.
.
As asas de donzelinhas reminiscentes,
Vagavam entre o carinho atirado às
malvas,
Cândido, aquele jovem corpo em terras
calvas,
Abandonado junto de todas as flores
ausentes,
Recobrou a vida na candura dos inocentes,
Com todas as flores que foram salvas!...
Descorçoadas as fimícolas inolentes,
Escondem-se de feitiços que as afligem,
Ao procurarem-se nos cheiros repelentes,
Apodrecem mudas em silêncios plangentes;
Em silêncio ergue-se do estupro, a
virgem,
No olhar trás o veneno de uma serpente,
Na virgindade imaculada trás a vertigem!...
Jardins brancos de uma só branca flor,
Cobrem a culpa de um forte corpo
apodrecido,
Desse peito onde um coração teria
implodido,
Outras flores maiores olham pelo seu
amor,
Sobre a sorte de mais uma flor ter nascido!...
No mistério de um jardim indefinido,
O céu azul cuida das vergônteas com
primor,
Talvez Deus floresça de uma cândida luz
interior,
E alguém que não O sinta em si
florescido,
Só veja fimícolas à volta de sua dor!...
.
.
.
A paisagem [wallpaper], que deveria ser um referencial sereno, surge inodora e nebulosa, e motiva solidão e melancolia numa estação do ano de isolamento e faz do jardim, antes desejado perfumado e povoado, um refúgio. Ou uma porta de entrada para provocar todos os tipos de fantasia de desamparo. E abandono. Como se nada houvesse para ser contemplado. Nem jardim, nem flores, nem aromas. Nenhuma natureza. Nem beleza. Nada a germinar. Nem florir.
ResponderEliminarE é nesse instante que o contexto poético revela-se concreto, e por tão dramático, representa a fragilidade e o desespero de quem vive na fronteira entre algumas contradições, inclusive a da pureza, ou inocência, e no silêncio que se transforma em conduto de desfalecimento [“Em silêncio ergue-se do estupro, a virgem, / No olhar trás o veneno de uma serpente, / Na virgindade imaculada trás a vertigem!...].
A hipótese de florescer do caos, ou da sujidade, é assegurada pela vertigem, que desencadeia no Poema uma transformação. E por sorte, ou por mérito, a surpresa do choque, ou da colisão com o chão, privilegia a florescência do jardim, agora quase perfumado por uma flor, ainda que se mantenha ‘indefinido’. Ou pela essência de origem duvidosa, ou pela ausência de uma cristandade que certifique a inocência como pura. E imaculada.
Entretanto, Ele existe. E curiosamente, neste uniVerso de essência duvidosa, ou fé, em meio ao total abandono, é reservada à Poesia uma luz, ou uma potência de iluminação capaz de restaurar toda a beleza. E o aroma poético inebria toda a paisagem.
Boa semana, d’Alma.