sexta-feira, 25 de março de 2011

Ladrão e Erva


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Ladrão e Erva,
Já fartos do paraíso,
Fizeram da serpente sua serva,
Então, já despidos de reserva,
Escolheram perder o juízo,
E, num acto de improviso,
Com cannabis de conserva,
Quase pecaram de riso!...

Com o siso já pedrado,
Erva sentindo a folha a arder,
Viu seu fumo ser fumado,
Seu veio verde ser roubado,
Pela tentação de a comer;
O ladrão sempre a gemer,
Ao rasgá-la com seu pecado,
Descobriu na Erva o prazer,
Crescendo em solo sagrado!...

Foi a pobre da serpente,
De aspecto tão repelente,
Condenada a pagar as favas,
Por tantas folhas fumadas,
Ficaria velhinha e indolente,
Sem concubinas ou escravas!

Só pode ser a maldição,
Perdida entre os pecados,
Da Erva e do Ladrão!...


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4 comentários:

  1. Show seu espaço, adorei.

    Obrigado pela sua companhia.

    Bom fim de semana.

    b eijooo.

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  2. “Ladrão e Erva” inaugura o ‘Paraíso’ d’Alma na lenda de Adão e Eva. A imaginação supera a criatividade. Não há experiência, nem experimentados. Mas há a parábola e assim, Re-inventa-se a história.

    Não estamos diante de um universo de aparências ou de uma representação dele. Há a imaginação. E há a tentação. Sem culpa. Sem religião. Entretanto, a realidade e a moral não são sublimadas. Implicitamente fazem parte do contexto temático “Ao rasgá-la com seu pecado, / Descobriu na Erva o prazer, / Crescendo em solo sagrado!...”.

    O alvo é o humor [“Foi a pobre da serpente, / De aspecto tão repelente,”], sem objeto de crítica, ou de ironia. Um estilo diferenciado e inovador na poesia que é d’alma, mantendo, porém, o comprometimento com o intelecto e o literário.

    O corpo poético é erótico. O prazer sexual, transmitido de geração em geração, e a ‘erva’ que não é o fruto proibido, mas sim, o sexo sem o propósito da procriação “Pela tentação de a comer,”. A diminuição do vigor sexual, proveniente da senilidade [“Ficaria velhinha e indolente,”] não provoca a prostração, mas a indignação “Só pode ser a maldição,”.

    O poema incomoda, porque aponta para algo que desconhecemos [“Por tantas folhas fumadas,”] ou que não aceitamos. Acima de qualquer vício está o espaço da criação que transcendendo a poesia, revela seus mistérios e seu mundo. A esses, a exclamação e as reticências prevalecem sobre o UniVerso.


    ¬
    Bom domingo, A.

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  3. ..só pode ser maldição perdida..perdida neste espaço ..onde minh'alma de pedra se tornou fonte!

    Um beijinho
    da
    Blimunda

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