quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Duplo.Soneto.Português.Fantoche e Invertido


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  Sem a vergonha e vergonhosos!...
Manipulam-se, são manipulados,
Presos entre fios de criminosos;
     
    Já sem a vergonha, os encavados!...
Baixam as suas calças, silenciosos,
 Ainda antes de bolsos esvaziados,

   É novo desenho em novo mapa!...
Uma fábrica plena de fantoches,
Desarticulam Portugal à socapa,
Presos por fios, fazem broches,

   Portugal é a verdadeira saudade!...
Apaga-se o desenho da memória,
Vão-se os velhos fica a mocidade,
  Vai-se o orgulho, vai-se a história,

    São fios que manipulam a glória!...
Destroços caídos em memorial,
      Manietados com fios de victória!...

Os fios que estrangulam Portugal,
Seguram este Portugal por um fio,
Fia-se nos fios esse povo sombrio,
   Está por um fio a perda da moral!...

  Todos fantoches e pejados de cio,
  Tudo violações e numa orgia total,
  Os fios se movem em modo fatal,
     Movimentos sem alma nem brio!...

  Os fantoches são para exportar,
   Os fios são de importação imposta,
     E é o fantoche que os têm de pagar;

   Ficam as perguntas sem resposta,
  Á resposta não há que perguntar,
      Não há perguntas e o povo gosta!...
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1 comentário:

  1. Ao ler o Poema está desencadeado um processo que parece que nunca mais consigo me desvencilhar. É preciso um tempo de contemplação para me acostumar ao novo ambiente, ou à dinâmica poética pela qual sou levada a testar a luz, ou a iluminação onde incide o foco do interesse poético, e, com serenidade, respirar o novo ar. É preciso solidão, para através de um diálogo comigo mesma, eu consiga distinguir entre os versos, aquele que de mais perto fala comigo, à minha urgência, dependendo do meu contexto, ou da minha realidade, ou, à minha identidade. E, sobre os pontos de confluência, dentro deste ambiente sagrado, atingir a liberdade de comentar.

    Felizmente, o privilégio não é apenas do Poema “Duplo.Soneto.Português.Fantoche e Invertido”. Acontece com todos, e por todo o tempo de leitura. A profundidade das temáticas vence barreiras jamais imaginadas de serem ultrapassadas e atinge o mecanismo universal de comunicação. E nasce a Poesia. A partir de um impulso de linguagem, ou prática, e seja ela tão poética quanto individual, os versos estimulam uns aos outros, conduzindo-me a um caminho intuitivo com a harmonia e a reflexão. Nas linhas, ou nos fios, imaginários, ou não, a comunicação desenvolve-se livre de qualquer convenção com um conteúdo prévio.

    A lacuna fomentada pela experiência sociopolítica, campo fértil para a criação, contribui para a pavimentação desse espaço/lugar soterrado pelo tempo do progresso, onde a noção do tempo manipulado diverge do tempo cronológico. Por meio da Arte, o descompasso impregnado pelo tempo do massacre (cronológico) converge ao tempo da dimensão destrutiva contemporânea (manipulado). Os objetos, muito mais que meros elementos de ilustração, definem o papel da Poesia que se sobrepõe à realidade da experiência, e o resultado é um Poema de grande impacto social, indiferente à nacionalidade de qualquer leitor.

    Dos fios, dos objetos, a realidade da liberdade sobre a verificação dos valores desejados, não apenas à aparência do condicionamento que se mantém à margem dos acontecimentos, nem mesmo no desejo arbitrário da sociedade, mas na base dos valores que, à medida que são descobertos como obrigatórios, confirmam a existência e o desempenho da humanidade à conquista de uma liberdade responsável.

    E, mesmo depois que a janela se fecha, ainda permanece em mim aquele clima de profunda contemplação. Por seus temas, por seu envolvimento, por sua entrega, por tudo aquilo que a Poesia representa e pelas marcas que deixou em mim.


    Bom fim de semana.

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