quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Copo da Porta

.
.
.





Ao último copo bebido perto da porta,
O vinho transbordava da cheia vontade,
Por tanto que antes de tanto fora bebido,
-Antes do último, portanto,
 Do último, a incerteza, contudo-
E outro tanto,
Foram-se os cálculos de ar sisudo,
Veio o riso livre e o desabafo com tudo,
E toda a zombaria ao silêncio com alarido;
Agora, zoina, ora hirto um dedo antes mudo,
Escondido na mão entre dedos sóbrios contido,
Ora agora que a verdade é o que muito importa,
Para dentro bem cheio de quase ter conseguido,
Adormece sem força e sem copo, a boca já torta,
     E lá se enrola a língua dentro do copo da porta!...

Num dia desses haveria de beber todos os dias,
Não restaria um só dia com entradas medrosas,
Chegaria o dia em que beberia as covardias,
Das portas malditas patentes às ironias,
    Sarcasmos de saídas corajosas!...

Ainda estão as portas abertas para os que entram,
Abertas ao último copo de quem bebe mais algum,
 São loucos os últimos copos que a saída enfrentam,
   Sem o tino que lhes diga se o último copo aguentam,
       Bebem tudo que podem e à saída arreiam mais um!...

.
.
.

domingo, 11 de agosto de 2013

Antúrios


.
.
.



Desconfiada do desinteresse de Adão,
Eva mandou destruir todos os antúrios,
À frente esmorecido e ao dependurão,
Escondia-se a natureza de um furacão,
Atrás exibiam-se atrevidos os augúrios,
Exuberantes por externos murmúrios,
Bem seguros, presos por alguma razão,
    Aráceos prazeres de prazeres espúrios!...

Sentados sobre híbridos antúrios belos,
Mostram-se entre antúrios escondidos,
Com os velhos antúrios são confundidos,
A vergonha de seus interiores paralelos,
 Liberta de preconceitos deveras fodidos,
     Ostenta antúrios no cu de seus castelos!...

Há novos paraísos nos catálogos,
Antúrios filhos de Adão e Eva genética,
     Beleza de estranhos prazeres análogos!...
.
.
.


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Lençóis de Lama

.
.
.



Lamacenta esta noite densa,
Empertigada a cama que me cobra,
-E me quebra-
Conto as voltas que voltam e a volta que me dobra,
Dobro-me até fechar-me em concha receptiva à tua presença,
Procuro-te na lama do teu desejo e em minha querença,
Teu corpo que se afasta beijando a lama que sobra,
Desliza até ao lodo repousado na indiferença,
-E lentamente se requebra-
Imiscui-se na lama que sua forma recobra,
Volta a ser lençol enlameado, nossa pertença!...

Repousa enlameada nossa Alma,
 Em enlameados lençóis de lama,
Uma voz enlameada que chama,
Adormece na madrugada calma,
     Com sonhos resvalados da cama!... 
.
.
.