdadeiro caminho,
Levantou-se a custo até onde suas pernas podiam,
Entre cortinas de sangue avançou devagarinho...
Silêncio que vai...
Devagarinho...
Silêncio que vem...
Devagarinho...
Coragem era a única força que todos viam,
À volta do ringue os velhos cravos morriam,
A última rosa deixou cair a última pétala...
E o último espinho!...
E caiu!...
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