domingo, 18 de janeiro de 2015

Deus e os templos das divindades


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Deus ajoelhou-se aos pés da divindade,
Pediu-lhe toda a força que sua fé tivesse,
As pedras pesavam toneladas de vaidade,
Só movíveis com a força da humildade,
Pediu-lhe que homem humilde se fizesse,
Para construir-se do melhor que soubesse,
Bem assente que ficasse sobre a verdade;
Por um estranho momento,
Pareceu fazer-se claridade,
Da luz erguer-se-ia um monumento,
    Mas logo se levantou um obscuro vento,
         Que trouxe erosivas poeiras sem piedade!...

A divindade pediu mil homens capazes,
Fortes e humildes como só os escravos sabem ser,
De poucos sonhos e por ele dispostos a morrer,
Pediu mais mil capatazes,
E outros mil engenheiros audazes,
Exigiu as mais ricas pedras para escolher,
Mármores rosa em formas de perfeitos rapazes,
     E deusas de mármore esculpidas para não morrer…
E tudo morreu...
Menos o mármore sem vida!...

Não sabem as divindades que Deus deu,
A inocência à vergonha perseguida,
Decretam que Deus se escondeu,
Da maior derrota sofrida,
Pelo Filho que é seu,
Talvez sejas tu e eu,
    A luz e a luz da vida!...

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Rodeados por suas pedras amontoadas sem amor,
Divindades não vêm a Luz erguer-se em seu redor,
Crianças regam flores com um sorridente exemplo,
Deus sorri quando vê uma criança semear uma flor,
    E sorri ao vê-las crescer nos frios ermos do templo!...
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2 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  2. Desvendar na complexidade da obra de António Pina a fé e a esperança na humanidade é um desafio permanente e sempre, sempre incompleto. Não basta ler o Poema. É preciso entrar dentro das palavras e dos versos, e, de alguma forma, buscar a luz para se espelhar nas pedras. É preciso vivenciar, não a experiência poética, mas o sentimento que motivou a Poesia e conhecer, ou se aproximar um pouco mais do homem e do autor, de suas inquietações e de seu trajeto de vida. Percorrer, ainda que simbolicamente, “Deus e os templos das divindades” entre dicotomias e provar o conforto e o desconforto de alguns temas como virtude e defeito; inocência e malícia; bondade e impiedade são indispensáveis para acolher a mensagem que desafia a desconstruir a ideologia de que a Igreja congrega [“Deus sorri quando vê uma criança semear uma flor, / E sorri ao vê-las crescer nos frios ermos do templo!...”].

    Nesta perspectiva, elaborar um comentário, ao contrário da Arte que persuade, comove, intriga, movimenta, materializa, condena, mas também absolve e humaniza, porque embeleza e suaviza a realidade, poderia ser comparado a um sacrilégio.

    E mesmo que me justifique que, depois de ter trocado todos aqueles parágrafos, onde o que prevalecia era uma tradução grosseira do Poema, onde, em algum momento tive vontade de expressar que “Como se fosse possível tocar a Arte, segurá-la entre os dedos, acariciá-la a face e beijar-lhe as mãos...tamanha beleza e humanidade...”, na verdade, nada, nada que eu diga seria o suficiente para fidelizar o sentimento que me move a estar aqui, e persistir na minha busca, não às palavras de apoio ou incentivo, mas a mim mesma, enquanto força de expressão do movimento: A Igreja e seus dogmas não podem ser maiores que a força do Amor, indiferente por ser divino ou não.


    Bom sábado.

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