quinta-feira, 9 de abril de 2015

Leilão dos Corpos


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O corpo tem um preço incerto,
Tão certo quanto a incerteza do seu valor,
Na guerra da carne, vale tudo menos o amor,
A origem das cinzas, está das cinzas muito perto;
Alguns corpos são leiloados no deserto,
Evaporam-se em lanços de calor,
    E gelam de corpo aberto!...

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Retraem-se para o seu próprio desvão,
Trastes dos que querem que trastes sejam,
Leiloam-se no segredo do seu próprio pregão,
Vendem os dias aos que dizem que mais lhes dão,
Uns fogem sozinhos antes que outros os vejam,
Compram o que vendem com a sua solidão!...

Indecisos entre qual das mortes escolher,
Inquietam-se muito apressados e correm,
Escolhem ser lindas estrelas do anoitecer,
Entregam o corpo ao sol para não morrer,
Sentem os gélidos suores que escorrem,
O pesadelo do que não queriam ser,
Fogem da morte e morrem!...
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1 comentário:

  1. Descanso os dedos na tela, e por um instante penso em criticar o ‘wallpaper’. Mas desisto. Se a intenção é chocar, o efeito é imediato. Ao designar ao corpo um valor e a este, uma moeda de causalidades, apenas pela conquista de um prazer efêmero no âmbito da assertiva e da asserção que o representam, a leitura isolada da comercialização do corpo que me referiu, a mim também invoca.

    O corpo que fala, ou a voz que se faz ouvida, não quer se sentir à margem de um enunciado. Ao referir o corpo, refiro aos meus próprios conceitos, e ao me incluir na encenação da experiência da dinâmica, incluo meus preconceitos. Por essa razão, o objeto do meu espanto, ou o sentimento de repulsa à primeira vista, congrega a minha aversão ao tema. Se, na trama dessa Poesia, minha fala e meu corpo interagiram, nesse intervalo minha voz necessita ouvir a si mesma e sentir-se dentro do Poema e ter a pretensão (alguma) de ser protagonista e experimentar a dor e o caos de ser quem nunca foi, até porque para ter certeza de que está no caminho certo, ou não, como uma escritora que nunca foi. Ou como uma leitora que só sabe escrever a partir do movimento que as palavras, ou versos, do Outro, a movem.

    O Poema vem caracterizado, em todo o seu esforço gestacional, pela relação de escambo entre o corpo versus promiscuidade, ou desejo e amoralidade: estéril, mas meramente estético. A favor da Arte, A. Pina se utiliza de artifícios como indignação (leitor) e escravidão (corpo poético). Dois temas que se encontram distante dos aplausos da plateia, e, entretanto, provocam mais que qualquer outro[ ! ], por exigir, e corresponder, aos mecanismos artísticos de uma linguagem mais elaborada, abandonando o vácuo da escrita voltada para seu fim natural, e banal, muitas vezes.

    O tempo presente na Poesia deixa na narrativa uma sensação de perda irreparável [“Vendem os dias aos que dizem que mais lhes dão,”] e sem o exercício da afetividade, se espelha nas relações comerciais [“Compram o que vendem com a sua solidão!...”]. A marca predominante do gênero [“Escolhem ser lindas estrelas do anoitecer,”] não é motivo de exclusão: Homens e Mulheres são cúmplices ativos da volúpia.

    Assim, a Arte ocupa o lugar de Sagrado, ainda que o tom seja profano, por ser inegável, e inconfundível, o valor (moral) que a Poesia d’Alma agrega.


    Bom fim de semana, A.

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