sábado, 4 de outubro de 2014

Pretérito Imperfeito da Necessidade


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Houvera o relógio de necessitar da hora,
Quisera a hora o minuto para mais utilidade,
Pelo minuto, o segundo não fora contrariedade,
A paz de dentro não passara sem a imagem de fora,
E não fora a tentação de levar aos humildes a vaidade,
Tão cedo, o reflexo não existira em espelhos de outrora,
Nem o ontem, dia o fora, não fosse lembrado pelo agora;
O desamor sem princípio, decidira-se pela finalidade,
Atrasara-se em sua forma necessária da demora,
      Matara o tempo a criar a demais necessidade!...

Todo o fogo do inferno, o Sol cobiçara,
Com todo o gelo do mundo, o iceberg sonhara,
Com todo o amor da paixão, com toda a paixão, amara,
Todo o ódio, com todo o ódio do ódio, o ódio odiara,
Com todas as lágrimas, todas as lágrimas chorara…
    Mas nada lhe bastara!...
Nada pudera ser igualdade,
Por tudo, a tudo, nada se igualara,
Tão infinita fora a insaciável necessidade,
     Da necessidade insaciável que necessitara!...

 *

  No presente, pelo que a desnecessidade indica,
 Já muito despida de preconceitos, a verdade nua,
Indiferente à necessidade que se perpetua,
Apodrece nessa necessidade que fica,
    Pela necessidade que continua!...
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1 comentário:

  1. A leitura de “Pretérito Imperfeito da Necessidade” desperta minha sensibilidade para o excesso, e o excessivo, ou para a fartura, enquanto perversão, e estabeleço com o Poema um vínculo, ou uma relação interessada e apropriada.

    A ilustração, claustrofóbica e egoística, dividida em partes iguais, nivela a desnutrição com a fome, e o que pode ser ‘mais’, ou ‘muito mais’ também pode ser doentio, e aniquilador.

    O tempo verbal eleito, avesso ao comum e diverso na mensagem, memoriza as ausências, ou as faltas, que presentificavam, ou que costumavam presentificar, o necessário por ser absoluto e irrestrito por ser essencial. E somos levados a dois momentos – um passado e um presente – onde se insere o princípio organizador do Poema e, misturando os tempos e temas, social e romance, a voracidade dos apaixonados enobrece a Poesia que se atualiza através da memória, ocupando um lugar privilegiado de abordagem crítica e construtiva.

    O questionamento do passado nos conduz à compreensão do presente através do tempo e à discussão estética sobre os limites nomeados entre os diferentes, mas urgentes, e necessários, enquanto instrumento de reconhecimento do mundo e da habilidade poética. O predomínio poético, entretanto, consiste na reflexão: Vício ou Necessidade?

    D’Alma, na verdade, reforça a imagem de um mundo onde as pessoas não sabem distinguir não o tempo verbal, mas a diferença entre, além da reflexão proposta, a relação doentia que existe entre a fome e o apetite. E é disso, que neste tempo, a Poesia se alimenta, enquanto nutrição para os amados, e mesmo, os desamados.


    Boa semana.

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