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terça-feira, 21 de maio de 2013
domingo, 4 de novembro de 2012
Castanhas de teu Ouriço
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Desapegada no destino pelo ramo de seu senhor,
Ainda
verde fora despida de seu respeitado manto,
Que, delicado, causou cobiçadas causas de
espanto,
Ainda que vestida em matizes de castanho
tentador,
Brilhava sob carícias de orvalho fresco e
feliz pranto,
Natureza livre dada à liberdade em antecipado
alvor,
Sentindo-se a pretendida tal o seu pretensioso
rubor,
Enfeitou a madrugada com o seu outonal encanto!...
Nascendo para ser casta igual a tantas castas
iguais,
Geminada em três irmãs geminadas em outras
mais,
Atilados espinhos de viçoso ouriço que por
elas sofreu,
Envolvendo as suas protegidas que sempre
protegeu,
Em respeitado seu peito de suspeitos espinhos
fatais,
Jurara ele separar-se delas se nelas sentisse
seus ais,
Promessa cumprida à sua Natureza que o convenceu!...
Exposta a carne despida da mais fina pele tua,
É desejo seco pela tua bravia forma descarada,
Secando no desejo irresistível de castanha
pilada,
Pilados desejos febris no teu sol de castanha
nua,
Vai secando paciente na fornalha fria que
desagua,
Como fogo que chega no vento da corrente
soada,
Ecos ávidos colhendo-as entre a carícia
disfarçada;
Subtis movimentos beijam o cú tenro da
castanha,
Colhe-se o ciúme que por outras castanhas a
amua,
Ciumenta sedutora no seu ouriço que se
arreganha,
Sobre brasume que seu corpo adoçado acompanha,
No fogo aceso em noite quente de castanha
assada,
Ardem
de desejo os lábios que por ela se assanha!...
Castanha morsegada por dentes que a hão-de
morder,
Será cozida em deliciosos desejos de a lamber;
Castanha cortada em fino corte de navalhada,
Assará em deliciosos desejos de a comer!...
Castanha esquecida,
Que olhos não quiseram ver,
Doce castanha virgem consumida,
Atirada para a viva fogueira abrasada,
Incha numa incontida e quente gargalhada,
Que
se soltará ao rebentar numa boca mais atrevida!...
Castanhas piladas envelhecem para um prazer
tardio,
Guardando-se para especiais momentos de
paixão,
Momentos
quase silvestres de prazer vadio!...
São tua enfeitiçada e doce tentação,
Castanhas de teu ouriço!...
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terça-feira, 30 de outubro de 2012
Folhas de Outono
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Aquele magro rosto cansado,
De uma pálida serenidade natural,
Adormeceu na tristeza de um leito fatal,
Entristecido pela beleza de um Outono
sulcado,
Na despedida serena de um derradeiro
adeus finado,
Pintado
nas cores caídas daquele sorriso final!...
Arrefecida folha caída de Outono,
Desnudada de qualquer desejo sem dono,
E entregue ao vento frio que parado a
acaricia,
É inerte imagem adormecida de uma memória
sem sono,
Finalmente despojada da insónia que sobre
cetim adormecia,
Esse eterno repouso branco da infalível e
sempre eterna profecia,
Sepultada na crença ressuscitada das
predições ao abandono,
Nas cores verdes da primavera emprestadas
num assomo,
De Esperança, na esperança de ter vivido mais um dia!...
Uma lágrima de cera liquefeita,
Jaz na queda de uma folha desenhada,
Nas últimas linhas de uma página
desfeita,
Tangida pelos sinos em despedida
imperfeita,
Empresta ao lúgubre destino daquela folha
rasgada,
Pedaços de terra indiferente caídos da
lágrima cavada,
Que a vela padecida sem tempo ao fim do
tempo foi sujeita;
Voam pássaros negros numa interrompida
lágrima congelada,
Flutuando no vazio do nada que no nada dos olhos se deita!...
Envolta em silêncio jacente,
Cobria-a um murmúrio cinzento,
Abafado por um letárgico desalento,
De consentido e meigo sopro clemente,
Último influxo de cera esvaído num
momento,
Derretendo na tristeza de um regresso
comovente,
Acariciado pela suave brisa pousada
levemente,
Sobre uma folha de Outono levada pelo vento!...
Fecha-se a saída à folha onde o corpo
jaz,
Entrada fechada às lágrimas em seu redor,
Deixando que pranteadas chaves de Amor,
Reclamem lembranças de um sorriso fugaz,
Por entre portas abertas em alvores de
Paz,
Felizes recordações libertadas daquela dor!...
Uma folha de Outono levada pelo vento,
Afagando levemente as faces primaveris do
rubor,
Oferece uma nova Alma que voa nas asas do alento!...
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Quantas vidas despojadas,
Quanta tristeza enterrada viva,
Quantas
mortes desterradas!...
Quanta unha partida,
Quanta esgadanhada campa aberta,
Quanta
enterrada Vida!...
Quantas almas no desterro,
Quantas frias entradas sem saída,
Quantas
saídas em erro!...
Quanto frio errante!...
Quanta terra cortada à medida,
Quantas lágrimas à despedida,
Quanto silêncio dissonante,
Quanto pranto à partida,
Quantos ais de tristeza redundante,
Quanto brilho finado da vida cintilante,
Quanta lama inglória sob a guerra perdida,
Quantas trincheiras num coração palpitante,
Quantas
mãos segurando as cordas da descida!...
Quanta saudade por suprir,
Quanta imortalidade prometida,
Quanta
promessa por cumprir!...
De joelhos enterrados,
Como raízes numa campa rasa,
Rezas os medos de fins antecipados,
Dos santos mistérios de dias assinalados,
Na pena lacrimada que das lágrimas extravasa,
Espalhando caídas penas de uma ferida asa,
Roubada
ao voo triste de tristes fados!...
Quantos esboços traçados,
Quanta obra interrompida,
Quantos planos rasgados,
Quantos sepulcros escavados,
Quanta vida longa resumida,
Quantos ânimos desanimados!...
Quanta funesta indiferença,
Quantos de teus ódios sulcados,
Quanta igualdade morta à nascença,
Quanta contrição definhando na doença,
Quantos de tantos remorsos desacreditados,
Quanta vergonha no epitáfio dos dias
profanados,
Quantos milagres de santos da casa caídos em
desgraça,
Quantas valas comuns no coração de pecadores perdoados!...
Quanta, quanta...
Saudade!...
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