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Houvera o relógio de necessitar da hora,
Quisera a hora o minuto para mais
utilidade,
Pelo minuto, o segundo não fora
contrariedade,
A paz de dentro não passara sem a imagem
de fora,
E não fora a tentação de levar aos
humildes a vaidade,
Tão cedo, o reflexo não existira em
espelhos de outrora,
Nem o ontem, dia o fora, não fosse
lembrado pelo agora;
O desamor sem princípio, decidira-se pela
finalidade,
Atrasara-se em sua forma necessária da
demora,
Matara
o tempo a criar a demais necessidade!...
Todo o fogo do inferno, o Sol cobiçara,
Com todo o gelo do mundo, o iceberg
sonhara,
Com todo o amor da paixão, com toda a
paixão, amara,
Todo o ódio, com todo o ódio do ódio, o
ódio odiara,
Com todas as lágrimas, todas as lágrimas
chorara…
Mas nada lhe bastara!...
Nada pudera ser igualdade,
Por tudo, a tudo, nada se igualara,
Tão infinita fora a insaciável
necessidade,
Da necessidade insaciável que necessitara!...
No
presente, pelo que a desnecessidade indica,
Já
muito despida de preconceitos, a verdade nua,
Indiferente à necessidade que se perpetua,
Apodrece nessa necessidade que fica,
Pela necessidade que continua!...
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A leitura de “Pretérito Imperfeito da Necessidade” desperta minha sensibilidade para o excesso, e o excessivo, ou para a fartura, enquanto perversão, e estabeleço com o Poema um vínculo, ou uma relação interessada e apropriada.
ResponderEliminarA ilustração, claustrofóbica e egoística, dividida em partes iguais, nivela a desnutrição com a fome, e o que pode ser ‘mais’, ou ‘muito mais’ também pode ser doentio, e aniquilador.
O tempo verbal eleito, avesso ao comum e diverso na mensagem, memoriza as ausências, ou as faltas, que presentificavam, ou que costumavam presentificar, o necessário por ser absoluto e irrestrito por ser essencial. E somos levados a dois momentos – um passado e um presente – onde se insere o princípio organizador do Poema e, misturando os tempos e temas, social e romance, a voracidade dos apaixonados enobrece a Poesia que se atualiza através da memória, ocupando um lugar privilegiado de abordagem crítica e construtiva.
O questionamento do passado nos conduz à compreensão do presente através do tempo e à discussão estética sobre os limites nomeados entre os diferentes, mas urgentes, e necessários, enquanto instrumento de reconhecimento do mundo e da habilidade poética. O predomínio poético, entretanto, consiste na reflexão: Vício ou Necessidade?
D’Alma, na verdade, reforça a imagem de um mundo onde as pessoas não sabem distinguir não o tempo verbal, mas a diferença entre, além da reflexão proposta, a relação doentia que existe entre a fome e o apetite. E é disso, que neste tempo, a Poesia se alimenta, enquanto nutrição para os amados, e mesmo, os desamados.
Boa semana.