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domingo, 4 de novembro de 2012

Castanhas de teu Ouriço

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Desapegada no destino pelo ramo de seu senhor,
 Ainda verde fora despida de seu respeitado manto,
Que, delicado, causou cobiçadas causas de espanto,
Ainda que vestida em matizes de castanho tentador,
Brilhava sob carícias de orvalho fresco e feliz pranto,
Natureza livre dada à liberdade em antecipado alvor,
Sentindo-se a pretendida tal o seu pretensioso rubor,
    Enfeitou a madrugada com o seu outonal encanto!...
 

 Casta castanha que do castanheiro se desprendeu,
Nascendo para ser casta igual a tantas castas iguais,
Geminada em três irmãs geminadas em outras mais,
Atilados espinhos de viçoso ouriço que por elas sofreu,
Envolvendo as suas protegidas que sempre protegeu,
Em respeitado seu peito de suspeitos espinhos fatais,
Jurara ele separar-se delas se nelas sentisse seus ais,
   Promessa cumprida à sua Natureza que o convenceu!...
 

 Apetites viciosos da boca ougada por ti ougada,
Exposta a carne despida da mais fina pele tua,
É desejo seco pela tua bravia forma descarada,
Secando no desejo irresistível de castanha pilada,
Pilados desejos febris no teu sol de castanha nua,
Vai secando paciente na fornalha fria que desagua,
Como fogo que chega no vento da corrente soada,
Ecos ávidos colhendo-as entre a carícia disfarçada;
Subtis movimentos beijam o cú tenro da castanha,
Colhe-se o ciúme que por outras castanhas a amua,
Ciumenta sedutora no seu ouriço que se arreganha,
Sobre brasume que seu corpo adoçado acompanha,
No fogo aceso em noite quente de castanha assada,
   Ardem de desejo os lábios que por ela se assanha!...
 

 Diferente de suas irmãs vestidas com casca talhada,
Castanha morsegada por dentes que a hão-de morder,
Será cozida em deliciosos desejos de a lamber;
Castanha cortada em fino corte de navalhada,
   Assará em deliciosos desejos de a comer!...
 

Castanha esquecida,
Que olhos não quiseram ver,
Doce castanha virgem consumida,
Atirada para a viva fogueira abrasada,
Incha numa incontida e quente gargalhada,
   Que se soltará ao rebentar numa boca mais atrevida!...
 

 No souto farto em solo de teu incansável coração,
Castanhas piladas envelhecem para um prazer tardio,
Guardando-se para especiais momentos de paixão,
      Momentos quase silvestres de prazer vadio!...
 

 Frutos teus que conservam teu misterioso feitiço,
São tua enfeitiçada e doce tentação,
Castanhas de teu ouriço!...
 
 
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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Folhas de Outono


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Aquele magro rosto cansado,
De uma pálida serenidade natural,
Adormeceu na tristeza de um leito fatal,
Entristecido pela beleza de um Outono sulcado,
Na despedida serena de um derradeiro adeus finado,
   Pintado nas cores caídas daquele sorriso final!...

Arrefecida folha caída de Outono,
Desnudada de qualquer desejo sem dono,
E entregue ao vento frio que parado a acaricia,
É inerte imagem adormecida de uma memória sem sono,
Finalmente despojada da insónia que sobre cetim adormecia,
Esse eterno repouso branco da infalível e sempre eterna profecia,
Sepultada na crença ressuscitada das predições ao abandono,
Nas cores verdes da primavera emprestadas num assomo,
    De Esperança, na esperança de ter vivido mais um dia!...

Uma lágrima de cera liquefeita,
Jaz na queda de uma folha desenhada,
Nas últimas linhas de uma página desfeita,
Tangida pelos sinos em despedida imperfeita,
Empresta ao lúgubre destino daquela folha rasgada,
Pedaços de terra indiferente caídos da lágrima cavada,
Que a vela padecida sem tempo ao fim do tempo foi sujeita;
Voam pássaros negros numa interrompida lágrima congelada,
    Flutuando no vazio do nada que no nada dos olhos se deita!...

Envolta em silêncio jacente,
Cobria-a um murmúrio cinzento,
Abafado por um letárgico desalento,
De consentido e meigo sopro clemente,
Último influxo de cera esvaído num momento,
Derretendo na tristeza de um regresso comovente,
Acariciado pela suave brisa pousada levemente,
    Sobre uma folha de Outono levada pelo vento!...

Fecha-se a saída à folha onde o corpo jaz,
Entrada fechada às lágrimas em seu redor,
Deixando que pranteadas chaves de Amor,
Reclamem lembranças de um sorriso fugaz,
Por entre portas abertas em alvores de Paz,
   Felizes recordações libertadas daquela dor!...

Uma folha de Outono levada pelo vento,
Afagando levemente as faces primaveris do rubor,
    Oferece uma nova Alma que voa nas asas do alento!...

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Quantas vidas despojadas,
Quanta tristeza enterrada viva,
    Quantas mortes desterradas!...

Quanta unha partida,
Quanta esgadanhada campa aberta,
    Quanta enterrada Vida!...

Quantas almas no desterro,
Quantas frias entradas sem saída,
    Quantas saídas em erro!...

Quanto frio errante!...
Quanta terra cortada à medida,
Quantas lágrimas à despedida,
Quanto silêncio dissonante,
Quanto pranto à partida,
Quantos ais de tristeza redundante,
Quanto brilho finado da vida cintilante,
Quanta lama inglória sob a guerra perdida,
Quantas trincheiras num coração palpitante,
    Quantas mãos segurando as cordas da descida!...

Quanta saudade por suprir,
Quanta imortalidade prometida,
    Quanta promessa por cumprir!...

De joelhos enterrados,
Como raízes numa campa rasa,
Rezas os medos de fins antecipados,
Dos santos mistérios de dias assinalados,
Na pena lacrimada que das lágrimas extravasa,
Espalhando caídas penas de uma ferida asa,
    Roubada ao voo triste de tristes fados!...

Quantos esboços traçados,
Quanta obra interrompida,
Quantos planos rasgados,
Quantos sepulcros escavados,
Quanta vida longa resumida,
     Quantos ânimos desanimados!...

Quanta funesta indiferença,
Quantos de teus ódios sulcados,
Quanta igualdade morta à nascença,
Quanta contrição definhando na doença,
Quantos de tantos remorsos desacreditados,
Quanta vergonha no epitáfio dos dias profanados,
Quantos milagres de santos da casa caídos em desgraça,
   Quantas valas comuns no coração de pecadores perdoados!...

Quanta, quanta...
    Saudade!...

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