sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Fimícolas


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As asas de donzelinhas reminiscentes,
Vagavam entre o carinho atirado às malvas,
Cândido, aquele jovem corpo em terras calvas,
Abandonado junto de todas as flores ausentes,
Recobrou a vida na candura dos inocentes,
    Com todas as flores que foram salvas!...

Descorçoadas as fimícolas inolentes,
Escondem-se de feitiços que as afligem,
Ao procurarem-se nos cheiros repelentes,
Apodrecem mudas em silêncios plangentes;
Em silêncio ergue-se do estupro, a virgem,
No olhar trás o veneno de uma serpente,
      Na virgindade imaculada trás a vertigem!...

Jardins brancos de uma só branca flor,
Cobrem a culpa de um forte corpo apodrecido,
Desse peito onde um coração teria implodido,
Outras flores maiores olham pelo seu amor,
     Sobre a sorte de mais uma flor ter nascido!...

No mistério de um jardim indefinido,
O céu azul cuida das vergônteas com primor,
Talvez Deus floresça de uma cândida luz interior,
E alguém que não O sinta em si florescido,
Só veja fimícolas à volta de sua dor!...


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1 comentário:

  1. A paisagem [wallpaper], que deveria ser um referencial sereno, surge inodora e nebulosa, e motiva solidão e melancolia numa estação do ano de isolamento e faz do jardim, antes desejado perfumado e povoado, um refúgio. Ou uma porta de entrada para provocar todos os tipos de fantasia de desamparo. E abandono. Como se nada houvesse para ser contemplado. Nem jardim, nem flores, nem aromas. Nenhuma natureza. Nem beleza. Nada a germinar. Nem florir.

    E é nesse instante que o contexto poético revela-se concreto, e por tão dramático, representa a fragilidade e o desespero de quem vive na fronteira entre algumas contradições, inclusive a da pureza, ou inocência, e no silêncio que se transforma em conduto de desfalecimento [“Em silêncio ergue-se do estupro, a virgem, / No olhar trás o veneno de uma serpente, / Na virgindade imaculada trás a vertigem!...].

    A hipótese de florescer do caos, ou da sujidade, é assegurada pela vertigem, que desencadeia no Poema uma transformação. E por sorte, ou por mérito, a surpresa do choque, ou da colisão com o chão, privilegia a florescência do jardim, agora quase perfumado por uma flor, ainda que se mantenha ‘indefinido’. Ou pela essência de origem duvidosa, ou pela ausência de uma cristandade que certifique a inocência como pura. E imaculada.

    Entretanto, Ele existe. E curiosamente, neste uniVerso de essência duvidosa, ou fé, em meio ao total abandono, é reservada à Poesia uma luz, ou uma potência de iluminação capaz de restaurar toda a beleza. E o aroma poético inebria toda a paisagem.


    Boa semana, d’Alma.

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