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Desapegada no destino pelo ramo de seu senhor,
Ainda
verde fora despida de seu respeitado manto,
Que, delicado, causou cobiçadas causas de
espanto,
Ainda que vestida em matizes de castanho
tentador,
Brilhava sob carícias de orvalho fresco e
feliz pranto,
Natureza livre dada à liberdade em antecipado
alvor,
Sentindo-se a pretendida tal o seu pretensioso
rubor,
Enfeitou a madrugada com o seu outonal encanto!...
Nascendo para ser casta igual a tantas castas
iguais,
Geminada em três irmãs geminadas em outras
mais,
Atilados espinhos de viçoso ouriço que por
elas sofreu,
Envolvendo as suas protegidas que sempre
protegeu,
Em respeitado seu peito de suspeitos espinhos
fatais,
Jurara ele separar-se delas se nelas sentisse
seus ais,
Promessa cumprida à sua Natureza que o convenceu!...
Exposta a carne despida da mais fina pele tua,
É desejo seco pela tua bravia forma descarada,
Secando no desejo irresistível de castanha
pilada,
Pilados desejos febris no teu sol de castanha
nua,
Vai secando paciente na fornalha fria que
desagua,
Como fogo que chega no vento da corrente
soada,
Ecos ávidos colhendo-as entre a carícia
disfarçada;
Subtis movimentos beijam o cú tenro da
castanha,
Colhe-se o ciúme que por outras castanhas a
amua,
Ciumenta sedutora no seu ouriço que se
arreganha,
Sobre brasume que seu corpo adoçado acompanha,
No fogo aceso em noite quente de castanha
assada,
Ardem
de desejo os lábios que por ela se assanha!...
Castanha morsegada por dentes que a hão-de
morder,
Será cozida em deliciosos desejos de a lamber;
Castanha cortada em fino corte de navalhada,
Assará em deliciosos desejos de a comer!...
Castanha esquecida,
Que olhos não quiseram ver,
Doce castanha virgem consumida,
Atirada para a viva fogueira abrasada,
Incha numa incontida e quente gargalhada,
Que
se soltará ao rebentar numa boca mais atrevida!...
Castanhas piladas envelhecem para um prazer
tardio,
Guardando-se para especiais momentos de
paixão,
Momentos
quase silvestres de prazer vadio!...
São tua enfeitiçada e doce tentação,
Castanhas de teu ouriço!...
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O poema se articula na relação entre a vida e a sensualidade, e a poesia, enquanto imaginação e representação cultural (uma vez que em algumas regiões, o ato de assar castanhas é completamente desconhecido), ou seja, como erotismo, e, com efeito, o alarme é visível.
ResponderEliminarA castanha fechada, em época de colheita, é sedutora aos olhos de quem a observa, e estimula o desejo de ser consumida, passível de contemplação e, consequentemente, estimuladora de pulsões inerentes ao desejo, ao apetite, ou ao desfloramento, para uma continuidade fisiológica, naturalmente desejada. A ser provada.
Na leitura dos implícitos, o que transcende o prazer furtivo é o amor, ou o desejo natural, que A. propõe a experimentar como fonte de prazer erotizado, do arrepio da pele, ou da alma, causado pela emoção, e a aflição provocada pelo ciúme ou pela ansiedade de ser preferida ou preterida. Projetado na natureza, o erotismo poético desvela a leitura e o sentimento que prevalece é de cerimônia, na imaginação como meio de satisfação e nas metáforas que elegem o ato sexual como um encontro mágico.
Assim, a poesia d’Alma, Arte da subjetividade, cumpre mais uma vez o seu objetivo, e enquanto encanta, envolve e move, ainda favorece o conhecimento de outro tipo de prazer, o de ter prazer, apenas, por ser desejada como “Castanhas de teu Ouriço”.
Boa semana.
Achei muito sensual. As metáforas favorecem a imaginação, desperta os sentidos, a depender do leitor a delícia de ler e de criar ou lembrar.
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