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Lamacenta esta noite densa,
Empertigada a cama que me cobra,
-E me quebra-
-E me quebra-
Conto as voltas que voltam e a volta que
me dobra,
Dobro-me até fechar-me em concha
receptiva à tua presença,
Procuro-te na lama do teu desejo e em
minha querença,
Teu corpo que se afasta beijando a lama
que sobra,
Desliza até ao lodo repousado na
indiferença,
-E lentamente se requebra-
Imiscui-se na lama que sua forma recobra,
Volta a ser lençol enlameado, nossa
pertença!...
Repousa enlameada nossa Alma,
Em
enlameados lençóis de lama,
Uma voz enlameada que chama,
Adormece na madrugada calma,
Com sonhos resvalados da cama!...
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O poema me trouxe a questão do desejo, de desejos fortes, porém vistos como sujos. Um luta em lidar com os pensamentos desejantes e desejosos, que encobre o corpo também de desejo.
ResponderEliminarSem perder a noção da realidade, “Lençóis de Lama” descreve o sentimentalismo na intenção de conviver com a beleza, e a sensibilidade, que geram a emoção e promovem o acolhimento.
ResponderEliminarA cama. O sono. O lençol.
A cama é símbolo do repouso e do prazer: seja quanto à palavra, enquanto expressão de liberdade; seja quanto ao desafio que o poema, enquanto meio de comunicação, exige. O sono representa a inconsciência, a saída do corpo, e outra vez, a liberdade com que as palavras ganham asas e voam sem interferência com a realidade do mundo. O lençol, objeto de carícia, tecido de pele, que cobre, amacia e embala, refúgio, ou fuga, processo de envolvimento e conquista poética.
E a obra cumpre seu papel de provocar diferentes perguntas e respostas, até mesmo, as mais contraditórias possíveis. O poema arruma a cama, entoa o sono e amacia os dias, e estabelece com o leitor, não uma experiência, mas uma afinidade. O desejo de ser cama e sono. E tecido. Coberta. E o que é lama, também pode ser tema, poema, sentimento. E desejo. Amor. Muito amor. Ou, apenas o desejo de adormecer o sono, e devolver à cama, o estado de coma. Ainda assim, abrigo.
Boa semana, A.
Tantas são as mesmas es camas onde se deitam
ResponderEliminarque lá no fundo dos lençóis
lamacentos brilham às voltas
peixes de águas profundas
que vêm à tona resvalados
em forma de poema
Abraço