sábado, 27 de setembro de 2014

Ombros Caídos


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Sobre as dormideiras, move-se o asfalto,
O corpo perfumado nunca esteve tão arável,
O prazer dos caminhos é de um negro agradável,
Sob uma picada de agulha expande-se um planalto,
Papoilas suspensas crescem na calva planície inabitável,
Abismos de prazer, tomam-nas num abismal sobressalto
Dependem e deixam-se pender,
Suspensas, deixam-se anoitecer;
De braços afiados, escólimos adivinham a vertigem lá no alto,
Secam-se em seus abraços abertos à queda pouco provável,
Vertiginoso é o desejo aguçado, do se perfume já falto,
A papoila negra solta uma pétala inviolável,
      E procura-se na eternidade do amanhecer!...

Passo com a apatia de meus passos entre pétalas caídas,
Não me importo com meus ombros cansados que caem,
Passo ao lado dos passos das flores perseguidas,
Concluo-me aos olhos das possíveis saídas,
   Por onde os sonhos perdidos não saem,
      E desisto das batalhas perdidas!...
    
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1 comentário:

  1. O poema se polariza sobre a questão social e individual, permeado pela expressão corporal à disposição da metáfora do “Ombro Caído”. Nesse núcleo emocional, transita a poesia, ou d’Alma, pela Arte verbal, quase oral, e confessa, a visão poética é orientada para a realidade sensível, sutilmente modificada.

    As reticências pontuam o silêncio. E calam. A história coletiva denuncia. Mas é o sentimento individual quem sugere e dá margem à reflexão.

    A imagem dos cardos, ou dos escólimos, se funde e se mistura à paisagem das trevas, e, acentuando o poder dos sentimentos conturbados e decadentes provocados pelo efeito do vício ou da dependência, na aspereza de um tempo indiferente ao sonho, ou à alucinação, a poesia aprisiona a travessia de perdas contínuas. E dói.


    Bom fim de semana.

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