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Eu gosto de mentir,
Sou, por assim dizer,
Um mentiroso;
Minto a mim mesmo sem o saber,
Sou a verdade sem o pretender,
Um espesso silvado carinhoso,
Um ínfimo existir grandioso,
Tão certo do escurecer,
Desse enganador mais brioso,
Que, se não o
sou, sou a cobiça de o ser!...
Afinal, não havia
meio mundo a enganar outro meio?!...
Bons tempos esses, de mentira e meia desequilibrada,
Esvaziava-se meio mundo já de meios enganos cheio,
Acreditando na mentira, ela mesma enganada,
Hoje são poucos os que se dizem felizes,
Por engano, confessam-se em deslizes,
Desses poucos, os amigos do alheio,
Fazem o mundo muito feio,
Onde quase todos são raízes,
De árvores fustigadas por cicatrizes,
Dando frutos a mentirosos sem receio,
Que as regam com
metros de longos narizes!...
Haja alguém que, por engano, se engane,
Que me engane se eu não estiver enganado,
Por enganadores tem sido o mundo atraiçoado,
Há muitos quem, pelo muito de poucos, se esgane,
Preferindo um nó
corredio, a viver envergonhado!...
Eu gosto de mentir, mas…
Até quando minto digo a verdade,
Sou um mentiroso, a verdade seja dita,
Sou o silêncio de minha parte que grita,
Grito o silêncio que mente à realidade,
De muita mentira sempre desdita!...
De muita mentira sempre desdita!...
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Separados pelo tempo de leitura, escritor e leitor têm um encontro marcado no Poema “Equilíbrio da Mentira”, que pode ser de dor, ou de simples desconforto, ou mesmo de prazer, sempre dependente, claro, da posição em que o leitor se encontra.
ResponderEliminarO Poema chama a atenção pela convicção do ser e do não ser, e, neste caso, não por um estilo confessional, mas pela convergência que se forma na composição que não perde nem por um instante para a razão. Uma simples mentira tem o poder de colocar sob suspeita uma reputação inteira de honestidade, e d’Alma, a partir de uma infinidade de elementos avulsos, mas intrínsecos o bastante para ligar uma dúvida à pretensão da verdade, ou como meio para se atingir a verdade, exercita toda a sua habilidade num tema em comemoração ao Dia da Mentira.
Se no verso “Eu gosto de mentir, mas…” prevalece o jogo do vaivém, ou do dito pelo não dito, e se realiza no desfecho conclusivo pela ‘desdita’, os versos “Sou, por assim dizer, / Um mentiroso;”, ao mesmo tempo em que faz do Poema uma ficção, eleva a imaginação à realidade de uma verdade que nem todos estão preparados para suportar, ou conviver entre seus diVersos e consigo mesmo.
Para d’Alma não há equilíbrio sem contrariedade, ou sem oposição, o engano faz parte da ilusão de enganar. Uma imagem desconcertante, é verdade. A paisagem não favorece uma visão translúcida, como uma resposta simples, e vai no mais fundo de cada um buscar a essência de sua própria razão. E, antes de uma resposta opaca, a dúvida de muitas perguntas.
E, é aqui, que, no encontro, o leitor se separa do Poeta. A visão abre espaço à contemplação.
E a Poesia de braços abertos, como pêndulos proporcionais entre a razão e a emoção, faz voar sem tirar os pés do chão!